Lygia Caldas Pereira, mãe de Eduardo Jorge Caldas Pereira — ex-secretário-geral da Presidência da República do governo Fernando Henrique Cardoso (1997-2002) — faleceu, nesta sexta-feira (3/1), aos 108 anos, por complicações de uma pneumonia. Discreta, mas com grande impacto entre os que a conheceram, ela deixa um legado de valores éticos e familiares marcantes, além de uma trajetória que atravessou décadas de transformações em Brasília, cidade à que chegou em 1962 e na que foi pioneira.
Natural do Piauí, dona Lygia nasceu em 1916 e viveu uma vida dedicada à família e à construção de laços sólidos com todos ao seu redor, como contam amigos e parentes. Seus 13 filhos, dizem que ela foi uma inspiração pela força, resiliência e sensibilidade.
"Minha mãe era uma fortaleza. Nos criou com dedicação e ensinou princípios de correção, honradez e honestidade, que nos guiaram por toda a vida", afirmou o ex-secretário-geral Eduardo Jorge. Além de dedicação materna dedicada, ela foi muito ativa no DF, presidindo a Ação Social do Planalto e a Casa do Candango, sendo também presença relevante no Clube Internacional de Brasília.
Rodrigo Jorge Caldas Pereira, o caçula e único nascido na capital federal, lembrou que a mãe construiu uma vida que combinava força, amorosidade e princípios éticos. "Minha mãe era a força do amor e da boa luta. Dedicou-se à família com entrega, garra e um profundo apreço pela honestidade e pela verdade. Ela foi ativa até os últimos anos, e sua partida foi serena, como foi sua vida", recordou.
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Avó coruja
Para o neto Vitor Meira, ex-piloto da Fórmula Indy, as lembranças da avó estão entrelaçadas com momentos marcantes de sua carreira e vida pessoal. "Ela sempre torceu muito por mim durante os 10 anos em que competi na Fórmula Indy. Quando fui vice-campeão duas vezes, ela fazia questão de dizer que, para ela, eu era o campeão", relembrou Vitor.
Dona Lygia participava constante e carinhosamente na vida dos netos, incentivando-os e celebrando suas conquistas. Meira também destacou a atmosfera acolhedora que ela tinha ao seu redor. "Foi e continua sendo um privilégio passar a vida aqui no 'jardim' dela", afirmou, em referência ao lar que a avó construiu como ponto de encontro e união familiar.
Amizade
A ex-deputada federal Maria Abadia lamentou profundamente a perda da amiga, destacando o impacto de sua trajetória como mãe, pioneira em Brasília, de espírito acolhedor e alegre. "Ela era uma guerreira, uma mulher fantástica, um exemplo de luta, responsabilidade, ética e amizade", disse Abadia, lembrando a força de dona Lygia.
Para a ex-parlamentar, a casa de Lygia era um espaço de acolhimento e encontros. "Ela tinha uma energia incrível, era uma mulher muito alegre e acolhedora. Sua casa era um lugar de reuniões e eventos, sempre cheia de vida", relembrou. A ex-deputada também destacou a contribuição de Lygia em Brasília e o impacto que sua partida terá na cidade. "Brasília perdeu uma pioneira. É muito triste quando se vai alguém que só espalhou alegria. Parece que o mundo ficou mais vazio", considerou.
Abadia ressaltou o exemplo deixado pela piauiense, que soube preparar filhos e netos para se tornarem respeitados e destacados em suas áreas de atuação. "Ela transmitia felicidade, sabia de tudo, e acompanhava a vida dos filhos com muita dedicação. Sua perda é muito grande, não apenas para a família, mas também para todos que tiveram o privilégio de conhecê-la", considerou.
Passagem serena
Nos últimos anos, dona Lygia enfrentou os desafios da longevidade com serenidade. Cercada pelos família, permaneceu lúcida e ativa até o final. A celebração do último aniversário, há menos de um mês, reuniu 93 membros da família, entre filhos, netos, bisneto, genros e noras. "Foi um momento inesquecível. Para nós, foi mais uma prova do quanto ela viveu intensamente", relembrou o ex-ministro com carinho.
Ela deixa 9 filhos vivos, 29 netos e 29 bisnetos. O velório e sepultamento do corpo da idosa será realizado no cemitério Campo da Esperança da Asa Sul, ainda sem data confirmada.