
Dos mais de 600 animais em uma área de 139,7 hectares no Jardim Zoológico de Brasília, Yaza era a queridinha do público. A única girafa do espaço desde 2018 deixa um vazio com sua morte, na noite desta segunda-feira (17/3), mas ficará marcada na memória de cada visitante que parou para fotografar e admirar o vistoso animal. Aos 21 anos, Yaza era considerada idosa e ultrapassou a expectativa de vida média da espécie sob cuidados humanos. O exame de necropsia é aguardado pela equipe de profissionais do zoo para verificar se há outro motivo da morte além do envelhecimento.
Nascida em 16 de julho de 2003, Yaza viveu seus primeiros anos no zoológico de Belo Horizonte. Após um ano, um programa de conservação da espécie possibilitou a vinda dela até Brasília. A girafa, que reinou absoluta por sete anos no zoo, era símbolo de educação ambiental e conservação, estimulando o público a ter mais interesse pela espécie e compreender os desafios que esses bichos enfrentam na vida selvagem.
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O diretor-presidente do Zoológico de Brasília, Walisson Couto, explicou que Yaza será lembrada por sua "imponência, doçura e presença marcante" no zoológico, encantando gerações de visitantes e contribuindo para a conscientização sobre a conservação da vida selvagem. "Ela tinha o hábito curioso de observar atentamente as pessoas com um olhar expressivo, como se estivesse interagindo diretamente com cada visitante. Seu jeito carismático conquistava a todos, e ela era um dos animais mais fotografados do zoológico", enfatizou.
Cuidados com os velhinhos
A expectativa de vida da girafa na natureza é pouco conhecida, mas estimada em cerca de 20-25 anos. “Em zoológico, uma chegou a viver 31 anos no Texas”, explicou Eduardo Bessa, professor de zoologia da Faculdade UnB Planaltina. Devido à terceira idade de Yaza, a idosa de 21 anos recebia monitoramento constante, alimentação balanceada, exames, biólogos e veterinários especializados para atendimento. Aliás, este procedimento é adotado para todos animais idosos do zoo.
O diretor do Zoo, Walisson Couto, enfatizou que a idade avançada de um animal torna-o mais suscetível a complicações de saúde. No caso específico da Yaza, apesar dos problemas relacionados à velhice, ela estava com o quadro de saúde estável. “Se alimentava e respondia bem aos tratamentos. Devido à sua idade, ela recebia uma dieta especial, suplementação nutricional, acompanhamento veterinário frequente e adaptações no recinto para garantir seu conforto e bem-estar”, afirmou .
Apesar do espaço do zoológico em que os animais vivem ser denominado de “cativeiro” para alguns, o professor de zoologia Eduardo Bessa afirmou que a conservação é um dos destaques do local. “Zoológicos são importantes centros de conservação fora do habitat natural daquele animal. Eles podem ajudar na reabilitação de animais feridos ou doentes, muitas das vítimas das queimadas na Flona foram tratadas no Zoo, por exemplo. Os animais em zoológicos podem participar de programas de reprodução em cativeiro e soltura posterior. Eles também são fundamentais para a educação Ambiental e a pesquisa”, salientou.
Saudades
A gestora de uma escola municipal de Goiás, Tháfnes Poliana Carbonaro, 37 anos, leva seus alunos da 5ª série ao Zoológico há três anos. Por ser o ano em que as crianças se formam antes de passar para a próxima etapa, a gestora se despede deles com um passeio ao zoo. A girafa sempre foi a preferida da turminha. “Nossos alunos vibravam de felicidade ao encontrá-la. Ter a oportunidade de ver um animal tão lindo de perto que só conhecíamos em livros e filmes era um sonho realizado. Impossível não se encantar com a girafa Yaza! Agora é olhar as fotos e lembrar da oportunidade que foi conhecer um animal tão lindo”, disse.
Enquanto isso, a equipe do Zoo está de luto coletivo, tanto internamente quanto com o público, reforçando a importância dos animais e promovendo ações para conscientizar sobre a conservação. A instituição recebeu mensagens de carinho e solidariedade em relação ao acontecimento. Eles informaram que “no momento, o Zoológico de Brasília está em tratativa para trazer girafas de outras instituições, mas ainda não há previsão.
Kalleby Rodrigues, 21, morador do Jardim Ingá, foi ao Zoológico nesta terça-feira (18/3) à tarde com uma câmera fotográfica para reencontrar a girafa e ver os outros animais. Ao chegar, ele descobriu sobre a morte do animal. “É triste demais. A Yaza era muito diferente e marcante porque estava aqui desde antigamente e era muito alta, eu sempre me imaginava como seria se eu encontrasse com ela na natureza. A girafa será muito simbólica para o zoológico, sobreviveu por muito tempo e ganhou até apelido”, lamentou.
Para guardar recordações
O recinto da Yaza se situava em um espaço próximo da pista de carros e da entrada. Assim, motoristas e passageiros avistavam o animal até mesmo na parte externa do Zoo. Para ser eternizada na memória dos brasilienses até mesmo fora do ambiente delimitado, o corpo da girafa será enterrado no próprio Zoo e, futuramente, será feito uma taxidermia para eternizá-la, expondo seus ossos no Museu de Ciências Naturais do Zoo.
Com o peito apertado e já com saudades, Mitsue Moret, 29, moradora do Guará descreve que, em sua primeira visita no Zoo, ficou apaixonada pela girafa. Ela pede para que façam uma estátua para homenagear o animal que esteve tanto tempo no Zoo. “O fato dela ser grande, amarela e suas pintas marronzinhos sempre chamou muita a nossa atenção, ela não tinha medo se chegasse perto. Podiam fazer uma estátua dela, seria bem bacana tirar fotos depois, como um animal que teve uma história ali e foi muito querida por todos que passavam para vê-la”, pediu.
O Zoo informou que também planeja homenageá-la por meio de exposições educativas, registros fotográficos e atividades voltadas para a conservação da espécie. Além de reforçar campanhas educativas sobre girafas e conservação da fauna africana, garantindo que o legado de Yaza continue inspirando futuras gerações.
Brenda Trindade, 37, vai ao Zoo frequentemente com seus filhos, afirmou que Yazavai fazer falta e solicitou outra girafa para o local. “Tinha que ter outra para substituir a Yaza, porque é um bicho que chama muita atenção. Ela podia ter deixado um filhinho aí, pena que era fêmea e só tinha ela de girafa no recinto”, relatou.
*Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti