De um lado, os tradicionais tabuleiros de xadrez; de outro, competições modernas que exigem horas a fio de concentração. Em uma prateleira, foco na diversão das crianças; noutra, nos fãs de RPG. Na loja de jogos Toca do Tabuleiro, a especialidade é agradar a todos os públicos.
A empresa, criada em 2019, manteve-se exclusivamente na internet até 2021, quando inaugurou um espaço físico na 708/709 Norte. A mudança ocorreu devido à prosperidades dos negócios. Afinal, o mercado de jogos analógicos saltou durante e após a pandemia de covid-19.
"As famílias estavam isoladas e paradas em suas casas. Então, esses jogos apareceram como uma possibilidade de diversão, interação e forma de manter a cabeça ativa", explica Marcos César Alves, um dos sócios da Toca do Tabuleiro, idealizada pelo filho e também sócio, Marcelo Medeiros, desde cedo apaixonado por jogos de tabuleiro e RPG.
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Diversão à moda antiga
Apesar do otimismo com as vendas durante todo o ano, o Dia das Crianças, o Natal e o período de férias são as épocas mais lucrativas. "O público tem procurado muito os jogos para presentear. Dar um jogo de tabuleiro ou de cartas para uma criança tímida, por exemplo, é um ótimo incentivo à socialização. Além disso, tem sido um artifício para tirar os pequenos das telas", acrescenta Marcos. E os benefícios não param aí.
O estímulo mental, a melhoria da memória e o desenvolvimento de estratégias são alguns dos ganhos cognitivos. Soma-se a isso a redução do estresse, o desenvolvimento da paciência e o aumento da autoestima, visto que ganhar partidas ou simplesmente aprender a jogar impulsiona a confiança.
Jogos analógicos são aqueles que não utilizam dispositivos eletrônicos ou digitais, mas sim materiais físicos como cartas, dados, tabuleiros, peças, papel e caneta. Nos últimos anos, o crescimento desse mercado no Brasil tem refletido uma tendência global de busca por experiências lúdicas que unem diversão, estratégia e interação social. Mundialmente, o ramo movimentou mais de R$ 53 bilhões só em 2024.
Segundo o sócio da Toca do Tabuleiro, de 2022 a 2024, os ganhos aumentaram mais de 50%. "Vale pontuar que, apesar de serem jogos tradicionais, seu sucesso se deve, em grande medida, ao marketing digital", observa. E entre os adultos acima de 24 anos o interesse tem sido cada vez maior, provando que não há idade ideal para se divertir com partidas de War, Imagem e Ação ou Azul.
De acordo com a Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), os tabuleiros já representam 13,1% das vendas de brinquedos no país, um avanço significativo em relação aos 9,1% registrados em 2017. Esse crescimento movimenta não apenas o mercado de brinquedos, mas também impulsiona o surgimento de novos negócios, como luderias, lojas e empresas especializadas no desenvolvimento de jogos analógicos.
O universo das luderias
As luderias — também conhecidas como ludotecas — são espaços dedicados a jogos de tabuleiro, cartas, dados, peças, jogos narrativos, como os RPGs, entre outros. Verdadeiros refúgios para quem busca experiências lúdicas, os locais ainda oferecem a oportunidade de se desconectar do mundo virtual. As "disputas" são cara a cara. Seja em uma partida rápida com amigos, seja em uma maratona de jogos estratégicos, o universo das luderias oferece diversão para todos.
Caroline Magalhães, 31 anos, frequentadora de luderias e apaixonada por partidas de tabuleiro, afirma que os jogos vão além da diversão: são uma forma de conexão. "Eu comecei jogando com amigos em casa, mas logo fui procurar espaços onde pudesse experimentar novos jogos e conhecer mais gente. As ludotecas são ambientes incríveis, que criam uma sensação de comunhão e alegria. As pessoas podem se desconectar das telas e compartilhar momentos únicos de interação", afirma a professora de dança.
