
Por decisão do governador Ibaneis Rocha, aos domingos e feriados haverá transporte público gratuito no Distrito Federal. A assunto foi debatido, ontem, durante o programa CB.Poder — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília — pelo secretário de Transporte e Mobilidade, Zeno Andrade Gonçalves. Ele destacou também que o investimento necessário para a tarifa zero universal (para todos os dias) ultrapassaria 10% do orçamento total do GDF, o que ainda é inviável. Às jornalistas Adriana Bernardes e Mila Ferreira, o secretário abordou o projeto de integração do transporte do Entorno com a frota da capital.
Existe a possibilidade de um sistema de tarifa zero universal para todos os usuários?
Nesse caso, a estimativa do investimento iria subir. Teríamos que, no mínimo, multiplicar por dois, o custo que temos no sistema. Em uma conta bem simples, seriam necessários mais de R$ 1 bilhão, que iriam aumentar a conta do Estado. Com o crescimento da demanda, teríamos que investir cerca de R$ 7,5 bilhões, praticamente 10% do orçamento do GDF. Aí, discutiríamos um financiamento do governo federal, assim como é feito no Sistema Único de Saúde (SUS). É uma visão em médio e longo prazos, mas que tem impactos e a gente precisa trabalhar passo a passo. A universalidade é interessante, mas é preciso ter um senso de justiça social.
A secretaria está realizando ajustes para atender esse aumento da demanda provocado pela tarifa zero (nos feriados e domingos)?
Iremos estimar um acréscimo de demanda justamente por conta da gratuidade e vamos fazer o reforço operacional necessário. Temos essa operação sendo montada. Nossa equipe técnica (da Semob), com as cinco concessionárias que tocam o transporte do DF, está promovendo esses ajustes operacionais, reforçando determinadas linhas e observando, inclusive, como será o deslocamento realizado para os blocos do carnaval, ou seja, locais que atraem mais usuários. O metrô também está se preparando para atender o aumento da demanda. Nos próximos dias, o governador Ibaneis Rocha deve assinar o decreto sobre tarifa zero e poderemos apresentar como vai ser essa operação.
A Semob tem mapeado os locais de ação dos "valeiros" (pessoas que vendem o acesso do cartão mobilidade)? Como isso será combatido?
Temos todo um trabalho de inteligência com a Secretaria de Segurança que nos apoia em todas as ações, que chamamos de "Operação Cartão Vermelho". Daqui para frente, vamos utilizar a tecnologia para combater, não somente a fraude do valeiro, mas também o uso indevido do cartão. Estamos aperfeiçoando a nossa regulamentação, em parceria com o Banco de Brasília, que é responsável pelo sistema de bilhetagem automática. Nossa ideia é implantar biometria e leitura facial para todas as gratuidades. Assim, teremos como detectar o uso indevido desse benefício. O sistema, por meio de uma inteligência artificial, irá identificar se a pessoa que passou pelo validador é a mesma do cadastro. Se tiver alguma divergência de pelo menos seis pontos, automaticamente passa para a seleção visual que analisa e, imediatamente, aciona o banco e bloqueia o cartão. Também tem como detectar quando a pessoa fica passando aquele mesmo cartão em um intervalo inferior a 10 minutos, que seria o tempo adequado para ele desembarcar do metrô e embarcar no ônibus. Com o uso da tecnologia, a gente consegue coibir essa prática (valeiros).
Como a população é prejudicada por essa atuação ilegal?
Quando estabelecemos uma gratuidade por lei, ela tem o objetivo de beneficiar uma classe social, seja estudantes, como o caso do Passe Livre Estudantil (PLE), sejam portadores de necessidades especiais ou os idosos. Quando você transfere essa gratuidade para pessoas que não são objetos desse benefício, você retira a receita do sistema, que deixa de arrecadar. Hoje, o sistema custa R$ 2,6 bilhões. Desse valor, R$ 900 milhões são arrecadados pelas tarifas, e o valor restante, R$ 1,7 bilhão, é subsidiado pelo governo, para que não haja aumento da tarifa. Tirando esse valor da receita, você desequilibra o sistema, fazendo o governo ter que aportar mais recursos para manter a passagem, e perdendo um valor que poderia estar sendo utilizado para o próprio sistema.
Em qual fase está a concessão da Rodoviária do Plano Piloto? A empresa responsável realizou algum diagnóstico para definir mudanças?
Depois da assinatura (do contrato), em outubro, houve uma interrupção por conta de uma decisão judicial. Resolvido isso, convocamos novamente a empresa, e agora estamos em uma fase de transição. Estamos olhando todos os contratos e serviços. Eles (consórcio ganhador) estão fazendo um diagnóstico de como irão assumir todos os serviços, e quais serão os investimentos iniciais.
A população faz muitas reclamações sobre a Rodoviária. O governo, e a empresa concessionária, tem em vista quais serão essas mudanças que ajudarão na qualidade de vida dos usuários?
A Rodoviária continua sendo do povo do Distrito Federal. É uma concessão para uma empresa privada para explorar comercialmente e realizar os investimentos (no espaço). São investimentos de R$ 120 milhões que devem ser feitos mediante um cronograma específico para isso. A primeira coisa que deve ser realizada é a questão dos permissionários, os comerciantes e ambulantes, ou seja, organizar a Rodoviária. Além disso, garantir o efetivo cumprimento de limpeza, segurança, vigilância, funcionamento de escadas rolantes, elevadores, acessibilidade e a melhoria da operação dos ônibus. Outro ponto é a recuperação geral, principalmente nas partes estruturais que podem estar comprometidas. Sobre os ambulantes, eles poderão continuar operando de acordo com as regras que a concessionária vai estabelecer de exploração do espaço comercial. Vão poder continuar, mas não da forma desordenada do jeito que está. Está sendo elaborado um projeto arquitetônico pela empresa.
De qual forma o governo está trabalhando para aumentar a segurança das pessoas que fazem uso dos patinetes que chegaram agora na cidade?
Abrimos esse período de teste e, em 90 dias, superou muito a expectativa inicial. Hoje, temos cerca de 90 mil pessoas cadastradas no aplicativo e cerca de 100 mil quilômetros percorridos nessas 672 estações. Todos os aspectos de segurança e limite de velocidade estão sendo considerados, justamente para estabelecermos uma comunicação mais eficiente com os usuários. A gente depende muito desse senso de regulação que o usuário tem que ter, e a maneira como ele se relaciona com o transporte público. Agora, no carnaval, por exemplo, que vamos ter transporte gratuito, nos preocupamos muito com o mau uso do transporte público, como pessoas alcoolizadas que podem depredar o metrô, os ônibus. Nossa preocupação é grande, porque são equipamentos que servem à população. Disponibilizamos o serviço, mas temos também que aprender a usar melhor e se relacionar melhor com a ciência do cidadão.
Uma grande parte da população do Entorno vem trabalhar e estudar aqui, no DF. Além de percorrer uma grande distância, o custo também não é barato. O governo estuda uma possibilidade, com Goiás, para melhorar a condição de transporte dos usuários do Entorno?
Vale lembrar que o Entorno acabou de aumentar a tarifa para os usuários do entorno em 3%, no DF está congelado até 2026. Semana passada, o governador criou a Secretaria Extraordinária do Entorno. A melhor alternativa é estabelecer um consórcio com a participação do GDF, governo do Goiás e das prefeituras, cada uma participação proporcional à sua despesa, para discutir essa nova modelagem e custear o transporte subsidiado.
Assista aqui à íntegra da entrevista
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira