O novo cinema foi premiado no encerramento do 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, na noite dete domingo (7/12). O filme pernambucano Salomé foi o grande vencedor da cerimônia, levando os troféus de melhor longa-metragem, por Júri Oficial e Júri Popular, roteiro, direção de arte, atriz coadjuvante e trilha sonora.
O troféu Saruê, concedido pelo Correio para premiar o melhor momento do festival, foi entregue aos diretores Ruy Guerra e Luciana Manzotti, pelo longa-metragem A fúria. O filme dá fim à trilogia iniciada pelo cineasta de 93 anos na década de 1960, com Os fuzis (1964) seguido de A queda (1977).
O prêmio também foi dedicado à memória do falecido ator Nelson Xavier, protagonista das duas primeiras produções.
Destaques
Salomé busca representar a comunidade LGBTQIAPN em um formato distinto ao que geralmente é retratado, baseado no desejo. "Meu filme não se encaixa nos padrões, e ter esse reconhecimento é uma grande felicidade. O mercado, inclusive, o independente, busca uma certa fórmula e o meu cinema não se encaixa nela", declarou André Antônio.
O cineasta pernambucano busca fugir do convencional e acredita que o cinema precisa trazer cada vez mais novos formatos para as telonas. "Se eu tenho algumas sensações, outros também devem ter, e meus sentimentos podem ressoar no público. Fico impressionado e chocado com os prêmios, mas sei que é por ser um filme que gera diálogo e uma conexão entre as pessoas", ressalta André.
Outro destaque foi o longa Suçuarana, de Clarissa Campolina e Sérgio Borges, vencedor de cinco troféus, entre eles, melhor ator e atriz, montagem e fotografia.
Sérgio Borges, um dos diretores de Suçuarana, comenta estar muito feliz com a premiação, e o reconhecimento é para vários talentos que participaram do filme. "Esses prêmios todos premiam pessoas muito importante pra gente, receber isso tudo para equipe técnica deixa a gente extremamente feliz", destaca Sérgio Borges.
O quarteto Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna, por sua vez, ganhou o prêmio de melhor direção por Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá.
Mostra Brasília
Na mostra voltada para o cinema local, Tesouro Natterer, de Renato Barbieri, ganhou melhor longa pelo Júri Oficial, além de melhor roteiro e trilha sonora. A Câmara, de Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão, venceu o prêmio de melhor longa pelo Júri Popular.
O diretor Renato Barbieri, natural de Brasília, é uma figura proeminente no cenário cinematográfico brasileiro. Seus trabalhos, incluindo Atlântico Negro e o mais recente e premiado Tesouro Natterer, evidenciam sua habilidade em transmitir mensagens impactantes nas telonas. Em entrevista ao Correio, ele destaca a relevância de festivais como a Mostra de Brasília para o cinema nacional: "Este ano, decidi que iríamos inscrever o filme no Festival de Brasília. Estou ciente de que a seleção é bastante rigorosa e muitos excelentes filmes ficam de fora. Quando fomos selecionados, senti uma grande realização", afirma.
Essa seleção resultou em três troféus para o diretor: "Receber os prêmios de melhor música original, melhor roteiro e melhor filme Júri Oficial é simplesmente incrível. Esses prêmios vêm acompanhados de uma recompensa financeira significativa, que será fundamental para o lançamento do filme. Estamos todos muito felizes e realizados, toda a equipe compartilhando desse entusiasmo", enfatiza Barbieri.
Cristiane Bernardes se mostrou surpresa quando subiu ao palco para pegar o prêmio de melhor filme por Júri Popular. Ela ressalta a importância dessa categoria e a honra que foi ganhar. "Estava falando segundos antes sobre como essa categoria é legal. Ganhar esse prêmio me mostrou o quão palatável é o filme. Não seguimos uma estrutura jornalística, tinha medo de o filme ficar muito difícil de entender", ela diz. Em meio a um plenário quase todo masculino, a diretora investiga os desafios que deputadas enfrentam. "Somos um país majoritariamente feminino, deveríamos estar melhor representadas na política. Acredito que precisamos equiparar os números de parlamentares mulheres para que assim possamos ter uma democracia mais justa", explica a diretora.
Confusão
O festival teve um final surpreendente. O subsecretário de Difusão e Diversidade Cultural, João Cândido, chamou os envolvidos na direção do Festival para anunciar o prêmio principal da noite de melhor longa-metragem da Mostra Competitiva Nacional pelo júri.
Henrique Rocha, diretor de produção do festival, acabou anunciando erroneamente os ganhadores do prêmio mais cobiçado, indicando o filme Suçuarana. Ele, no entanto, foi rapidamente corrigido por João Cândido — o filme vencedor, na verdade, foi Salomé.
A equipe da produção pernambucana subiu ao palco, pela última vez na noite, e aproveitou o espaço para celebrar os colegas do audiovisual: "Viva Suçuarana!", exclamaram.
