
Diariamente, a população do DF enfrenta os desafios da mobilidade urbana, como a escassez de ônibus, os congestionamentos constantes e a falta de infraestrutura para ciclistas. Por isso, ninguém melhor do que os próprios cidadãos para sugerir melhorias nessa área. Com esse objetivo, a Secretaria de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (Semob-DF) está promovendo uma série de audiências públicas para discutir e aprimorar o Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU) e o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS).
O secretário de Transporte e Mobilidade do DF, Zeno José Andrade, explica que o PDTU é um instrumento de planejamento das estratégias de investimento e ações voltadas para o transporte do Distrito Federal. "Ele prepara uma visão de futuro do que os governos precisam fazer para evitar um colapso de linhas, avaliar o ir e vir das pessoas e como a mobilidade serve para o desenvolvimento econômico do DF."
No momento, o plano está na fase de diagnóstico, com o objetivo de ouvir a comunidade para entender o que o usuário do transporte pensa. Ao todo, já foram realizadas 12 oficinas de debate no Plano Piloto, SCIA, Taguatinga, Gama, São Sebastião, Samambaia, Riacho Fundo, Planaltina, Brazlândia, Paranoá, Ceilândia e Sobradinho I. Amanhã, as audiências serão retomadas em Sobradinho II, Arapoanga e Fercal, e devem percorrer todas as regiões administrativas até abril.
"Queremos ouvir o que o usuário pensa do transporte atual, quais são as ações que ele espera de imediato e como o transporte deve ser no futuro. Sem a participação do usuário, a gente não tem a visão principal de quem usa, de fato, o transporte público no dia a dia", destaca o secretário.
Durante as audiências, são debatidos temas como propostas para melhorar o transporte público, a necessidade de mais calçadas e passarelas e a ampliação do metrô e do BRT. Em cada reunião, há a presença de equipes técnicas responsáveis por receber as contribuições escritas da população e ouvir suas explicações.
Desafios
De acordo com o especialista em trânsito Wellington Matos, os principais desafios da mobilidade urbana no DF são os congestionamentos, causados pelo aumento do uso do transporte individual, a infraestrutura precária das rodovias e a falta de ciclovias e calçadas. No transporte público, ele ressalta que os desafios são muitos, como superlotação dos ônibus, más condições dos veículos, longo tempo de espera em filas e tarifas elevadas. "Esses problemas afastam passageiros, especialmente devido à falta de conforto e flexibilidade nos serviços", afirma.
Essas questões são vivenciadas diariamente por Otávio Augusto, 24 anos, morador do Recanto das Emas, que depende do transporte público para chegar ao trabalho em um supermercado no Plano Piloto. Ele conta que é necessário ampliar a oferta de ônibus e melhorar a qualidade do serviço de forma geral.

"Os ônibus são poucos e estão sempre lotados. Além da diminuição das linhas, há problemas na qualidade do transporte. Hoje mesmo, sinalizei para um ônibus, mas o motorista não parou, mesmo sem estar lotado", critica Augusto.
A atendente de call center Ana Paula Neris, 29 anos, reclama das mesmas questões. "Atualmente, o que mais me incomoda é a demora dos ônibus. É preciso aumentar a frota, porque são poucas opções. Além disso, mais veículos com ar-condicionado melhorariam bastante o conforto dos passageiros", afirma. Ela disse desconhecer a realização das audiências públicas para discutir o PDTU. "É interessante a divulgação dessas reuniões", acrescenta.
Matos ressalta que a adesão da população é essencial para estratégias como o PDTU. Ele afirma que, muitas vezes, a população evita essas audiências por falta de conhecimento e de entendimento sobre a necessidade da participação. "Quem está no ar-condicionado, com a caneta na mão, muitas vezes não tem ideia do que realmente enfrenta alguém que espera por um ônibus sob o sol escaldante da tarde ou no frio da madrugada."