
De São Paulo, uma quadrilha especializada no chamado golpe da falsa central de atendimento enganava pessoas de todo o país. Os criminosos paulistas se passavam por funcionários da Caixa Econômica Federal e invadiam as contas dos clientes. Uma moradora de um condomínio de Sobradinho 2, de 60 anos, perdeu mais de R$ 340 mil.
Ontem, a 35ª Delegacia de Polícia (Sobradinho 2) desencadeou uma operação e cumpriu cinco mandados de prisão e nove de busca e apreensão nas cidades paulistas de Mauá e Diadema. Segundo as investigações, o grupo atuava há, pelo menos, 10 meses e foi desmascarado a partir do golpe na idosa, moradora do DF.
O crime contra a mulher ocorreu em 23 de maio de 2024, quando os golpistas entraram em contato com a vítima se passando por servidores da Caixa. Na ligação, um dos criminosos disse que a conta dela havia sido invadida e uma "investigação interna" suspeitava dos próprios funcionários do banco.
0800
Após o primeiro contato, os golpistas forneceram um telefone com iniciais 0800 para que a vítima ligasse e solucionasse o problema. A partir daí, eles instalaram, por meio do WhatsApp, um "aplicativo de segurança" para rastrear vírus no celular da idosa. A polícia identificou que, entre 23 de maio e 4 de junho, os estelionatários efetuaram diversas transferências da conta-corrente da cliente, gerando o prejuízo.
O delegado-chefe da 35ª DP, Ricardo Viana, detalhou que os criminosos usavam com frequência um vírus do tipo "malware" — software concebido para causar danos —, que pode ser disfarçado como links ou aplicativos maliciosos enviados via WhatsApp. "Um dos tipos mais comuns é o 'phishing', onde o link leva a uma página falsa que imita um site legítimo, como um banco. Quando a vítima insere suas credenciais, os criminosos conseguem acessar a conta bancária dela", explicou.
O quinteto desempenhava papeis importantes nas diferentes fases do golpe, desde o primeiro contato com as vítimas até a intermediação das transações ilícitas, configurando crimes como estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Na operação, foram presas três mulheres e dois homens, e apreendidos celulares. Os aparelhos passarão por perícia.
A PCDF contou com o apoio da Delegacia de Capturas da Capital, de São Paulo, bem como das delegacias de Diadema e de Mauá.
Números
Uma reportagem publicada na edição de ontem do Correio Braziliense mostrou que os crimes de estelionato no DF somam 44,5 mil casos em 2024, especificamente entre 1º de janeiro e 27 de novembro. Do total, 28.377 envolvem ações cometidas presencialmente contra as vítimas pelos investigados. Outros 16.165 se valeram de redes sociais e sites fraudulentos.
Golpistas que faturaram R$ 130 mil mensais são presos na operação "Bença Tia"
A 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte) desencadeou, ontem, a operação "Bença Tia", para combater golpistas. Criminosos residentes na Grande Cuiabá foram os alvos. Segundo as investigações, eles faziam vítimas em todo o país e, no DF, chegaram a faturar R$ 130 mil com transferências de vítimas, em apenas um mês.

O grupo, liderado por um jovem de 22 anos, praticava estelionatos na modalidade de clonagem de aplicativo de mensagens. As investigações começaram em setembro de 2024, quando um morador de Taguatinga recebeu mensagens no aplicativo de um perfil com a foto do irmão. Na verdade, tratava-se de um golpista que, se passando por familiar, solicitou um valor, e a vítima transferiu R$ 742.
Segundo o delegado Thiago Boeing, adjunto da 17ª DP, somente em dois meses foi identificada a habilitação de 66 linhas telefônicas diferentes, com prefixos de 15 estados da federação: Espírito Santo, São Paulo, Maranhão, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Ceará, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Goiás, Acre, Pará e Paraíba. Constatou-se que toda a quadrilha é oriunda de Cuiabá e utilizava-se de transferências bancárias sucessivas para ocultar o proveito do crime.
A PCDF cumpriu um mandado de prisão preventiva contra o líder do grupo e três de busca e apreensão. O jovem, que tem passagens pela polícia por roubo, alegou em depoimento integrar a facção carioca Comando Vermelho (CV) e que, segundo ele, a organização criminosa detinha 30% do faturamento com os golpes. O Correio apurou que o preso aprendeu a praticar os golpes na cadeia.
As investigações seguem, agora, para identificar o possível vínculo com a facção e identificar outros envolvidos. (DD)
Três perguntas para Erick Sallum, delegado da 9ª DP (Lago Norte)
Como o senhor avalia o aumento dos golpes on-line?
A partir dos anos 2000, houve uma migração do chamado crime violento de sangue, enquanto patrimônio, para os crimes cibernéticos. A razão disso é muito simples. A dificuldade de investigar esses crimes cibernéticos é imensamente maior do que os crimes comuns, porque nos crimes comuns sempre vai ter uma testemunha, um vídeo, você consegue pescar algum fio investigativo. Mas, na internet, as estratégias de "anonimização" são muito fáceis. Os crimes cibernéticos adotam sempre uma estratégia de não cometê-los na própria base territorial. O criminoso que está em São Paulo dá golpe aqui no DF ou no Pará. Ou seja, a polícia que vai ter que investigar, é a polícia do local da vítima.
Quais impasses dificultam a investigação policial em crimes de estelionato virtual?
Há uma série de complexidades para a polícia chegar à verdadeira identidade do criminoso que está por trás daquele telefone anônimo, daquele terminal. Precisamos fazer uma série de diligências de inteligência e há uma certa demora na entrega das informações pelas operadoras de telefonia, pelo WhatsApp, pelo Google, pela Apple. Ao fim, não é só localizar o criminoso, mas ver onde ele escondeu o dinheiro das vítimas. Estamos vivendo hoje um outro sério problema, que é a facilidade de se abrir uma conta. Com essa infinidade de bancos digitais, uma pessoa, com o telefone na mão, abre 50, 60, 100 contas bancárias. De novo, em nome de laranjas.
Esses tipos de golpes, como os das operações desencadeadas ontem, são mais recorrentes?
São bem recorrentes, mas, de maneira geral, todos os golpes cibernéticos, mesmo aqueles mais antigos, como o de pegar um número de WhatsApp e se passar por um parente para pedir depósito, faz muitas vítimas. Nós, da PCDF, estamos especializando os colegas. Todos os policiais têm que entender a estrutura da internet.
