Chuvas

Temporais mantêm Defesa Civil em alerta no Distrito Federal

Em Planaltina, choveu metade do esperado para todo mês em 24 horas, causando transtornos aos moradores. GDF diz trabalhar para amenizar estragos, fazendo investimentos em infraestrutura que totalizam cerca de R$ 6 bilhões

As chuvas no Distrito Federal continuam causando estragos. Em Planaltina, o total de precipitações já superou em 56% — 322mm — o esperado para todo o mês de janeiro (206 mm). Entre todas as estações do Inmet no Brasil, foi a localizada em Águas Emendadas que registrou a maior quantidade de chuvas em 24 horas.

A Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil (Sudec), vinculada à Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), ampliou as equipes de plantão para reforçar o trabalho preventivo de monitoramento das áreas de risco. A Defesa Civil Nacional envia alertas de temporais por SMS. Para receber os alertas, é necessário enviar um SMS para o número 40199 com o CEP da área de interesse.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

No Condomínio Sarandi, na Estância Mestre D'Armas, em Planaltina, dezenas de famílias tiveram suas casas invadidas pela água na madrugada de ontem. Cerca de 30 pessoas foram resgatadas pelo Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), incluindo seis crianças de colo e idosos com dificuldade de locomoção. Além disso, cães e gatos também foram salvos pelas equipes. A Defesa Civil constatou que o córrego próximo ao condomínio transbordou, alagando todas as casas da região. A água atingiu uma altura média de 90 cm e inviabilizou o uso de bombas de esgotamento.

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - CBMDF retirou cerca de 30 pessoas na Estância Mestre D'armas

Elenice de Araújo, 50, moradora do condomínio há 20 anos, viu sua casa desabar enquanto estava dentro dela com a nora e o neto. "Não deu tempo de salvar nada. O telhado caiu em cima das coisas. Foi um filme de terror. Eu perdi tudo. A gente vê na televisão e nunca imagina que pode ser tão triste assim. Preciso arrumar um lugar para dormir com as crianças", relatou.

Ela contou à reportagem que não tem trabalho fixo e não sabe o que fazer a partir de agora. "Essa casa é o único bem que eu tenho, que eu conquistei. Estamos totalmente sem chão. Minha filha mora na casa da frente, que eu acabei de construir para ela com toda a dificuldade. Mas agora caiu tudo", acrescentou.

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - Elenice de Araújo viu a casa desabar e não conseguiu salvar nada

Outra moradora da região, Shirlei Vasconcelos, 46, disse que não é a primeira vez que passa pela mesma situação. "A chuva começou à noite e, às 3h da manhã, a enchente já tinha tomado conta. Às 6h, minha casa estava completamente alagada. Perdi a geladeira, a máquina de lavar, o guarda-roupa. Eu já não tinha sofá, porque perdi em outra enchente", contou. Ela contou que, da última vez, a mãe pegou leptospirose e precisou ficar internada por quatro meses. "Não sei mais o que fazer, pedi ajuda para construírem uma contenção, mas nada foi feito", relatou.

Pôr do Sol

Os moradores do Pôr do Sol/Sol Nascente têm enfrentado uma rotina de dificuldades por conta da precariedade da infraestrutura da região, agravada pelas fortes chuvas. Ludmila Cavalcante, 36, relatou que ontem um carro foi engolido por um buraco na rua em que mora. "Chamamos todos os moradores para ajudar. Uns empurraram, outros colocaram pedras nas rodas e, depois de muito esforço, conseguimos tirar o carro. Mas a situação é crítica", afirmou.

A moradora da quadra 208 do Pôr do Sol explicou que o problema ocorre porque as ruas não possuem um sistema adequado de drenagem, e as obras realizadas pela administração têm sido apenas paliativas. "Colocaram cascalho, mas quando a chuva forte vier, vai levar tudo de novo. Estamos vivendo com medo", desabafou.

Pedro Santana / CB - Moradores do Pôr do Sol reclamam das más condições do asfalto

Há cerca de um mês, a diarista Francisca Borges, 59, teve a casa inundada pela chuva. Em dezembro, enquanto viajava, a residência foi completamente alagada. "Perdi tudo. Foi um choque quando voltei e vi a destruição. Agora que eu comecei a comprar as coisas novamente", contou.

Para evitar novos transtornos, a família dela construiu uma barreira improvisada na entrada da casa utilizando pedras e tábuas de madeira. "Meu esposo e meus genros fizeram aquela barreira para nos proteger das chuvas e, por incrível que pareça, não entrou mais água. Mas, de qualquer forma, seguimos com receio toda vez que chove. Todo dia é um medo diferente, porque a água sempre vem mais forte", declarou.

 

Pedro Santana / CB - Francisca Borges: "A água sempre vem mais forte"

Em nota, a Administração Regional do Sol Nascente/Pôr do Sol informou que, em conjunto com a Secretaria de Obras e a Novacap, vem executando ações paliativas de reparos em todas as áreas da região, especialmente neste período chuvoso. "O projeto de infraestrutura foi licitado e está em fase de aprovação", comunicou.

