
Brasília é uma cidade jovem, mas acumula diversos pontos que reúnem antiguidades. Com vários antiquários, muitos gerenciados por famílias que os passam de geração em geração, o Distrito Federal é um oásis não somente para colecionadores, mas todos que se interessam por itens que atravessam o tempo e retratam a história da capital. Focado principalmente na mobília antiga, o Pé Palito Antiquário e Arte, na CLN 213, é um paraíso para a criatividade dos arquitetos e designers de interiores. Com itens de épocas variadas, o antiquário possui peças de grandes nomes da arquitetura contemporânea.
"É um lugar muito rico para achar peças com design brasileiro, reconhecido e de outras épocas. Não adianta decorar uma casa com itens só de uma época, variar enriquece o ambiente", conta a arquiteta Nazareth Pinheiro, de 52 anos. Ela conta que um dos achados que mais a impressionou foi uma coleção de serigrafias de Athos Bulcão, que fizeram a arquiteta lembrar de uma cliente, que adora as obras do artista. "Já fotografei e mandei para ela, acabo fazendo esse trabalho enquanto dou uma olhada nas novidades que chegaram aqui", conta.
Na loja, sempre chegam peças novas, algumas são por si só uma aula de história, como as joias de crioulas que estavam à venda. As peças, confeccionadas entre os séculos 18 e 19 no Brasil, eram utilizadas por mulheres negras escravizadas, alforriadas ou libertas e, em seus detalhes, mostram um pouco do que era carregado por essas pessoas há centenas de anos atrás.
Para Marcelo Henrique, 56, proprietário do antiquário, as antiguidades são todas muito preciosas, mas algumas tem um lugar especial em seu coração e no Pé Palito. "Nosso foco é mesmo o mobiliário dos anos 1950 e 1960", conta ele, que explica que o nome da loja é, inclusive, uma homenagem ao formato dos pés dos móveis de madeira dessa época, esculpidos como um palito.
O antiquário existe há quase 30 anos, e é fruto de um interesse transmitido de mãe para filho. "Ela trabalhou com antiguidades, e eu sempre gostei de ajudar. Acabei seguindo esse caminho", conta Marcelo. Agora, mais uma geração é envolvida, com seu filho, Lucas Henrique, 29, que faz a curadoria das peças.
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Uma mistura de tudo
Assim como Marcelo, Tatiane Torquato, 37, também construiu desde cedo o amor pelas relíquias. Dona do Antiquário Torquato, na Quadra 6 do Paranoá, ela passou a gerenciar o estabelecimento após a aposentadoria de seu pai, Edinaldo Torquato, no ano passado. "É um trabalho que vem de família. Meu pai é pioneiro nessa rua. Viemos do Rio e aqui expomos na feira de antiguidades no Gilberto Salomão. Ao longo desses mais de 20 anos, o Paranoá foi crescendo como um polo de antiguidades do Distrito Federal", conta a comerciante.
Os clientes da família Torquato são diversos, e não somente colecionadores, como é pensado pelo imaginário popular. "Muitas vezes, a pessoa gosta de itens clássicos, mas, às vezes, só está procurando uma peça mesmo para compor o ambiente", defende.
Após o pai de Tatiane abrir a loja, em 1999, a quadra foi atraindo mais negócios do ramo. Nas redondezas, além de outros antiquários, há brechós e lojas especializadas em móveis vintage. Tatiane relata, porém, que o que hoje é o trabalho de mais de uma geração, começou acidentalmente. "Meu pai era camelô no Rio de Janeiro, conhecido por vender moedas antigas. Aqui, temos um baú cheio delas, era a especialidade dele. Foi crescendo os itens, vendendo em feiras e, hoje, temos um volume bem grande de itens."
Além da loja, em seu quiosque no Centro Comercial Gilberto Salomão, no Lago Sul, a família vende itens ainda mais antigos e menores. "Tem de tudo lá. Moedas, joias, coisinhas menores que a gente seleciona e leva para expor lá", explica. Para Tatiane, o Torquato é um grande acervo, por reunir itens diversos, vindos de muitas épocas e lugares distintos. "Cada antiquário tem uma vertente, aqui é como um antiquário brechó. Tem antiquários que mexem com a vertente de arte, de colecionismo, a gente é uma mistura de tudo", diz.
Preservar a história
Para a historiadora da arte Rita Lages, os antiquários funcionam como uma ferramenta para guardar a memória coletiva local. "Esses espaços são lugares nos quais as pessoas podem valorizar essa materialidade. Eles são importantes para preservar essa memoria material", conta. A especialista completa que os objetos ultrapassam seu valor monetário e histórico, e ocupam um espaço afetivo para quem aprecia as relíquias. "Os indivíduos se relacionam com esses objetos, seja uma lembrança da casa da avó, de outra época. Levam, por meio da lembrança, a algum contexto", completa.
Ana afirma, também, que as antiguidades não se referem apenas aos seus propósitos, como mobiliário, artístico ou vestuário, mas significam também um olhar para a forma de pensar do passado. "Eles refletem sobre o que era feito, como era feito e porque era feito. É mesmo uma memória coletiva e cultural preservada", finaliza.
Saiba Mais
Visite
Torquato Antiquário
Endereço: Quadro 06 conjunto C, loja 02 - Paranoá
Instagram: @torquatodecoracao
Telefone: (61) 99905-3969
Pé Palito Antiquário e Arte
Endereço: CLN 213 BL A Lojas 09, 11 e 13
Instagram: @pepalitoantiquario
Telefone: (61) 99269-2602