Polêmica
Toda essa confusão foi criada após o subsecretário usar o espaço de anúncio do vencedor para responder a uma acusação feita pelo diretor João Campos, do curta vencedor da Mostra Brasilia Via sacra. O cineasta havia falado sobre a Política Nacional Aldir Blanc, que fomenta cultura e destina verba a projetos audiovisuais. O edital foi pausado pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal após denúncias da comunidade audiovisual de suposta corrupção relacionada aos três dos primeiros selecionados para receberem R$ 2 milhões, cada um. "Eu fiz essa fala tanto na apresentação do filme quanto ganhando o prêmio, no sentido de defender a lisura e a transparência dos processos públicos", afirmou João Campos ao Correio.
A Secretaria de Cultura anunciou que pausou o edital e pretende realizar uma investigação a fundo sobre as empresas que foram contempladas na Política Nacional Aldir Blanc. Ao Correio, o secretário de Cultura e Economia Criativa, Claudio Abrantes, afirmou que já determinou que todos os projetos sejam reavaliados. "Queremos enxergar se é algo pontual ou sistêmico", disse. "As sanções aos eventuais desvios serão implementadas com todo rigor", garantiu.
Veja a lista completa de premiados
Prêmios da Mostra Competitiva Nacional – Longas-metragens
Melhor Longa-metragem pelo Júri Oficial
Salomé (PE), de André Antônio
Melhor Longa-metragem pelo Júri Popular
Salomé (PE), de André Antônio
Melhor Direção
Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna por Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá (MG)
Melhor Ator
Wellington Abreu por Pacto da Viola (DF)
Melhor Atriz
Sinara Teles por Suçuarana (MG)
Melhor Ator Coadjuvante
Carlos Francisco por Suçuarana (MG)
Melhor Atriz Coadjuvante
Renata Carvalho por Salomé (PE)
Melhor Roteiro
André Antônio por Salomé (PE)
Melhor Fotografia
Ivo Lopes Araújo por Suçuarana (MG)
Melhor Direção de Arte
Maíra Mesquita por Salomé (PE)
Melhor Trilha Sonora
Mateus Alves e Piero Bianchi por Salomé (PE)
Melhor Edição de Som
Pablo Lamar por Suçuarana (MG)
Melhor Montagem
Luiz Pretti por Suçuarana (MG)
Prêmio Especial do Júri
Ao cineasta Ruy Guerra, diretor de A Fúria (RJ)
Prêmios da Mostra Competitiva Nacional – Curtas-metragens
Melhor Curta-metragem pelo Júri Oficial
Mar de Dentro (PE), de Lia Letícia
Melhor Curta-metragem pelo Júri Popular
Javyju – Bom Dia (SP), de Kunha Rete e Carlos Eduardo Magalhães
Melhor Direção
Lia Letícia por Mar de Dentro (PE)
Melhor Ator
João Pedro Oliveira por E Seu Corpo é Belo (RJ)
Melhor Atriz
Carlandréia Ribeiro por Mãe do Ouro (MG)
Melhor Roteiro
Nicolau por Descamar (DF)
Melhor Fotografia
Fernanda de Sena por Mãe do Ouro (MG)
Melhor Direção de Arte
Caroline Meirelles por E Seu Corpo é Belo (RJ)
Melhor Montagem
Cristina Amaral por Confluências (DF)
Melhor Trilha Sonora
Ruben Feffer e Gustavo Kurlat por Kabuki (SC)
Melhor Edição de Som
Kiko Ferraz e Ricardo Costa por E Seu Corpo é Belo (RJ)
Menção Honrosa do Júri
Ao filme Dois Nilos (RJ), de Samuel Lobo e Rodrigo de Janeiro
Prêmios da Mostra Brasília – 26º Troféu Câmara Legislativa
Melhor Longa-metragem pelo Júri Oficial
Tesouro Natterer, de Renato Barbieri
Melhor Longa-metragem pelo Júri Popular
A Câmara, de Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão
Melhor Curta-metragem pelo Júri Oficial
Via Sacra, de João Campos
Melhor Curta-metragem pelo Júri Popular
Manequim, de Danilo Borges e Diego Borges
Melhor Direção
Adriano Guimarães pelo filme Nada
Melhor Ator
Eduardo Gabriel Ydiriuá pelo filme Manual do Heroi
Melhor Atriz
Gleide Firmino pelo filme Via Sacra
Melhor Roteiro
Andrea Fenzl, Victor Leonardi, Renato Barbieri, Neto Borges e Rodrigo Borges pelo filme Tesouro Natterer
Melhor Fotografia
Emília Silberstein pelo filme Xarpi
Melhor Montagem
Silvino Mendonça pelo filme A Sua Imagem na minha Caixa de Correio
Melhor Direção de Arte
Maíra Carvalho, Marcus Takatsuka e Nadine Diel pelo filme Nada
Melhor Edição de Som
Guile Martins e Olívia Hernández pelo filme Nada
Melhor Trilha Sonora
Márcio Vermelho e Pedro Zopelar pelo filme Tesouro Natterer
Menção Honrosa do Júri
À Juliana Drummond pela excepcional performance nas apresentações da Mostra Brasília – Troféu Câmara Legislativa da 57ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
*Estagiários sob a supervisão de Malcia Afonso
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