
Imagine a responsabilidade de registrar um dos momentos mais importante — senão o mais importante — da vida de uma família: o nascimento de um bebê! Esse é o ofício de Fernanda Soli, 34 anos, que fotografa os instantes finais da gestação, a chegada do novo membro e a emoção de apresentá-lo ao restante da família. Trata-se, segundo ela, do registro "da travessia de uma mulher que, diante de toda a sua força, é cuidada, respeitada e amparada por quem está a seu redor", diz.
Fernanda, que se formou advogada, mergulhou de cabeça no mundo da fotografia de nascimentos de bebês quando teve a oportunidade de registrar um parto domiciliar de uma grande amiga em 2016. Desde então, não parou mais, somando, em média, 300 trabalhos na área.
"Eu sempre gostei de registrar tudo desde nova. Dizia que é porque ajudava na minha, não tão boa, memória. Certa vez, ganhei uma câmera profissional de aniversário. A partir daí, comecei a fazer cursos e me especializar, até que encontrei o meu nicho", relata.
Foi em um desses cursos que aprendeu a lidar com a baixa luz desses espaços (cirúrgicos ou não), sem interferir no momento, tão intimista, utilizando um flash, por exemplo. Outro desafio, esse ainda cotidiano, é a disponibilidade que o parto exige, visto que pode acionada de dia, de noite ou de madrugada, durante ou no fim de semana, não importando se é Natal, algum outro feriado ou o aniversário de algum familiar. "Tem hora que é: 'larga tudo e corre'. E outras que são: 'calma, ainda pode demorar algumas horas ou até dias'", conta.

"É verdade que existem partos a jato (que acontecem rapidamente), mas esses não são a regra e, muitas vezes, iniciam dias antes com os primeiros sinais que, desde então, não só eu, como fotógrafa da área, mas toda a equipe já fica alerta aos celulares — sempre fora do (modo) silencioso — e equipamentos para, a qualquer momento, ir ao encontro dessa família. É uma profissão linda e gratificante, mas, devido à imprevisibilidade, é essencial contar com o apoio de outras mulheres, inclusive, do mesmo nicho", pondera.
Para a fotógrafa, todos os partos são especiais, mas alguns, sem dúvida, marcaram-na para sempre, como o nascimento de gêmeos, a chegada de bebês em banheiras e os partos pélvicos — nos quais os pequenos nascem sentados, com as nádegas ou os pés para fora primeiro. Assistir e registrar a conquista de mulheres que lutaram anos para conseguir engravidar e, enfim, conseguiram, são, para Fernanda, outra grande realização.
"Houve também a vez em que registei um parto de uma amiga no mesmo dia que descobri estar grávida", conta, aos risos, a mãe de Bernardo, hoje com um ano e dez meses. "Depois que fui mãe, é inegável o quanto viver o outro lado me faz uma profissional melhor, porque eu sei o que aquela mulher e família está passando. Respeito e acolho", diz.
"Beleza em pleno voo"
Foi pelo olhar de Mila Petrillo, 66, que a cultura de uma Brasília, ainda jovem, se propagou Brasil afora. Fotógrafa há quase 50 anos, ela registrou a efervescência dos anos 1980, os ícones da música e do cinema nacional e os grandes grupos de dança e teatro que passaram pela capital. "Posso dizer que minha afinidade fotográfica vem do fotojornalismo, temperada pelas referências das artes plásticas e do cinema", conta Mila, que fotografou por seis anos no Correio.
O interesse por fotografia foi, como ela descreveu, "natural e talvez genético". Afinal, desde cedo teve acesso às câmeras de filmagem em 16mm, frutos da profissão dos pais, que tinham uma produtora de propaganda e cinema em Goiânia. Apesar de cobrir diferentes temas nos jornais em que trabalhou, sua especialidade sempre foi mesmo o mundo das artes, no qual, muitas vezes, atrelou tais registros a projetos sociais ligados à infância e à adolescência.

Em 2019, a fotógrafa publicou o livro ATO - Teatro e Dança por Mila Petrillo, com 181 fotos de espetáculos de teatro e dança contemporânea na capital. "Mila capta a beleza em pleno voo", descreveu o jornalista Severino Francisco na introdução da obra.
Trata-se de um conjunto de cores, expressões e, claro, movimentos imortalizados pelo cuidado e minúcia daqueles que se dedicam a pintar quadros.
Mila lembra que, no início da carreira, o espaço para mulheres na fotografia era bastante restrito. "Havia comentários do tipo 'não gosto de ver uma mulher tirando trabalho de um pai de família'. Mas, com uma semana, nos tornávamos amigos e eu era acolhida pelos colegas do departamento fotográfico", diz.
Quando questionada se se sente realizada profissionalmente, ela garante: "Super realizada! Porém, também desejo aprender e me aventurar muito mais. Me sinto em um momento especialmente criativo", revela.
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Paixão pelo esporte
Quem também capta movimentos importantes — daqueles capazes de, em poucos instantes, emocionar milhares de pessoas — é Patricy Albuquerque, especialista em fotografia esportiva há seis anos. Sempre atenta aos detalhes, ela carrega consigo uma imensa lente teleobjetiva, sua parceira de trabalho. Com o equipamento, registra, por exemplo, atletas no ar.
Torcedora do São Paulo, Patricy sempre foi chegada aos esportes, tanto que seus passatempos incluem fazer trilhas, ir a cachoeiras, pedalar e viajar. Participar de eventos culturais e esportivos são o plus (e parte do ofício).
"Sempre tive uma paixão pelo esporte e hoje vivo essa atmosfera e conto histórias com minha fotografia. Fotografar esporte é um propósito de vida, nunca será uma simples fotografia", destaca.

No final da Superliga de Vôlei 2022/2023, ela acompanhou a trajetória do Dentil Praia Clube durante toda a liga e, na final, pode contar a história da conquista das atletas.
"Foi muito emocionante. Andei no carro dos bombeiros com o time. Meu trabalho é justamente este: contar emoções e sentimentos do momento, sem precisar de qualquer palavra", define.
Questionada sobre o espaço das fotógrafas em um campo, por tanto tempo, majoritariamente masculino, Patricy revela que ter sofrido preconceitos, em especial, no início da profissão. "A forma que respondi foi através do meu trabalho, entregando o meu melhor e não abaixando a cabeça. Com isso, ganhei espaço e respeito".