
"Brasília evoluiu muito e o carnaval daqui começa a ter uma cara. Há a junção dos ritmos: choro, frevo, e muitas coisas clássicas: quer dizer, abraça muitos gostos e de todos os lugares do país", opinou a cantora Clara Teles, 32 anos, desde os 8 na capital. Ela viu triplicar, diante de seus olhos, o número de frequentadores do projeto Choro no Eixo (na Asa Norte), nesse domingo (23/2), com pré-carnaval à tarde e no qual passaram atrações como Márcio Marinho, Instituto Folha Seca e Cristiano e Banda Frevo (com músicos do tradicional Galinho).Cantora de MPB, Clara definiu o gosto de ver a alegria se espalhar na rua: "Todos estão juntos: crianças, jovens, idosos e pessoas em situação de rua. É tudo muito democrático". Ao lado da amiga Clara, a servidora pública Sheila Andrade, 46, dava as coordenada para "as coisas diferentes, com o carnaval". "Tudo é colorido e traz somente diversão. Carnaval é a identidade do Brasil — é tudo. É quase a nossa alma, faz parte da gente e está no sangue". Marido de Sheila, o analista de sistemas Cristiano Silva viu os filhos Victor Hugo e Andrew David serem criados na festa do Galinho (que saia da 102 Sul). "Nem sempre um lugar movimentado e cheio de gente fica agradável como aqui. Cada vez mais, vemos que não se precisa mais de sair da capital. Aqui é completo, com vários bloquinhos", avaliou.
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A chegada, no mesmo local do gramado da concentração no projeto de choro no Eixão, do bloco Espreme a Pitanga (que saiu da 206 Norte) confirmava a percepção de difusão e integração de blocos. Maxixe, fanfarras e marchinhas fizeram a festa dos foliões. O percussionista André Negão aderiu ao corpo de músicos pela primeira vez e estava entusiasmado. "A música está me ajudando a ficar forte, fiquei cego, há seis anos. Agora, notei a adesão de jovens músicos da UnB aqui. Tem uma molecada de 20, 30 anos tocando músicas centenárias! Há esperança, ainda", avaliou.
Descoberta também veio para David Bessa, 24, bancário e mestre em física, recém-chegado à capital, e que foi, sob indicação de novos colegas, ao reduto de choro, ao lado do amigo Luis Seixas, 31, que confirmou a surpresa com o pré-carnaval. "Conheço o carnaval do Rio, de Salvador, e o de Brasília não fica muito atrás", disse Luis. David estava feliz com duas "tranqueiras" que trouxe direto de Fortaleza: uma longa saia vermelha e a tiara de diabinho. "Comprei o vestido num brechó, por R$ 3 (risos). Com 1,87 metro, quase não acho calça para mim, que dirá, saia que cubra até os pés", divertiu-se. Depois de se embrenhar pela pré-festa, no Suvaco da Asa, ele acumulou histórias para contar para a namorada Mariana. "Brasília tem espaços propícios para os bloquinhos estáticos, com ocupação de lugares bem bacanas. Aqui fica a sensação de tudo, no carnaval, ser um festival cultural", avaliou.
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Uma foliã especial foi Gicelle Damasceno que, no evento, celebrou os 40 anos rodeada de amigos: "Entrei para os 'enta': hoje, fiz 40, quem sabe vou aos 100?!". Mãe de um menino de 1 ano e meio, o pequeno João, ela aproveitou, de dia, o "vale night", normalmente, curtido com o marido Bernardo, em sambas. Cria da Ceilândia, Gicelle, pelo estado de euforia, se dizia "o próprio carnaval". Amigas de infância, como as irmãs ambulantes Priscila e Robeta Ribeiro vieram prestigiar a festa, deixando o dia de vendas de lado. Tocadora de instrumentos de percussão, Gicelle comentou: "Carrego sempre comigo os instrumentos, sou da xepa (nos blocos, toca até o fim), mas, hoje, deixei de lado para receber os abraços.
Participação feminina
Desde 2013 presente na capital, o bloco Maria vai Casoutras foi atração, pela segunda vez, no Parque da Cidade (no estacionamento 11), nesse domingo (23/2), havia estimativa da organização de atrair 6.000 pessoas. Logo de cara, vieram as apresentações do Maria Kids, com recreação e repertório infantil. O axé instrumental do Patubatê ainda acolheu o colorido e o som retumbante do Batalá. Uma novidade foi a participação do Bandão das Marias, composto de mulheres com aprendizado musical recente. A tarde e a noite tiveram um gigante detalhe: toda a sonoridade foi garantida e dominada por mulheres.
Pela quarta vez no país, a DJ e assessora de transições financeiras norte-americana Andrea Henson, 30 anos, era pura satisfação com o pré-carnaval. "É fantástico, espetacular, adorei as fantasias e a vivência cultural do Brasil. Conheço 26 países, e vocês são o meu povo mais querido. Fui para a Chapada dos Veadeiros, para SP, RJ e Belo Horizonte, aqui. Aqui vejo a plena liberdade; enquanto meu país está desmoronando", avaliou.
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"Estar no carnaval é uma terapia para mim, quando minhas amigas chamam", observou a auxiliar de costura Nilsa Oliveira, 60 anos. No grupo estavam o analista Felipe Reis e a mãe dele Consolata, 60 anos, além da enfermeira Ivonente Souza, 55, e a amiga Sueli Rosa, 64. "É a primeira vez que venho. Estou curtindo muito, adorando. Já fui casada, e há cinco anos estou viúva. O carnaval é a liberdade", concluiu Sueli.