Moradia

DF encara desafios e busca soluções a fim de sanar o deficit habitacional

Os maiores percentuais de escassez de moradias foram observados nas regiões administrativas de média-baixa renda. O governo promete aumentar a entrega de moradias sociais como estratégia para amenizar o problema

A falta de moradias no Distrito Federal é uma realidade que evidencia desafios relacionados ao crescimento populacional, à urbanização desordenada e à desigualdade social. De acordo com os últimos dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF), seriam necessários mais 100.701 residências, cerca de 10% dos 963.812 domicílios estimados, para atender toda a demanda na capital do país.

Os maiores percentuais em deficit habitacional foram observados nas regiões administrativas de média-baixa renda (Brazlândia, Ceilândia, Planaltina, Riacho Fundo I e II, Samambaia, Santa Maria, São Sebastião e SIA), com renda domiciliar média de R$ 3.933 e 48.977 domicílios nesta situação, 48,64% do total. O estudo aponta que 81 mil domicílios em deficit eram alugados e que 46% não tinham escritura.

De acordo com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab), no ano passado, foram entregues 2.236 moradias populares à população de baixa renda. Para este ano, a expectativa é de que cerca de 7.093 unidades habitacionais sejam liberadas, um aumento de 217,22% em relação ao ano anterior. A Codhab afirma que essa expansão é um passo importante para reduzir o problema.  

O urbanista Pedro Grilo explica que o deficit habitacional envolve tanto a falta de moradias quanto a precariedade das condições de habitação. "As principais causas incluem a concentração de renda, o alto custo dos aluguéis e a falta de investimento em habitação social", diz.

Minervino Júnior/CB/D.A Press - Samambaia está entre as cidades em que há mais demanda do que oferta de habitações

Um dos principais programas habitacionais da região, o Morar DF, beneficia famílias com renda bruta de até cinco salários mínimos, facilitando o acesso à casa própria. Apesar dos avanços, especialistas apontam que as medidas ainda são insuficientes para enfrentar o problema em sua totalidade.  

Desafios e impactos  

Para Ovídio Maia, presidente do Sindicato da Habitação do Distrito Federal (SECOVI/DF), a falta de moradia reflete a ausência de planejamento habitacional desde a fundação de Brasília. Ele estima que seriam necessárias entre 130 mil e 150 mil moradias populares para atender à demanda atual. "É essencial a criação de políticas públicas voltadas para habitação, além de parcerias público-privadas e a cessão de terrenos pelo governo", afirma.  

A capital do país foi projetada inicialmente para comportar cerca de 500 mil habitantes. De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do Distrito Federal (DF) em 2024 era estimada em 2.982.818 habitantes. O IBGE projeta que em 2030 o DF chegará a 3.773 milhões de moradores. 

Maia também destaca que as altas taxas de juros para financiamentos dificultam o acesso à casa própria. "Com a dificuldade de compra, as pessoas recorrem ao aluguel. A alta demanda eleva os preços, em uma típica aplicação da lei da oferta e da demanda", explica. Ele ressalta a importância da conscientização social para evitar invasões de áreas públicas: "Quando se invade, o maior prejudicado é o invasor, e o custo de reverter os danos é alto e pago por todos". 

Ed Alves/CB - Precariedade das condições de moradia também contam com o deficit

Causas e estratégias 

O urbanista Pedro Grilo sugere estratégias como: conversão de edifícios comerciais vazios em residenciais, especialmente em áreas centrais, como o Setor Comercial Sul.  Adensamento urbano próximo à infraestrutura de transporte, como estações de metrô e BRT. Para ele, apenas a entrega de moradias não resolve o problema. É preciso incentivar o uso de imóveis desocupados e regularizar áreas habitacionais.  

Celestino Fracon, presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi), destaca que o deficit habitacional afeta principalmente as classes C, D e E. Ele atribui o problema à baixa oferta de lotes legais e à dificuldade de acesso ao crédito. "Com poucas opções de terrenos regulares, muitas pessoas recorrem a lotes ilegais. Além disso, o tombamento de Brasília e a falta de terrenos disponíveis justificam os altos preços no centro."  

Fracon sugere que a revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) autorize maior adensamento em áreas específicas, possibilitando mais construções e ampliação da oferta de imóveis.  

O impacto dos preços

O sonho da casa própria esbarra em preços altos e dificuldades de financiamento. Geovanna Soares dos Santos Diaquino, de 28 anos, mora com o marido e a filha em Taguatinga Sul e paga aluguel de R$ 1.400. "É muito ruim pagar por algo que não é seu", relata. Ela explica que, ao pesquisar imóveis na região, encontrou apartamentos de dois quartos por cerca de R$ 390 mil, um valor que considera desproporcional ao que é oferecido.  

De acordo com o Índice FipeZAP, os preços dos imóveis em Brasília subiram 2,96% em 2024, o maior aumento desde 2014. Brasília tem o sétimo metro quadrado mais caro entre as capitais brasileiras, com um valor médio de R$ 9.325/m². Áreas como o Sudoeste (R$ 12.181/m²) e Asa Norte (R$ 10.715/m²) estão entre as mais caras.  

O especialista Leonardo Guerra aponta que o deficit habitacional no DF também resulta do crescimento desordenado e da desigualdade no acesso ao mercado imobiliário. "Enquanto áreas de renda alta, como por exemplo o bairro do Jockey (entre o Guará e Águas Claras), recebem mais atenção para projetos de expansão. As áreas de baixa renda dependem de subsídios e programas sociais frequentemente insuficientes ou mal gerenciados", afirma.

Ele destaca a necessidade de descentralizar o desenvolvimento urbano, promovendo investimentos fora do Plano Piloto. "Projetos como o Centro Administrativo do GDF, em Taguatinga, poderiam contribuir para essa descentralização, mas ainda não foram efetivados."

Programa Morar DF

Lançado em junho de 2024, o programa Morar DF busca facilitar a aquisição de moradias para famílias de baixa renda. Idealizado pela Codhab em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh), o programa oferece um subsídio de R$ 15 mil para a entrada em imóveis, ajustado anualmente pelo Índice Nacional de Custo da Construção Civil (INCC).  

Embora iniciativas como o Morar DF representem um avanço, especialistas defendem que políticas mais amplas e integradas são essenciais para enfrentar a complexidade do deficit habitacional no Distrito Federal.

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