Violência Doméstica

Julgamento de homem acusado de feminicídio deve causar comoção

Paulo Roberto assassinou a ex-mulher Izabel, na frente da filha do casal, de 9 anos, em fevereiro de 2023. Ele atirou na testa da jovem e a criança assistiu tudo. Grupos de direitos humanos prometem movimentar o fórum e a decisão estará a cargo de júri popular.

A partir das 9h30, desta quinta-feira (12), no Fórum de Ceilândia, júri popular vai julgar o destino de um homem que protagonizou um dos crimes mais emblemáticos do Distrito Federal. O vendedor Paulo Roberto Moreira Soares, de 38 anos, matou a ex-mulher Izabel Aparecida Guimarães de Sousa, 36, com um tiro certeiro na testa. Detalhe: na frente da filha do casal, de 9 anos. A defesa alega que foi acidental, no entanto, segundo a acusação, existem evidências de que o acusado agiu intencionalmente, inclusive saiu do local, sem constrangimento nem se esconder.

Grupos de direitos humanos e de defesa dos direitos das mulheres e combate ao feminicídio estarão em peso no fórum. O julgamento promete ter momentos de tensão e muita comoção. A filha do casal depôs, detalhando a hora  do crime, inclusive com gestos, reproduzindo os atos feitos pelo pai e as palavras ditas por ele na ocasião. Com porte arma, o homem sabia atirar e lidar com armamentos. Apesar de ser réu primário, há relatos de agressões contra ex-namoradas dele.

“Paulo Roberto está sendo acusado por homicídio qualificado pelo motivo fútil (motivação financeira); meio que dificultou a defesa da vítima (estava sozinha com a filha em casa e desarmada) e; no contexto de violência doméstica (na época em que o crime foi cometido, o feminicídio era uma qualificadora do homicídio), além da causa de aumento de pena pelo fato do crime ter sido na presença da filha do casal”, afirmou ao Correio advogada Ana Paula Correia, assistente da acusação.

Para o advogado Anderson Costa, também assistente da acusação, é fundamental, uma sentença que responda à sociedade o que realmente se espera, ressaltou ao Correio. “A condenação dele será a resposta de que a sociedade não tolera a prática do feminicídio. Esse crime brutal, e que destruiu várias vidas, será julgado com a seriedade que merece.”

O crime

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) denunciou Paulo Roberto Soares por homicídio triplamente qualificado: motivo fútil, a discussão que precedeu o disparo girava em torno do bloqueio de contas bancárias por parte da vítima; recurso que dificultou a defesa de Izabel, que foi alvejada enquanto estava desarmada e próxima a ele, dentro de sua própria casa; e por último, o crime é classificado como feminicídio, uma vez que ocorreu em um contexto de violência doméstica.

Em 4 de fevereiro de 2023, Paulo Roberto, depois de passar a noite em festas e em bares e de ter ingerido álcool, foi até a casa de Izabel. Os dois estavam separados, mas ele não aceitava. Ela soube que ele havia ido para uma festa com outra mulher e bloqueou a conta bancária, que estava em seu nome, mas que era usada pelo ex-marido. Indignado, ele foi tirar satisfações. A discussão esquentou e Paulo Roberto atirou contra a mulher diante da filha, na época com 9 anos.

Justiça

Um ano e dez meses depois, a família de Izabel aguarda por Justiça. A filha do casal, hoje com 10 anos, está sob os cuidados dos parentes da mãe. Segundo relatos, tenta superar o trauma, mas não esquece os detalhes do que viu: o pai matar a mãe na sua frente. De acordo com os parentes, a menina sofre e sente muita falta de Izabel.

Para a advogada Ana Paula Correia, é urgente debater casos, como o de Izabel e Paulo Roberto, na busca pela contenção da violência doméstica. “Esse caso é mais um triste exemplo do impacto devastador da violência doméstica em nossa sociedade. Estamos diante de uma situação brutal: uma mulher que teve a vida ceifada de maneira covarde, na presença de sua filha, que também é vítima desse ato bárbaro”, disse ela.

Como assistente da acusação, a advogada afirmou ao Correio que sua preocupação está focada apenas numa decisão justa e correta. “Nosso papel nesse processo, como assistentes de acusação, é garantir que a justiça seja feita. Isso significa não apenas lutar para que o responsável seja devidamente punido, mas também trazer à tona a gravidade desse crime e o sofrimento que ele impôs à família e, em especial, a essa criança, que carregará essa tragédia para o resto da vida.”

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