RELIGIÃO E FÉ

As mensagens de religiosos para refletirmos e alcançarmos a paz em 2025

O Correio ouviu líderes espirituais, que fizeram uma reflexão sobre o ano que passou e desejaram um 2025 de tranquilidade

O Monge Keizo Doi,  frente do Templo Shin Budista Terra Pura, distanciar-se do sentimento de ódio é fundamental  -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
O Monge Keizo Doi, frente do Templo Shin Budista Terra Pura, distanciar-se do sentimento de ódio é fundamental - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

Possibilidade de recomeçar. É assim que a passagem de ano é vista por muitos. Entre as aspirações para o ciclo que se inicia nesta quarta-feira (1/1/25), o desejo pela paz é como um elo invisível que une todos os indivíduos, independentemente de nacionalidade ou religião. O Correio conversou com líderes religiosos de diferentes vertentes que, com base em suas crenças — do budismo à umbanda — refletiram sobre 2024 e  destacaram a importância de buscar a paz.

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Diversas vertentes, um desejo

Para o monge Keizo Doi, à frente do Templo Shin Budista Terra Pura, tombado em 2014 como Patrimônio Histórico da capital, as palavras do Buda Shakymuni traduzem bem o que é necessário para alcançar a paz. "Neste mundo, o ódio jamais é vencido pelo ódio; o ódio só se extingue ao ser abandonado. Esta é a lei imutável", destacou. 

O monge acrescentou que as grandes guerras não começam na ponta da arma, mas no interior de cada pessoa. "Elas surgem em nossas visões e se manifestam em nossas palavras. Ao final, se tornam reais, reproduzindo incessantemente o ódio. Esse ciclo cresce infrene, se nós não abandonamos o ódio", ensinou. 

Para alcançar a paz, é preciso, segundo Doi, distanciar-se do sentimento maléfico. "Muitas vezes, podemos nos encontrar numa situação em que não há possibilidade de amar pessoas por alguma razão ou outra. Mas devemos manter sempre a capacidade de largar o ódio, pois talvez essa seja a única maneira de pacificar nosso mundo. Se todo mundo praticar isso no dia a dia, a paz poderá nos visitar amanhã", afirmou. 

  •  Padre Agenor Vieira, pároco da Catedral de Brasília, ensina que é preciso ressignificar o passado para recomeçar este ano
    Padre Agenor Vieira, pároco da Catedral de Brasília, ensina que é preciso ressignificar o passado para recomeçar este ano Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Verônica Maia Baraviera, sócia-fundadora e vice-presidente do Centro Espírita Paulo de Tarso, acredita que, para alcançar a paz, é essencial voltar o olhar para dentro de si mesmo
    Verônica Maia Baraviera, sócia-fundadora e vice-presidente do Centro Espírita Paulo de Tarso, acredita que, para alcançar a paz, é essencial voltar o olhar para dentro de si mesmo Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • "Temos mais de 330 terreiros em Brasília, e a gente fala a mesma língua: o que a gente quer para 2025 é paz", Mãe Baiana, presidente do Terreiro Ilê Axé Oya Bagan,
    "Temos mais de 330 terreiros em Brasília, e a gente fala a mesma língua: o que a gente quer para 2025 é paz", Mãe Baiana, presidente do Terreiro Ilê Axé Oya Bagan, Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Do candomblé, Mãe Baiana de Oyá, presidente do Ilê Axé Oyá Bagan, ressaltou que os povos e comunidades tradicionais de matriz africana esperam por um ano tranquilo. "Temos mais de 330 terreiros em Brasília, e a gente fala a mesma língua: o que a gente quer para 2025 é paz", o apelo da Mãe Baiana refere-se, também, ao racismo religioso, que infelizmente é vivenciado por quem frequenta a religião. 

"A nossa ancestralidade e nossos antepassados deixaram esse legado em nossas mãos, nos ensinaram a sempre pedir por paz. A gente quer paz para nós, para os moradores de Brasília e também para os governantes", disse. 

Ela lembrou do ataque ocorrido em novembro do ano passado no Supremo Tribunal Federal (STF), declarando que o fato estremeceu a tranquilidade do brasiliense. Mãe Baiana enfatizou que discussões políticas, sem embasamento, têm afastado famílias e polarizado a sociedade. "Atualmente, as discussões políticas, que não carregam conteúdo, como a gente de fato queria, têm trazido ataques pessoais e dividido famílias e a sociedade; vamos aguardar que tenhamos um ano diferente. A palavra que deixo a todos é que soltem o ódio. Muito axé para todos e um feliz 2025!"

Padre Agenor Vieira, pároco da Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida de Brasília, afirmou que para ter paz é necessário que haja ordem. "A paz é a ordem e, para que nós possamos tê-la, é preciso colocar em prática a ressignificação, ou seja, voltar atrás, no ano passado, e olhar com fé, de modo positivo e com esperança, os fatos acontecidos, ressignificando os pontos negativos e agradecendo a Deus os pontos positivos."

O pároco ressaltou que é importante adentrar o novo ano com esperança, agradecendo a Deus a oportunidade que concedida de recomeçar. Para ele, colocando em prática as duas palavras (ressignificar e recomeçar), é possível alcançar a ordem interior e, consequentemente, a paz. "O fundamento da ordem é Cristo, que é o príncipe da paz, então se nós queremos paz, devemos querer a Deus. Se a gente tem Deus, a gente tem paz. Nessa passagem de um ano para o outro, devemos ter essas duas palavras como carro-chefe —  ressignificar e recomeçar. 

