CB.DEBATE

É necessária uma ação integrada para frear a propagação da dengue

Especialistas apontam a vacinação, mudanças estruturais no atendimento hospitalar e a educação como principais formas de combate. E cobram uma campanha acirrada em favor da imunização de grupos mais vulneráveis da população

Às jornalistas Ana Maria Campos e Carmen Souza, os debatedores (ao centro) destacaram a questão da educação contra a dengue
 -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA Press)
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Às jornalistas Ana Maria Campos e Carmen Souza, os debatedores (ao centro) destacaram a questão da educação contra a dengue - (crédito: Ed Alves/CB/DA Press)

No segundo painel do CB.Debate sobre dengue, foram discutidos aspectos epidemiológicos, diagnóstico e tratamento. Os especialistas reforçaram a necessidade de ações integradas para conter a doença, destacando a importância da educação, da vacinação e da organização do atendimento médico.  

A professora Carla Pintas, da Universidade de Brasília (UnB), enfatizou que a dengue está presente no Brasil há mais de 40 anos e que o conhecimento do vírus é essencial para controlar sua disseminação. Ela destacou que medidas simples, como a limpeza semanal de ambientes para eliminar criadouros do mosquito Aedes aegypti, podem fazer grande diferença. Além disso, apontou o papel fundamental das escolas na educação sobre a dengue, ressaltando que crianças bem informadas podem ajudar a identificar focos do mosquito e influenciar hábitos dentro de casa. 

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O atendimento eficiente e oportuno aos pacientes também foi um dos pontos centrais do debate. A especialista alertou que, embora a hidratação seja o principal tratamento para a dengue, muitos casos se agravam devido à demora no atendimento ou à falta de reavaliação dos sintomas. "Os pacientes precisam de acompanhamento. Não basta atender e mandar para casa, pois a evolução para quadros graves pode ser rápida", explicou. Ela defendeu a ampliação das unidades de hidratação e a capacitação contínua dos profissionais da rede pública e privada, garantindo um encaminhamento adequado dos pacientes.

  •  30/01/2025 Ed Alves/CB/DA Press. CB Debate, Dengue uma luta de todos.
    30/01/2025 Ed Alves/CB/DA Press. CB Debate, Dengue uma luta de todos. Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press
  •  30/01/2025 Ed Alves/CB/DA Press. CB Debate, Dengue uma luta de todos.
    30/01/2025 Ed Alves/CB/DA Press. CB Debate, Dengue uma luta de todos. Ed Alves/CB/DA Press
  •  30/01/2025 Ed Alves/CB/DA Press. CB Debate, Dengue uma luta de todos. Painel 2. Na Foto Carla Pintas, professora de saúde coletiva da UNB.
    30/01/2025 Ed Alves/CB/DA Press. CB Debate, Dengue uma luta de todos. Painel 2. Na Foto Carla Pintas, professora de saúde coletiva da UNB. Ed Alves/CB/DA Press

Outro ponto discutido foi a baixa adesão à vacinação. Carla defendeu uma ação conjunta entre as Secretarias de Saúde e Educação para promover a imunização dentro das escolas. "Não devemos esperar o primeiro caso na família para tomar essa decisão. A vacina é uma ferramenta essencial no combate à dengue", reforçou.

O pesquisador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde Pública da Fiocruz Brasília, Cláudio Maierovitch, também presente no debate, reforçou a importância da vacinação nas escolas. "São quase quatro décadas de estratégias que não conseguiram eliminar o mosquito. Isso não significa que devemos interromper esse combate, mas estamos diante de uma grande mudança: a vacina. A expectativa é que, em alguns anos, ela poderá controlar a dengue no país", disse. 

No momento, a vacinação está restrita a crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, o que exige estratégias eficazes para ampliar a cobertura vacinal. "Temos a experiência da vacina contra o HPV. O Brasil bateu recorde mundial de cobertura na primeira dose porque levou a vacinação para as escolas. Porém, a segunda dose exigia que os adolescentes fossem até as unidades de saúde, e a adesão caiu drasticamente. Ou seja, aprendemos uma lição: é fundamental que as secretarias de Saúde do país atuem dentro das escolas para garantir a vacinação dos estudantes. Isso não pode esperar", completou.

Letalidade

O pesquisador também chamou atenção para a gravidade da situação no Distrito Federal, que teve a maior incidência de casos de dengue no país no ano passado, com uma taxa de letalidade duas vezes maior que a média nacional. "A capital federal registrou uma letalidade oito vezes maior que a do município do Rio de Janeiro. Algo deu errado. E não é a primeira vez que vemos essa alta mortalidade e a repetição de problemas. Diante do grande número de casos, praticamente todo mundo conhece alguém que teve dengue. Muitos pacientes relataram a mesma situação: buscavam atendimento e não encontravam. É essencial que, neste ano, o cenário seja diferente, com profissionais devidamente preparados para essas emergências. E essa preparação não pode se limitar a documentos. Ela precisa ser efetiva", alertou.

Coordenadora-geral de arboviroses do Ministério da Saúde, Lívia Vinhal participou da discussão e lembrou que problemas estruturais, como a inconstância no abastecimento de água em áreas periféricas, contribuem para o armazenamento inadequado de água, aumentando os focos do mosquito. Para ela, enfrentar a dengue exige políticas públicas que garantam infraestrutura adequada às comunidades mais vulneráveis.

A especialista apontou que o Brasil enfrenta uma preocupante escalada de casos de dengue, com epidemias cada vez mais frequentes. "Os casos passaram a ser contados aos milhões a partir de 2010. Tínhamos, antigamente, um intervalo um pouco menor entre epidemias e, hoje, se vocês acessarem qualquer dado histórico do Ministério da Saúde, poderão observar que esses intervalos têm sido cada vez mais curtos. Nem sempre as mesmas regiões se repetem, mas isso mostra o quanto o nosso desafio é grande", enfatizou.

Preocupação

A rápida disseminação dos vírus da dengue pelo país, impulsionada pelo intenso deslocamento de pessoas, é um fator que preocupa as autoridades. "O vírus presente no Amapá, ou na América Central, pode rapidamente chegar a grandes cidades do Sudeste e do Sul do Brasil", alertou Lívia.

Segundo a coordenadora, o Ministério da Saúde está revisando diretrizes para o enfrentamento da doença, incorporando novas tecnologias para o controle do mosquito. O uso de estratégias inovadoras, como estações disseminadoras de larvicidas e a introdução do Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, faz parte desse esforço. "O Brasil está em um caminho sem volta rumo à inovação no combate à dengue", afirmou.

Vinhal também destacou que há expectativa para a incorporação de uma vacina contra chikungunya, outra arbovirose de grande impacto no Brasil. "A chikungunya pode causar sequelas prolongadas, comprometendo a qualidade de vida e a capacidade de trabalho das pessoas. Estamos acompanhando de perto a evolução das vacinas para essa doença e esperamos incorporá-las ao SUS em breve", explicou.

 

Carlos Silva
Maria Eduarda Lavocat
Pablo Giovanni
postado em 31/01/2025 03:30 / atualizado em 31/01/2025 06:26