ARTE

Mulheres em tela: exposições refletem luta feminina por direitos e igualdade

As mostras, espalhadas por diferentes espaços culturais e institucionais, resgatam conquistas históricas e dão visibilidade a narrativas silenciadas

Na Câmara dos Deputados, exposição faz um panorama das conquistas femininas nos últimos 30 anos -  (crédito: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
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Na Câmara dos Deputados, exposição faz um panorama das conquistas femininas nos últimos 30 anos - (crédito: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

O Mês da Mulher vai além de homenagens. A data representa um momento para refletir sobre o contexto histórico e as conquistas femininas até os dias de hoje. Este ano, a data inspirou órgãos públicos e instituições culturais de Brasília a promover exposições gratuitas que reforçam a ocupação de espaços, a visibilidade de histórias antes silenciadas e a necessidade contínua de questionar as desigualdades que ainda persistem.  

Dessa forma, a Câmara dos Deputados apresenta a exposição Pequim 30 e a Igualdade de Gênero no Parlamento Brasileiro, que revisita os 30 anos da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada na capital da China pela ONU. 

A mostra faz um panorama das conquistas femininas no Brasil, incluindo o direito ao voto, em 1932, a aprovação da CLT, em 1943, que reconheceu direitos trabalhistas das mulheres, e a promulgação da Constituição Federal de 1988, que formalizou a igualdade de direitos entre homens e mulheres. 

No Salão Negro do Congresso Nacional, a exposição Arte e Alma Feminina reúne obras de 46 artistas mulheres. O evento conta com 40 quadros, dois mobiliários e quatro esculturas, que celebram a presença feminina na arte e na cultura. 

  • Exposição Celebrando as Mulheres: Cuidado e Protagonismo na Saúde
    Exposição Celebrando as Mulheres: Cuidado e Protagonismo na Saúde Alberto Ruy/IgesDF
  • Na Câmara dos Deputados, exposição faz um panorama das conquistas femininas nos últimos 30 anos
    Na Câmara dos Deputados, exposição faz um panorama das conquistas femininas nos últimos 30 anos Bruno Spada/Câmara dos Deputados
  • Gabriela Castelo ficou impactada com a exposição:
    Gabriela Castelo ficou impactada com a exposição: "Um horror" Minervino Júnior/CB/D.A Press
  •  Patrícia Rodrigues observa roupa inspirada em mulheres vítimas de violência
    Patrícia Rodrigues observa roupa inspirada em mulheres vítimas de violência Minervino Júnior/CB/D.A Press

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) apresenta a exposição Não é sobre o que vestimos, que questiona a ideia de que a roupa da vítima pode justificar crimes sexuais. A mostra expõe peças inspiradas nas vestimentas reais de mulheres que sofreram violência, em casos investigados pela PCDF. O que evidencia que o abuso não tem relação alguma com a roupa, e, sim, com a cultura de violência. 

Ao Correio, a diretora do DPE, Ana Carolina Litran, reforçou a mensagem da exposição. "Nenhum comportamento, roupa ou circunstância justifica um ato de violência. É um momento para questionar a cultura que relativiza o abuso e responsabiliza quem sofre ao invés de quem agride". 

A advogada Gabriela Castelo, de 31 anos, relatou sua reação ao ver os manequins. "Eu nem precisei ler a respeito para saber sobre o que se tratava. Que horror! Eu fiquei impactada! Havia roupas de crianças, adolescentes e idosas". Entre as peças, um uniforme escolar e a vestimenta recatada de uma senhora chamaram a atenção. "O fato de ser curto ou não, obviamente, não faria diferença, mas percebemos que, independentemente da roupa, os assédios continuam acontecendo pelo fato de ser mulher e vulnerável", acrescentou.

A enfermeira Patrícia Rodrigues, 32, elogiou a iniciativa da exposição. "Nós, mulheres, achamos que o que a gente veste, o que a gente fala e como a gente se porta dá liberdade para algum homem fazer o que quer com a gente. Mas isso não é sobre a gente. Podemos fazer o que quisermos, pois somos livres".