No Distrito Federal, a Ludoteca BGC é um dos espaços mais conhecidos e frequentados pelos amantes de jogos analógicos. Com um acervo de mais de 900 jogos, o local atende públicos de todas os perfis. Segundo o sócio-administrador da empresa, André Segovia, o público é variado, mas pode ser dividido em dois grandes grupos: os heavy gamers, que preferem partidas complexas e estratégicas jogadas em grupos menores; e os party gamers, que buscam competições mais leves e descontraídas, perfeitas para grupos grandes.
Localizada na Quadra 208 da Asa Sul, a loja também é conhecida por seus eventos regulares, como a Candango Geek, feirinha geek com concurso de cosplay, e torneios organizados por grupos locais, como o Smash Fellas. Além disso, o espaço planeja retomar, em 2025, eventos como campeonatos de jogos, bazares de troca e noites temáticas, que atraem tanto jogadores experientes quanto iniciantes.
O acervo da luderia é dividido em categorias que abrangem uma ampla gama de preferências: jogos cooperativos e competitivos, de raciocínio lógico, blefe, destreza e até humor ácido. "Pagando a diária, que custa entre R$ 15 e R$ 20, os clientes podem jogar quantos jogos quiserem até o fechamento da loja, e nossa equipe está sempre pronta para recomendar títulos e explicar regras", destaca André.
"Os jogos analógicos criam uma interação intimista, que é algo que muitas pessoas buscam hoje. O estigma de que jogos são apenas para crianças desapareceu nos últimos anos. Hoje, os jogos de tabuleiro atraem pessoas que buscam fugir das telas e viver experiências mais pessoais e imersivas", conclui o representante da Ludoteca BGC.
Foi depois de uma partida despretensiosa na casa de familiares que o estudante Eduardo Rezende se empolgou para conhecer mais sobre boardgames, jogos analógicos, porém com design e propostas modernas. "Com minha namorada, pesquisei jogos para comprar e descobrimos as luderias, que se tornaram nosso lugar preferido para nos reunirmos com nossos amigos", conta.
Entre a família, o gosto também pegou. "Quando criança, meu pai havia me ensinado a jogar xadrez e, recentemente, o convidei para jogar um boardgame. Ele se divertiu bastante e, então, resolveu comprar um novo kit de xadrez para nos divertirmos como antigamente", revela o jovem. Para ele, que se considera tímido, os jogos são uma oportunidade para interagir. "Mesmo que você não conheça a pessoa com quem está jogando, em alguns minutos se tornam amigos e se divertem bastante", completa.
Por dentro do RPG
Os Role Playing Games (RPGs) são jogo de interpretação de papéis, nos quais os jogadores assumem personagens e criam narrativas colaborativamente. O CapyCat Games é uma desenvolvedora referência no cenário nacional de jogos desse ramo.
"Para a gente, os profissionais de jogos nacionais não devem em nada para os do mercado estrangeiro. Nosso objetivo é criar jogos de qualidade, buscando trazer ao mercado brasileiro produtos que instigam a criatividade e o pensamento fora da caixa", conta Luiz “Busca”, designer gráfico e de jogos.
Segundo o designer brasiliense, o público do RPG gosta de saudar os jogos mais tradicionais, como as temáticas medievais. Naqueles de tabuleiros, há quem prefira jogos mais complexos e difíceis, para passar horas concentrado com os amigos, e quem curte os chamados “party games”, que são mais leves e rápidos. "Cabem numa mesa de confraternização para descontrair", destaca.
Para Luiz, jogar é muito mais do que um simples entretenimento. "É uma forma de compartilhar histórias, viver aventuras e, acima de tudo, se conectar com outras pessoas", conclui.
Os mais vendidos na Toca do Tabuleiro
Tradicionais:
- Jogo da Vida;
- Banco Imobiliário;
- War;
- Detetive;
- Perfil.
Estratégia:
- Dixit;
- Catan;
- Azul;
-Código Secreto;
- Ticket to Ride.
Diversão:
- Coup;
- Taco Gato Cabra Queijo Pizza;
- Bandido;
- É Top;
- Quem na Roda?
*Estagiária sob a supervisão de Eduardo Pinho
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