Caminhão atolado

Na Ponte Alta Norte, no Gama, um caminhão carregado ficou atolado durante uma forte chuva na última segunda-feira. A estrada estava em manutenção quando a água abriu uma vala profunda, impossibilitando a passagem. Segundo a coordenadora da administração de áreas rurais do Gama, Érica Teixeira, o fato é considerado atípico, por ter  acontecido no momento em que eram realizados serviços na estrada. "Foi uma chuva muito intensa. O caminhão ficou preso, e as máquinas enviadas para ajudar também atolaram. Estamos esperando um trator de esteira chegar ao local para resolver a situação", explicou.

O dono do caminhão, Walison Andrade, 22, descreveu o momento como caótico. "A correnteza era muito forte. Quando percebemos o tamanho do buraco, já era tarde. A máquina que tentou nos ajudar também ficou presa. Agora estamos retirando manualmente o material do caminhão para reduzir o peso e tentar tirá-lo com o trator", comentou.

O engenheiro civil Ruan Matheus Gregorio disse que as enchentes e os alagamentos nas cidades podem ser causados por vários fatores, sejam eles naturais ou pela ação do homem. "Além disso, a urbanização predatória, com a construção de edificações em áreas que deveriam ser de drenagem natural, compromete a capacidade do solo de absorver água", alertou. "Calçadas e asfalto impermeabilizam o solo e aumentam a quantidade de água que flui para os sistemas de drenagem", acrescentou.

Gregorio avaliou que é importante a implementação de projetos de melhorias na parte de captação de água pluvial e sistema de drenagem no solo. "Também é preciso trabalhar na melhoria da política de exigência de projetos de drenagem em áreas urbanas, para melhorar a canalização e diminuir o acúmulo dos fluxos de água e alagamento das rodovias", observou.

Reparos

Por meio das redes sociais, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, se pronunciou sobre os estragos causados pelos temporais nos últimos dias. "Os impactos das fortes chuvas deste fim de semana estão sendo enfrentados com trabalho e dedicação. Desde domingo, nossas equipes estão monitorando as chuvas e, desde ontem, já foram às ruas para solucionar os problemas nas áreas mais afetadas e oferecer apoio às famílias. Estamos priorizando a segurança da população e agindo para recuperar as áreas atingidas com rapidez e eficiência", garantiu.

O Secretário de Obras do Distrito Federal, Valter Casimiro, declarou com exclusividade ao Correio que a pasta tem intensificado os trabalhos de correção de estragos. "Quando você tem precipitações muito localizadas e muito fortes em determinados pontos acaba causando os estragos que temos visto. Nós temos focado os equipamentos de obstrução nesses dispositivos para limpar novamente e recuperar todo asfalto onde teve o estrago", explicou.

Casimiro contou como a secretaria tem se mobilizado para as manutenções. "Realizamos um monitoramento 24 horas para identificar pontos de alagamento e utilizamos equipamentos como as bombas de sucção para ajudar na limpeza de ruas, desobstrução de bocas de lobo e operação tapa-buraco", ressaltou.

O titular da pasta enfatizou que a secretaria tem feito grandes investimentos em infraestrutura em todo o DF. "No momento, cerca de R$ 6 bilhões estão sendo aplicados. Temos obras de drenagem no Pôr do Sol, em Vicente Pires, no Guará, nos corredores de ônibus na Epig e na Hélio Prates. O governo está investindo para melhorar não somente o sistema de drenagem, mas também a pavimentação da cidade", detalhou Casimiro

O secretário revelou que o governador Ibaneis Rocha determinou aos órgãos que se mobilizem para solucionar o problema. "A ordem do governador é atacar todas as áreas onde haja problema nessa questão da drenagem. Então, a população pode ficar tranquila que a secretaria e o governo estão trabalhando em prol da segurança de todos e todas", ressaltou.

*Estagiária sob a supervisão de Eduardo Pinho

 

Mais Lidas

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - CBMDF retirou cerca de 30 pessoas na Estância Mestre D'armas
Pedro Santana / CB - Francisca Borges: "A água sempre vem mais forte"
Pedro Santana / CB - Moradores do Pôr do Sol reclamam das más condições do asfalto
CBMDF/Divulgação - Uma senhora e algumas crianças precisaram ser resgatadas em um barco, em Planaltina
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - Elenice de Araújo viu a casa desabar e não conseguiu salvar nada
Produção - Chuvas deixam rastro de destruição em diversos pontos do DF

Orientações

» Fique atento à previsão do tempo para a sua região;

» Conheça os principais problemas que podem afetar sua casa e sua região;

» Não jogue lixo nas ruas, ele é facilmente levado aos bueiros e pode causar entupimento.

Antes de chuvas intensas:

» Fique abrigado, se possível;

» Se houver risco de deslizamentos de terra na região onde você mora, fique atento a qualquer sinal de rachaduras no terreno ou nas paredes;

» Solte os animais, caso estejam presos nas casinhas ou por corrente.

Durante chuvas intensas:

» Fique atento ao nível da subida das águas, mesmo à noite;

» Se houver risco de inundações e enxurradas na região onde você mora, coloque documentos e objetos de valor em sacos plásticos bem fechados e em local protegido e de fácil acesso, em caso de evacuação. Coloque os seus móveis e utensílios em locais altos, evitando que eles sejam danificados;

» Se a água invadir sua casa, vá imediatamente para áreas mais altas e peça ajuda pelo telefone 193;

» Se houver infiltração, rachaduras, barulho estranho, ou movimentação de postes/árvores próximos à casa, abandone imediatamente o local.

Fonte: Defesa Civil