O Museu das Mulheres, primeiro do Brasil dedicado exclusivamente à produção artística feminina, apresenta a exposição Acervo do Museu das Mulheres: Primeiras Aquisições. A mostra reúne obras de artistas consagradas e pioneiras da cena artística de Brasília. As linguagens artísticas variam entre gravuras, esculturas, pinturas, fotografias, objetos, desenhos e performances audiovisuais. 

No ParkShopping, a fotógrafa Tainá Frota apresenta a exposição Mulher Presente, composta por retratos de 12 personalidades femininas que simbolizam a pluralidade de gênero. A artista, que há anos se dedica a fotografar mulheres, expõe sobre os padrões de beleza impostos pela sociedade e busca, por meio de suas imagens, destacar a singularidade de cada uma delas. 

O Hospital Regional de Santa Maria traz a exposição fotográfica itinerante Celebrando as Mulheres: Cuidado e Protagonismo na Saúde. A mostra, idealizada pela assistente social Beatriz Liarte, destaca o trabalho feminino na área da saúde, desde gestoras e profissionais médicas até equipes terceirizadas que realizam o atendimento e limpeza hospitalar. A exposição também estará disponível no Hospital Cidade do Sol.

A Biblioteca Demonstrativa do Brasil (BDB), vinculada ao Ministério da Cultura, abre suas portas para a exposição Memórias Femininas da Construção de Brasília. A mostra presta tributo àquelas que participaram da edificação da capital federal.

E a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) sedia duas exposições: Elas & Elas na Arte, que reúne criações de 10 artistas visuais de diferentes regiões do país radicadas em Brasília, e Mulheres, organizada pela Embaixada da Eslováquia no Brasil, que apresenta 11 biografias de mulheres de origem judaica ligadas à Eslováquia, contando sobre representatividade e memória.

A doutora em ciências sociais pela Universidade de Salamanca, Veirislene Lavor, explicou a importância dessas iniciativas para o combate à violência de gênero, especialmente em uma sociedade machista e patriarcal. "Obviamente, uma ação não vai mudar um cenário social complexo, mas contribui muito para repensar a necessidade de mudança. Ser mulher no Brasil é lutar todo dia, de alguma forma, para não morrer!".

Por meio da arte, da história e da denúncia, essas exposições sublinham a conscientização sobre as lutas e conquistas na busca por igualdade de gênero. Mais do que reconhecer os direitos já alcançados, essas mostras reafirmam a necessidade de continuar lutando.

Programação 

Até quarta-feira (19/3) Exposição Pequim 30 e a Igualdade de Gênero no Parlamento Brasileiro, no corredor Tereza de Benguela, na Câmara dos Deputados.

Até quinta-feira (20/3) Exposição Memórias Femininas da Construção de Brasília, na Galeria da Biblioteca Demonstrativa.

Até terça-feira (25/3) Exposição fotográfica Celebrando as Mulheres: Cuidado e Protagonismo na Saúde, no Hospital Regional de Santa Maria e no Hospital Cidade do Sol de 26 de março a 1º de abril.

Até sexta-feira (28/3) As mostras Elas & Elas Na Arte e Mulheres, na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).

Até domingo (30/3) Exposição Arte e Alma Feminina, no Salão Negro do Senado Federal.

Até domingo (30/3) A mostra Acervo do Museu das Mulheres: Primeiras Aquisições, na galeria do terceiro andar do Museu Correios (Setor Comercial Sul).

Até segunda (31/3) Exposição Mulher Presente, no 1º Piso do ParkShopping, próximo à Praça Central.

Até segunda (31/3) Exposição Não é sobre o que vestimos, nos corredores do Departamento de Polícia Especializada (DPE).

 *Estagiária sob a supervisão de Márcia Machado

Vitória Torres*
postado em 19/03/2025 06:05