O caminhoneiro Cleomar Marcos da Silva, 41 anos, preso transportando eletrônicos e 480 kg de skunk, revelou ter prestado serviço de transporte de cargas para a maior facção da América do Sul, o Primeiro Comando da Capital (PCC).
A informação consta em uma ocorrência registrada por ele em Tocantins, em 2019, quando o motorista relatou ter sofrido ameaças por parte da organização criminosa paulista, após supostamente ter se negado a fazer mais um trabalho.
Cleomar é um dos cinco presos no ataque ao caminhão de carga, no posto Nova Colina, em Taguatinga. A ação criminosa coordenada pelo Comboio do Cão, facção do DF, resultou na morte de Ronivon Lima Dias, 41, segurança de uma empresa de escolta armada sediada em Palmas (TO). Inicialmente, o caminhoneiro se passou por vítima, mas a polícia encontrou fortes indícios da participação dele no crime.
Na ocorrência de 2019, Cleomar contou à polícia de Tocantins que recebeu ligação e mensagens de um amigo que está detido na cidade de Porangatu (GO). O colega teria pedido ao motorista que ele saísse às pressas de casa e escondesse todos os familiares, pois membros do PCC pretendiam matá-lo. No interrogatório, Cleomar atribuiu a ação da facção a um episódio em que ele teria deixado de pegar uma carga de drogas na cidade de Bacabal (MA). Os entorpecentes deveriam ser entregues em São Luís do Maranhão.
Cleomar confessou a prestação de serviços para alguns criminosos em um período que, segundo ele, estaria com problemas financeiros. Relatou, ainda, que deixou de atuar nesse ramo, trocou o número de celular e evitou contato com os faccionados, motivo que teria causado revolta na cúpula.
Assalto a caminhão
Na madrugada de terça-feira (10/12), um grupo atacou um caminhão que transportava eletrônicos e 480kg de skunk, em Taguatinga. A carreta era conduzida por Cleomar e, segundo as investigações, o motorista foi contratado por um primo e também membro do Comboio do Cão, Sidney Cardosa Passos, 35. Além de Sidney e Cleomar, outras duas pessoas estão presas: Francisco de Assis Bispo de Jesus, 40 (contratado para destruir um dos carros usados na ação), e José Eraldo Dutra Bezerra, 36 (amigo de Sidney e membro da facção).
Depoimentos prestados pelos acusados na Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri) apontam inconsistências e inverdades com as provas coletadas pelos investigadores. Cleomar, motorista do caminhão, foi acionado por uma transportadora para levar uma carga de televisores de Manaus (AM) até o município da Serra (ES).
Em 8 de janeiro, no trajeto, Cleomar ligou para a transportadora alegando ter sido vítima de um assalto. Mas a história era falsa, segundo revelaram as investigações. Por questões de segurança, a empresa contratou uma equipe de apoio para mantê-la de prontidão e evitar problemas com a carga.
Enquanto estava em Tocantins acompanhado pelos representantes de segurança da respectiva transportadora, Cleomar despertou a atenção dos funcionários ao ser flagrado conversando com dois homens, Sidney e José Eraldo. À polícia, Sidney disse que é primo de Cleomar e foi até Tocantins com José Eraldo para prestar assistência a Cleomar. Na suposta ligação, o motorista contou a Sidney sobre a tentativa de assalto e que os criminosos teriam o obrigado a usar drogas.
Sidney alegou ter passado os dados pessoais e uma foto para o representante de segurança, como forma de garantir o estado de saúde de Cleomar. Na versão contada aos policiais, José Eraldo negou envolvimento com os fatos, confirmou ter ido com Sidney até Tocantins para ajudar Cleomar, mas que, depois, os dois dormiram em um hotel localizado em Uruaçu (GO) do dia 9 para o dia 10 (data do crime). Relatou que acordaram pouco depois das 6h e seguiram para Pirenópolis (GO) para encontrar a esposa.
Segundo José Eraldo, no caminho para Pirenópolis, ele e Sidney foram abordados na via por militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e conduzidos à Corpatri. Para a polícia, não há dúvidas do envolvimento dos dois.
Plano frustrado
Fontes de segurança ligadas ao caso contaram ao Correio que a facção, mesmo ciente da escolta armada, não recuou e se posicionou no posto para a chegada da carga. O plano inicial era apenas desabastecer o caminhão e recolocar as drogas em quatro carros, incluindo uma van.
Quando a carreta chegou ao posto Nova Colina, criminosos já estavam no aguardo e deram continuidade à ação, sem se importar com a presença dos vigilantes. Na madrugada de 10 de dezembro, por volta das 4h, enquanto os seguranças dormiam no carro, o bando caminhou a pé até a carreta, mas a movimentação foi percebida e, neste momento, eles abriram fogo contra os trabalhadores e fugiram sem levar nada.
Ao longo de terça, as forças de segurança se mobilizaram para a localização dos autores. Além da prisão do motorista, o HB20 usado pelo grupo foi encontrado carbonizado, em um terreno baldio, no Sol Nascente. Posteriormente, a Zafira foi achado, conduzido por Francisco de Assis, próximo ao Jóquei Clube, na região da Estrutural, pelos militares do Bope.