O fim do ano chega trazendo as celebrações natalinas, as confraternizações e, claro, muitas compras. Você já sentiu uma vontade incontrolável de gastar dinheiro? Ou ficou com um impulso muito forte de comprar aquele produto, muitas vezes, sem necessidade ou até sem ter dinheiro? Tome cuidado, o nome disso é oniomania. O termo parece estranho, mas é usado pelos especialistas para descrever o vício em compras, transtorno psicológico que pode causar sérios prejuízos financeiros e emocionais.
Segundo Juliana Gebrim, psicóloga clínica e neuropsicóloga pelo Instituto de Psicologia Aplicada e Formação de Portugal (IPAF), os principais sinais de alerta desse transtorno incluem compras impulsivas e frequentes, uso do consumo para aliviar emoções negativas, como ansiedade ou solidão, e até mesmo esconder compras de familiares.
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A especialista destaca a influência de uma série de fatores no desenvolvimento dessa condição. "Baixa autoestima, ansiedade e depressão são fatores psicológicos comuns, enquanto o apelo publicitário e a cultura de ligar consumo à felicidade têm um impacto social significativo", afirma Juliana. No campo biológico, alterações no sistema de recompensa cerebral tornam o ato de comprar viciante, alimentando um ciclo difícil de romper.
Ela também aponta que períodos como o Natal podem intensificar a compulsão. "As promoções, as propagandas emocionais e a pressão social a fim de presentear aumentam a sensação de necessidade e o impulso de compra, especialmente em quem já é vulnerável", adverte.
Mudança de hábito
Nem todos desenvolvem uma mania compulsiva, mas, às vezes, é impossível resistir à vontade de comprar aquele presente. Marinalva Soares, de 50 anos, mora em Águas Lindas (GO) e aprendeu com a experiência a importância de se organizar. "Já comprei calçados sem precisar e ficaram no guarda-roupa. Acabei gastando até R$ 3.000 no cartão de crédito e me arrependi depois", recorda.
Hoje, ela é mais cautelosa. "Compro dentro do meu orçamento para evitar ansiedade e preocupação, aperta no bolso e pode gerar muitos problemas, como sujar o nome ou perder o crédito na praça", comenta.
Vitória
O aposentado Carlos Alberto de Oliveira Lima, 71, mora em Taguatinga e prefere um estilo mais conservador de consumo, mas lembra de uma época na qual gastou mais do que devia. "Quando era mais novo, deixei de comprar um notebook porque havia gastado demais com outras coisas. Foi uma lição", recorda.
Hoje, o idoso afirma que está livre de ansiedade por compras. Para ele, a dica aos consumidores é clara: "Só compre o que for necessário. E não se deixe levar pelo apelo visual ou pelas promoções. Isso já é meio caminho andado", indica.
Emoção
Apesar das dicas, há quem se deixe levar pela emoção na hora de comprar. É o caso do operador de caixa Gabriel Santos, 18, morador do Sol Nascente. Ele admite que em outras épocas gastou muito em alguns presentes para si mesmo. "Eu compro muito por impulso, principalmente no fim do ano. Já gastei R$ 829 em um perfume, só porque queria muito", diz.
O fato fez o jovem se atentar aos gastos e passar a planejar melhor as próximas compras. "Depois de comprar esse perfume, precisei ajustar meu orçamento e deixar de comprar outras coisas", comenta.
Gabriel conta que o segredo está na organização e em resistir a tantas promoções nesta época do ano. "O Natal, principalmente, desperta essa mania de comprar, mas antes de ir às compras, é melhor ver o que realmente precisa", aconselha.
Dicas
Para evitar os impulsos de compra, Juliana Gebrim sugere estratégias práticas. "Planejamento financeiro é fundamental, assim como evitar gatilhos, como passar muito tempo em lojas físicas ou on-line. Outra dica é esperar 24 horas antes de fazer uma compra não planejada, para refletir sobre a real necessidade", orienta.
A especialista ressalta que, em casos mais graves, o tratamento geralmente combina psicoterapia e medicação. "A terapia cognitivo-comportamental é especialmente eficaz para identificar e alterar os padrões relacionados à compulsão", destaca. Caso condições como ansiedade ou depressão estejam presentes, a medicação pode ser indicada sob supervisão psiquiátrica.
A neuropsicóloga reforça que buscar ajuda profissional ao perceber os primeiros sinais de descontrole é essencial para evitar prejuízos maiores. "O autocuidado e a consciência sobre o consumo são fundamentais, especialmente em épocas de forte apelo consumista, como o Natal."
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