Para Verônica Maia Baraviera, sócia-fundadora e vice-presidente do Centro Espírita Paulo de Tarso, localizado no Lago Norte, os moradores de Brasília detêm o privilégio de uma vida muito mais tranquila do que aqueles que residem em outras grandes cidades ao redor do mundo. No entanto, em sua visão, o território brasiliense ainda sofre com deficiência de paz interior, o que considera fundamental para o bem coletivo.

"Para 2025, é essencial voltarmos nosso olhar para dentro de nós mesmos. Devemos cuidar com amor das preciosidades que Deus nos confiou: nosso corpo, nossa família, nossos amigos. Cada ano novo traz consigo a oportunidade de recomeçar, de construir a verdadeira felicidade, que nasce de nossas ações conscientes e da confiança plena em Deus", aconselhou. 

Ao analisar o panorama dos acontecimentos em 2024, Verônica comentou que "esses acontecimentos  e refletem uma sociedade que, muitas vezes, tenta encontrar consolo apontando os defeitos alheios, ao invés de encarar suas próprias responsabilidades. Porém, é importante lembrar que estamos avançando. Houve um tempo, por exemplo, em que a violência doméstica sequer era reconhecida pela lei; hoje, temos legislações e movimentos dedicados à proteção das vítimas e à promoção da justiça. Esses desafios, por mais dolorosos que sejam, fazem parte do amadurecimento coletivo da humanidade, que caminha, ainda que lentamente, rumo a um mundo mais equilibrado e justo". 

O pastor Sílvio Sobrinho, da Assembleia de Deus do Guará, espera dias melhores. "Temos visto tantos casos de feminicídios na capital, assaltos e tantas coisas ruins... nós, cristãos evangélicos, cremos que isso acontece porque o ser humano distanciou-se de Deus. A palavra 'religião' vem do latim, derivada do verbo 'religare', que significa ligar novamente. O homem está desligado de Deus, por isso tantas coisas ruins, daí a necessidade urgente de nos reconectarmos. Precisamos aprender a ter empatia, se colocar no lugar do outro, compreendendo seus desejos, sentimentos e crenças", disse. 

  • Safy Muhammad Abu Hamra, membro da Comunidade Muçulmana de Brasília, disse que todo dia é uma nova chance de recomeçar
    Safy Muhammad Abu Hamra, membro da Comunidade Muçulmana de Brasília, disse que todo dia é uma nova chance de recomeçar Ed Alves/CB/DA.Press
  • O Pastor Sílvio Sobrinho, da Assembleia de Deus do Guará, declarou que espera dias melhores
    O Pastor Sílvio Sobrinho, da Assembleia de Deus do Guará, declarou que espera dias melhores Arquivo pessoal
  • Mãe Leila deseja que, neste ano, as pessoas possam encontrar a esperança
    Mãe Leila deseja que, neste ano, as pessoas possam encontrar a esperança Luiz Alves

Respeitar as escolhas alheias é um grande passo para pacificar um território. O pastor destacou a necessidade de um convívio harmônico entre todas as religiões. "A Bíblia diz que eu tenho que fazer para o outro o que quero que façam para mim. Se quero respeito, preciso respeitar, o mesmo serve para a política. Agindo dessa forma, com certeza teremos dias melhores em Brasília ao longo deste ano", refletiu. 

Safy Muhammad Abu Hamra, membro da Comunidade Muçulmana de Brasília, do Centro Islâmico de Brasília, diz que é preciso esperar sempre pelo melhor, pois todo dia é um novo dia, uma nova chance de esperança e recomeço, para que se faça melhor do que o que foi feito ontem e se prepare para evoluir no futuro. "Precisamos buscar, cada um, dentro da sua fé, o bem, pois aquele que faz o bem ao outro, o faz para si próprio e isso contagia. Agindo assim, poderemos vencer os males, a intolerância, o racismo", apontou. 

Em sua mensagem de paz, Hamra disse que roga a Deus todo-poderoso pela benção de todos neste ano e que acredita que a fé contribui para a conversão do mundo em um lugar melhor. "Que Deus nos conceda a paz, a fé, a esperança, o amor, a resiliência, a perseverança e nos dê empatia para respeitar o limite do próximo. E que busquemos sempre o conhecimento, porque ele nos afasta da idolatria, da intolerância, raiva e preconceito e é uma arma para nos proteger de todos os males que destroem a sociedade, seja onde for", disse. 

Da umbanda, Mãe Leila, sacerdotisa de dois terreiros, o Casa Luz de Yorimá e o Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino do DF (OICDDF), afirmou que atualmente há um cenário delicado no âmbito político e econômico, além de que as pessoas estão adoecidas mentalmente. Dessa forma, sinalizou que este ano requer um cuidado maior em relação aos ciclos e ritmos.

"O fim do ano é o fim de um ciclo. A natureza segue ciclos e ritmos, assim como os seres humanos. Este começo é um momento para procurarmos o autocuidado, o contato com a natureza, porque os desafios deste ano serão muitos, falando socialmente, coletivamente e acredito que individualmente, também", disse. Ela explicou que aqueles que seguem a umbanda são, por natureza, cultuadores de felicidade, por isso acreditam que a esperança e a confiança de que o hoje é melhor do que o ontem é fundamental.

"Espero que, neste ano, as pessoas possam encontrar a esperança e fortalecer os vínculos consigo mesmo, com a natureza e com as pessoas ao seu redor." Ela ressaltou que a caminhada solitária é, geralmente, mais difícil, então deseja que todos encontrem uma comunidade e permaneçam próximos às pessoas que amam. 

 

Letícia Guedes
postado em 01/01/2025 06:00
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