No coração do Núcleo Rural Córrego do Urubu, no Lago Norte, está a Hypnacoteca Maravalhas - Museu do Urubu, um espaço dedicado à vasta obra de Nelson Maravalhas Júnior, 68 anos, artista plástico, professor aposentado da UnB e pesquisador de artes visuais, com mais de 50 anos de trajetória. A iniciativa, que foi idealizada por Nelson em parceria com sua esposa, Nuara Visintin, é um projeto autofinanciado que tem como objetivo reunir preservação ambiental, arte e inovação cultural.
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A galeria foi inaugurado oficialmente em 20 de julho de 2024, com a exposição Pinturas Hipnagógicas. Atualmente, o espaço abriga 111 obras do artista distribuídas em 11 salas. "Esse local vai guardar em melhores condições o trabalho dele e, por outro lado, tornar pública as obras do artista e, no futuro, ser fonte de pesquisa do legado dele", explicou Nuara ao Correio.
Criação
Nascido no Rio de Janeiro, com 11 anos de idade Maravalhas chegou a Brasília, onde formou-se em Comunicação e em Artes Visuais pela Universidade de Brasília (UnB). Foi professor da UnB de 1986 a 2016. A ideia do museu surgiu em 2017, durante a permanência de Nelson em Berlim, na Alemanha. Ao retornar ao Brasil, o casal decidiu utilizar a chácara adquirida por Nelson em 1994 como espação para esse projeto. "Foi um período de muita burocracia, mas o Nelson fez tudo dentro dos acordos ambientais, com o mínimo de desmatamento possível", explica a esposa.
Segundo Nuara, 41, professora de artes e artista plástica, tudo foi planejado com o objetivo de respeitar a biodiversidade local, adotando soluções sustentáveis como o uso de energia fotovoltaica ou solar. "A chácara que nós moramos foi considerada um modelo em termos de preservação ambiental também porque é a residência que menos desmatou na região para construir a casa. Ainda que tenhamos desmatado, foi o mínimo possível para fazer o museu e ele ficar mais integrado com a área", recorda-se.
A criação arquitetônica ficou sob a responsabilidade do filho de Nelson, Raul Maravalhas, e do arquiteto Danilo Fleury. O processo de construção, liderado pelo mestre de obras Francisco Daniel, levou dois anos e meio para ser concluído, com o obejetivo de criar um espaço que harmonizasse arquitetura contemporânea com o ambiente natural ao redor. "Começamos os orçamentos para poder levantar o prédio, que foi construído com os recursos do Nelson. Porém, o museu ainda não está totalmente acabado, temos muito a fazer", apontou Nuara.
Nomenclatura
A iniciativa batizada Hypnacoteca é um neologismo que combina hipnagógico (estado entre o sono e a vigília) com pinacoteca (local de pinturas). No caso do Museu do Urubu, a área faz referência à região em que está situado, conectando a galeria de arte à paisagem.
Para Nuara Visintin, a criação do local foi feita com o intuito de perpetuar o trabalho de Nelson. "Queremos mostrar para o público de todas as idades essa produção de uma vida inteira. É uma produção tão vasta de mais de 50 anos e, por isso, o museu nasce com esse desejo e necessidade de apresentar grande parte das produções dele", declarou.
As técnicas e temas produzidos por Maravalhas apresentam semelhanças com o surrealismo, movimento artístico que valoriza a fantasia e a loucura. Segundo Nuara, o trabalho do marido é fruto de um diálogo entre a tradição artística e influências contemporâneas. "O Nelson tem interesse por uma arte mais renascentista, de certa forma mais canônica. Mas por um outro lado, uma inspiração nos pintores psicóticos e criadores considerados "outsiders". Isso tudo acaba entrando no trabalho dele como pintor", explicou.
Projeções
De acordo com a esposa de Maravalhas, ainda há planos para expandir o espaço e também a programação. "O museu está em fase de conclusão. Estamos construindo na parte externa um palco e uma escadaria que servirá como um anfiteatro para apresentações teatrais, saraus e outras formas de arte de qualquer natureza", destacou.
O casal também planeja implementar cursos teóricos e práticos, além de parcerias com a Secretaria de Educação para que escolas e universidades visitem o espaço. "O Nelson quer muito que esse projeto chegue às crianças e adolescentes do Distrito Federal, especialmente dos colégios públicos, mas também às faculdades. O museu também tem uma função educativa que é muito importante para nós", afirmou.
Nuara Visintin ainda destaca os próximos do casal. "Queremos viabilizar, por meio de verbas públicas, um programa educativo sólido, com mediadores e uma equipe mais profissionalizada para atender melhor o público que vier visitar a galeria, porque, atualmente, o museu ainda está em uma configuração muito familiar", acrescentou.