Após o anúncio do lançamento do edital de licitação da Zona Verde — que pretende cobrar para que os motoristas utilizem os estacionamentos de Brasília — o Correio repercutiu o tema com prefeitos de quadra, pois existe a possibilidade de que, para fugir da cobrança, os usuários procurem as quadras residenciais, que ficaram de fora do projeto. Os preços serão de R$ 4 para carros e R$ 2 para motos (por hora), adiantou o secretário de Transporte e Mobilidade, Zeno Gonçalves, na última sexta-feira (20/12), à reportagem.
A Zona Verde afetará as quadras comerciais das asas Norte e Sul, Sudoeste, setores de Indústrias Gráficas (SIG), de Indústria e Abastecimento (SIA), bancário (SBS e SBN), comercial (SCS e SCN) e de autarquias (SAS e SAN). Além disso, incluirá a Esplanada dos Ministérios, Eixo Monumental e os bolsões nas estações de metrô e BRT. Ao todo, serão 55 mil vagas.
De acordo com Bruno Apolonio, prefeito da quadra 113 Sul, permitir que as vagas residenciais sejam usadas por esses usuários pode gerar um impacto significativo na organização e na segurança das quadras. "Isso aumentaria o fluxo de carros, daqueles que não são moradores, de maneira nunca antes vista", observou.
Apolonio avaliou que isso agravaria ainda mais a situação, que já é delicada, devido ao intenso tráfego gerado pelo comércio local. "A circulação excessiva de automóveis comprometeria a mobilidade, aumentaria o risco de acidentes e dificultaria o acesso dos próprios moradores às suas residências, criando um cenário caótico que afeta a todos", avaliou o prefeito.
Vice-prefeito da quadra 104 Norte, Antônio Sérgio Cangiano lembrou que Brasília é uma cidade feita para os automóveis e que a Asa Norte não tem transporte coletivo público que possibilite dispensar o carro, como o metrô. "Então, para nós, a questão da Zona Verde é ainda mais séria. Antes mesmo da implantação, o problema de falta de vagas já é grave, pois temos restaurantes e escolas na quadra", observou.
Segundo Cangiano, com a Zona Verde, isso se agravará. "Vai fazer com que moradores e outros usuários disputem as vagas das quadras residenciais", argumentou. De acordo com o prefeito, tudo isso poderia ser amenizado, se a região tivesse um transporte público mais eficiente.
Circulação
Presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), Sebastião Abritta afirmou que tornar as vagas comerciais rotativas é bom para o comércio, pois a circulação de pessoas será maior. "Além disso, pode gerar uma economia, pois os lojistas não terão que gastar com manobristas", opinou.
Abritta, porém, afirmou que o valor ficou muito oneroso. "Também acho que seria importante fazer um projeto piloto, para ver como será a aceitabilidade e o funcionamento, antes de implantar nas outras regiões", disse. "Outra questão são os trabalhadores do comércio, que às vezes vão de carro. Será que o transporte público vai estar preparado para receber esse possível aumento de fluxo?", questionou o presidente do Sindivarejista-DF.
Procurado pela reportagem, o secretário de Transporte e Mobilidade (Semob), Zeno Gonçalves, admitiu que existe o risco de uma possível "invasão" de motoristas nos estacionamentos das áreas residenciais, pelo fato delas não estarem incluídas na Zona Verde, ou seja, continuarem gratuitas após a implementação do projeto.