
Por Gustavo Aguiar, especial para o Correio - A família Feitosa Coelho, de Planaltina, enterrou, neste sábado (22/3), o filho Adrian, de 10 anos. O destino se inverteu: pai, mãe, tios e avós tiveram que depositar em um pequeno caixão as esperanças, promessas e o último adeus a uma criança, depois que o menino foi eletrocutado por um fio de alta tensão, que se rompeu durante a chuva forte da última quinta-feira.
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Durante o velório, Marleide, a mãe, e o pai, Derek, não saíram do lado do filho morto. Eles não quiseram falar com a imprensa e pediram privacidade durante o cortejo. Muito emocionados, receberam o consolo de familiares e amigos. Além das saudades dos abraços de Adrian, carregaram o sentimento de revolta com o que alegam ser a falta de manutenção na rede elétrica do Distrito Federal.
A Neoenergia, responsável pelo serviço, cobriu os custos do enterro. Em nota, afirmou ter disponibilizado assistência social e psicológica à família e diz que colabora com as autoridades na investigação da causa da tragédia. Sugere que uma placa metálica, que teria sido arrastada pelos ventos fortes na quinta-feira e foi encontrada em cima da fiação rompida, pode ter sido o motivo do acidente.
Deise Coelho, 37, tia de Adrian, afirma que a empresa não agiu rápido o suficiente para cortar o abastecimento de energia. Diz que a fiação, mesmo rompida, permaneceu transmitindo corrente elétrica.
Família inconsolada
O sepultamento de Adrian foi no Cemitério de Planaltina. Sobre o caixão, muitas flores e a bandeira do Flamengo, time do coração do menino. O sonho dele era ser jogador de futebol. A paixão pela bola, ele compartilhava com o tio Flaézio, 32, com quem praticava o esporte aos fins de semana. À noite, podia ser visto com toda a família na igreja da Comunidade Evangélica Preciosa Graça.
“Ainda não dá para acreditar que ele se foi”, diz Flaézio. Ele conta que, no dia do acidente, havia acabado de chegar ao trabalho, em um restaurante na Asa Sul, quando o cunhado telefonou para lhe dar a notícia. “O meu chão abriu. Nem bati meu ponto, voltei correndo para casa. Perdi mais do que um sobrinho. Ele era meu amigo. Dos filhos da minha irmã, o mais carinhoso.”
A parte mais difícil, ele conta, foi explicar o que aconteceu com Adrian ao irmão Daniel, de 7 anos. “Eles eram muito ligados. Não sei como vai ser agora.” Vestido todo de branco, o menino podia ser visto correndo no gramado em volta da capela do cemitério ao lado de outras crianças. Além dele e dos colegas da escola e da igreja, Adrian deixa mais duas irmãs: Alice, de 3 anos, e Agatha, de apenas 1.
Tragédia
A tragédia aconteceu na Estância 4, bairro de Planaltina. O menino sofreu uma descarga elétrica fatal ao encostar em um veículo energizado no momento em que saía de outro carro próximo. A mãe quis socorrer o filho, mas foi impedida por testemunhas, que temiam um novo choque. O Corpo de Bombeiros (CBMDF) tentou reanimá-lo, mas Adrian não resistiu.
Segundo testemunhas, os fios rompidos com a chuva teriam se enroscado na antena e nas rodas de dois carros — em um deles, estavam Adrian e a mãe. A sobrecarga de energia gerou faíscas e fumaça, e os carros teriam começado a pegar fogo. Um dos pneus chegou a derreter. Marleide abandonou o veículo e gritou para o filho fazer o mesmo.
Em depoimento à polícia, a mãe de Adrian contou que decidiu parar o carro a cerca de 300 metros de casa, após ver pessoas acenando e gritando para ela abandonar o veículo. Assustada, ela saiu do carro às pressas e pediu que o menino corresse e se protegesse da chuva debaixo da marquise de uma loja. Foi nesse momento que, ao dar o primeiro passo, Adrian teria sofrido a descarga elétrica.