Brutalidade

Degola e tráfico: execução de Samuel expõe face cruel do Comboio do Cão

Na capital da República, a facção Comboio do Cão (CDC) tenta encontrar meios de atuação e demonstração de poderio

Samuel Soares foi encontrado degolado e com a mão decepada no meio da mata em Samambaia Norte -  (crédito: Reprodução/Redes sociais)
Samuel Soares foi encontrado degolado e com a mão decepada no meio da mata em Samambaia Norte - (crédito: Reprodução/Redes sociais)

Execuções escancaradas, requintes de crueldade, uso de armas de grosso calibre e articulação para o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Na capital da República, a facção Comboio do Cão (CDC) tenta encontrar meios de atuação e demonstração de poderio. Contidos pelas ações policiais, continuam a demonstrar audácia e destemor.

A mesma organização criminosa está por trás do assassinato brutal de Samuel Soares Marques, 14 anos, encontrado degolado e sem uma das mãos. O adolescente trabalhava na venda de drogas em uma distribuidora gerida pela facção e teria desviado dinheiro, criando uma espécie de “caixa 2”. O prejuízo financeiro causado pelo menor teria motivado a execução, segundo a Polícia Civil.

O Comboio do Cão surgiu há mais de 15 anos. De dentro da Penitenciária do Distrito Federal 2 (PDF 2) no Complexo Penitenciário da Papuda. Entre 2008 e 2009, três detentos, conhecidos como Rogério Peste, Marcão 121 e Marcelo Lacraia, decidiram fundar a facção. No começo, a maioria dos membros era de dentro da cadeia, mas à medida que ganharam a liberdade, as diretrizes foram destinadas a outras pessoas. Entre os nomes estão: Fabiano Sabino, vulgo FB, preso desde 2017 e Willian Peres Rodrigues, o Wilinha, que estava foragido desde 2019 e foi capturado em Paranhos (MS) no final de abril de 2021.

Desde o surgimento, a base da facção opera em pontos estratégicos no Riacho Fundo 2, como em bares e em casas de criminosos. São nesses locais que os integrantes armazenam as armas e drogas que vêm de outros estados e do Paraguai. Boa parte dos armamentos são Glock .9mm e .40. Algumas vêm com um marcador de chassi com as letras “FB”, referindo-se a Fabiano. Em um dos depoimentos cruciais para a investigação, uma testemunha revelou, ao menos, cinco locais diferentes onde os faccionados escondiam os ilícitos.

Ação

A disputa por pontos de tráfico de drogas resultou em inúmeros assassinatos embasados no “acerto de contas”. No DF, o CDC é investigado em, pelo menos, 500 ocorrências e 30 homicídios. Em reação à criminalidade, as operações desencadeadas pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e do MPDFT impedem o crescimento do grupo.

Dados obtidos pela reportagem mostram que, entre 2019 e 2024, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) deflagrou 13 grandes operações contra o Comboio do Cão, o que resultou na prisão de 102 pessoas. Os números são maiores ao acrescentar as operações desencadeadas pelas delegacias circunscricionais e outras especializadas.

A morte de Samuel foi mais uma das ações do grupo. O caso gerou repercussão em todo o DF pela brutalidade e pela idade da vítima, 14 anos. Em um tempo recorde, policiais civis da 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte), identificaram a autoria e a motivação do homicídio e capturaram dois autores.

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Os presos, de 22 e 23 anos, são os mesmos que estavam em um carro preto usado para buscar Samuel na casa dele, no Recanto das Emas, na segunda-feira (6/1), mesma data em que o corpo foi encontrado. À polícia, os suspeitos contaram que convidaram Samuel para tomar banho na cachoeira do Jacaré, em Samambaia, mas que não tinham a intenção de matá-lo. No local, contudo, houve uma discussão, que resultou na morte do adolescente.

O corpo do menor foi encontrado em meio a uma área de mata, na Quadra 623 de Samambaia. Samuel estava degolado e com uma das mãos decepadas. O segundo preso confessou o crime à polícia. Alegou que usou um facão para matar o adolescente, sendo que, de acordo com ele, um dos golpes acertou a mão da vítima, decepando-a, e o pescoço. Após isso, o grupo foi embora no Honda Civic Preto. Em depoimento, um dos autores contou que foi para a casa e “ficou de boa”.

As investigações revelaram que Samuel se envolveu no mundo do crime há pouco mais de um ano e tinha a função de auxiliar no tráfico de drogas para membros do Comboio do Cão. “Ele atuava nos pontos de venda dos traficantes, substituindo outros membros do grupo quando necessário. Durante esse período, o adolescente contraiu uma dívida com um dos integrantes do CDC, o que motivou os traficantes a decidirem pela sua execução”, afirmou o delegado-adjunto da unidade policial, Gustavo Farias.

Os dois homens foram presos temporariamente e a polícia continua com as apurações.

Darcianne Diogo
postado em 11/01/2025 12:20 / atualizado em 11/01/2025 12:20
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