
O início do semestre na Universidade de Brasília (UnB) está sendo marcado por tensão política e embates ideológicos entre estudantes. Na última sexta-feira (14/3), um grupo de jovens que se identifica como de direita realizou ações no Campus Darcy Ribeiro, na Asa Norte, para, segundo eles, “limpar o que a esquerda sujou”.
Eles também espalharam panfletos promovendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pedindo anistia para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. O grupo de estudantes apagaram, com tinta branca, frases e símbolos que associaram ao "comunismo" em espaços acadêmicos. Os alunos ainda prometeram ações mais incisivas no primeiro dia do semestre, na segunda-feira (24/3). "Não é nem um terço do que vamos fazer no próximo dia 24", avisou Davi Bertoldo, um dos estudantes, em vídeo postado nas redes sociais no qual acusa a universidade de abrigar mensagens de ódio contra figuras da direita. Veja:
A ação gerou forte reação de entidades estudantis e centros acadêmicos, que classificaram o episódio como um “ataque promovido por grupos de extrema-direita”. A vice-presidente do Centro Acadêmico de Artes Visuais (CAVIS), Carolina Paz, 21 anos, aluna do curso de bacharelado em Artes Visuais repudiou a ação, a qual, segundo a jovem, criou um clima de insegurança na comunidade acadêmica. “Já rolaram alguns protestos pró-Bolsonaro, mas sabíamos que era um movimento fraco. Agora, eles estão ganhando espaço, mas isso tem se traduzido em ficarem confortáveis para infringir regras da instituição”, disse.

Ainda assim, ela acredita que a ação pode ter um efeito reverso. "Estudamos e debatemos que a ocupação é uma forma de resistência e luta. Estamos olhando isso como uma oportunidade de reescrever nossa história. Defendemos o picho e o grafite como formas de expressão. O que eles fizeram foi negativo, mas as pessoas estão com ainda mais vontade de estarem lá", completou.
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Diante da repercussão, em nota a UnB se manifestou condenando qualquer ato de intolerância dentro de seus campi. A universidade destacou que já está adotando medidas para reforçar a segurança e reafirmou seu compromisso com a democracia.
“É hora de nos unirmos para garantir um ambiente universitário seguro, plural e comprometido com a liberdade e a diversidade. A UnB não se intimida diante de tentativas de ataque aos seus valores e reafirma seu compromisso inegociável com a democracia”, diz o texto.
Confira a nota a UnB na íntegra:
A Universidade de Brasília (UnB) repudia qualquer ato de vandalismo e intolerância dentro de seus campi. A instituição preza pelo respeito à diversidade, à liberdade de expressão e ao debate democrático, pilares fundamentais de uma universidade pública e plural.
Desde a sua recente posse, a Reitoria vem implementando ações em defesa da democracia e da sua comunidade, tais como a criação do Comitê de Enfrentamento à Desinformação, a regulamentação sobre direitos autorais e de imagem no contexto acadêmico a ser submetida ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), estudos para a ampliação do sistema de videomonitoramento dos campi, e notificações à Polícia Federal sobre ameaças veiculadas pelas redes. Desde a reunião realizada na última quinta-feira com os estudantes, a Reitoria vem adotando um conjunto de medidas para reforçar a segurança e proteger a comunidade acadêmica.
Historicamente, a luta contra o fascismo e o autoritarismo exige um compromisso coletivo da sociedade e de toda a comunidade acadêmica. É hora de nos unirmos para garantir um ambiente universitário seguro, plural e comprometido com a liberdade e a diversidade.
A UnB não se intimida diante de tentativas de ataque aos seus valores e reafirma seu compromisso inegociável com a democracia. Com uma história marcada pela resistência, a Universidade reafirma seu papel como espaço de construção do conhecimento, do pensamento crítico e da promoção dos valores democráticos, essenciais para a manutenção de uma educação pública, gratuita e de qualidade.