Bem perto do centro da capital federal, a histórica Vila Planalto mistura o aspecto simples, que retrata suas origens, com um mercado gastronômico movimentado, atraindo brasilienses dos quatro cantos do quadradinho. Das praças pacatas às rodas de samba nos restaurantes, a região tem atrações para todos os gostos e faixas etárias.
Além disso, a proximidade da Vila com a orla do Lago Paranoá, museus e monumentos, como os palácios da Alvorada e do Jaburu atrai visitantes interessados no turismo local. Criada em 1957, a Vila Planalto assistiu de perto ao crescimento de Brasília. Ainda que não tenha seguido o ritmo acelerado da capital federal, o bairro se desenvolveu sem perder o charme e suas características.
Movimento
Morador da Vila desde 1976, Geraldo Leal, de 65 anos, declara-se ao bairro onde mora desde a adolescência. "Eu vi a Vila crescer e se tornar o que é hoje. É o melhor lugar de Brasília para viver." Ele chegou a morar no Gama, mas diz que a Vila Planalto não se compara com nenhum outro lugar.
Ainda que prefira a tranquilidade das pracinhas, ele aprecia também o movimento que os restaurantes locais e a orla do Lago Paranoá despertam, visitando esses lugares com frequência para momentos de lazer. "A gente tem essa facilidade de tomar banho no lago. Apesar de não ter praia, temos o lago, que é uma vantagem. Na época de calor, todo mundo corre para a beira do espelho d'água, principalmente nas proximidades da Concha Acústica. Lá é onde a gente se refugia", afirma.
Um dos espaços que contribui com o movimento da região é o Restaurante da Tia Zélia, conhecido por suas tradicionais rodas de samba. O Samba da Tia Zélia nasceu por vontade da proprietária do estabelecimento de movimentar a vida cultural da região. Desde 2022, o local virou palco para shows quinzenais de bandas e atrai pessoas de diferentes regiões do DF.
Sócia-fundadora e produtora da Banda Residente, Mel Silva diz que ter diferentes opções de arte e música são grandes aliados no bairro para atrair um público cada vez maior, fazendo com que a Vila seja não só um polo gastronômico, mas também um polo cultural e artístico. Com tantos restaurantes na região, as atrações musicais acabam sendo um diferencial para que o Restaurante da Tia Zélia atraia o público brasiliense.
Cultura
Outro atrativo acessível para a comunidade da Vila Planalto é o Museu de Arte de Brasília (MAB), que oferece a oportunidade de explorar, com entradas gratuitas, uma diversidade de obras de arte. Coordenadora pedagógica do MAB Educativo, Isabela Formiga explica que o museu tem atividades como pintura em aquarela, estêncil, oficina de carimbo e frotagem, jogos teatrais e contação de histórias, que é voltada para crianças.
Primeiro museu da capital federal, o MAB funciona desde 1975 na Vila Planalto e, após 14 anos fechado, voltou a funcionar em 2021. Hoje ele recebe visitantes de todo o país e do Distrito Federal. Isabela destaca que recentemente receberam um grupo de idosos da Vila para um tour, o que auxiliou a democratização da arte para a comunidade idosa local.
"Eu acho que os museus, não só o MAB, contribuem muito para a formação das pessoas. O acervo do MAB é muito importante para a história de Brasília e da arte contemporânea brasileira. Então, o fato de as pessoas poderem ter acesso a essas obras pessoalmente, causa um impacto muito maior na sua interação com a arte", ressalta a educadora.
As obras atraem até quem é de fora da capital. A mineira Rosângela Francisco, 70, é apaixonada por arte e encontrou no MAB um espaço para conhecer novas obras gratuitamente. Ela comenta que esperava ver mais obras de artistas independentes, mas valoriza a importância de um local que permite acesso à cultura próximo ao centro de Brasília.
Tranquilidade
Apesar das diversas opções de lazer, a Vila ainda se mostra como um lugar pacato para seus moradores. Vivendo há três anos no bairro, o aposentado Juarez Basílio, 82, é de Belo Horizonte e diz que passou por diversas cidades, mas que finalmente achou na Vila Planalto um lugar para morar.
Mesmo reclamando que o local está ficando mais caro, ele aprecia a segurança e calmaria que encontra nas ruas. Ainda que goste do movimento que o comércio local oferece, ele diz que prefere a tranquilidade do interior da Vila, outro grande atrativo para os idosos que moram na região. "Não tem tanta diversão aqui no centro, mas tem os amigos. Eles vêm bater papo na praça e a gente leva a vida desse jeito", relata.
Para o historiador Pierre Grangeiro, a Vila Planalto mantém seu aspecto de cidade pacata, mesmo com seu segmento gastronômico movimentado e a proximidade do Plano Piloto. "Ela se manteve como uma vila por representar um símbolo do povo, como se tivesse o povo vivendo dentro de um palácio, uma região extremamente de poder, onde as grandes decisões políticas do Brasil são tomadas e a gente tem ainda uma representação popular", opina.
Grangeiro explica que o bairro surgiu para abrigar os candangos durante a construção da capital. Depois da inauguração, os moradores se sentiam identificados, e acabaram se estabelecendo ali. As mais de duas décadas de luta para evitar despejos, transformaram a Vila Planalto em símbolo da classe trabalhadora, o que contribui com o aspecto humilde que mantém até hoje, abrigando diferentes classes sociais.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
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