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Conheça as obras que estarão na Mostra Brasília

Conheça as obras que estarão na Mostra Brasília, que premia o audiovisual candango com o Troféu Câmara Legislativa. Exibições começam nesta segunda (2/12)

"Um verdadeiro nacionalista é a pessoa que investe na cultura do próprio povo", afirma Faustón da Silva, um dos concorrentes da 26ª Mostra Brasília — Troféu Câmara Legislativa. A mostra começa nesta segunda (2/12) e promete apresentar o potente trabalho audiovisual que tem sido feito na capital federal e dá continuidade às atividades da 57ª edição do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília, iniciado no sábado (30/11).

A disputa premia o audiovisual candango com R$ 240 mil. Serão exibidos, de terça a sexta, quatro longas e oito curta-metragens brasilienses, selecionados entre 134 filmes inscritos e assistidos por cinco profissionais do audiovisual local. O vencedor é anunciado na cerimônia de encerramento do Festival de Brasília, no próximo sábado.

Estreia no cinema

O longa de abertura da mostra, Nada, é de um velho conhecido da arte da cidade, o dramaturgo, diretor, artista plástico e performer Adriano Guimarães. Estreando como cineasta, ele traz para o público da cidade o filme que demorou 11 anos para ficar pronto. Um longa sobre o reencontro de duas irmãs, mas lotado de significados nas entrelinhas.

"Trata da forma como as novas tecnologias moldam nosso modo de estar no mundo, muitas vezes de maneira quase imperceptível", pontua. "Hoje, eu penso que o filme explora a inutilidade de tentar reprimir ou ignorar partes da nossa memória — elas sempre encontram uma forma de se manifestar. São as memórias que fazem da gente o que a gente é", complementa.

Por passear muito pelas artes durante a vida como artista, Adriano não estranha estar em outro meio. "A sensação de transitar por diferentes linguagens e me sentir estrangeiro não é nova para mim", destaca. Porém, o agora cineasta revela que conheceu um sentimento novo. Afinal, o cinema não tem a mesma possibilidade de experimentação e transformação durante o processo. "Isso me trouxe uma certa angústia durante as filmagens e no processo de finalização porque sou alguém que trabalha muito com processos abertos e em mutação", afirma. "Por outro lado, filmes permanecem, e peças e exposições são efêmeras. Isso é uma mágica incrível que só o audiovisual faz."

Super-herói urbano

As analogias para discutir temas relevantes também são cruciais para Manual do herói. O longa de Faustón da Silva promete usar temáticas adolescentes para falar de coisa séria. "É um filme infanto-juvenil que debate temas importantes para a nossa sociedade por meio de um ambiente metafórico e fantástico. Dessa forma, não é um panfleto, é um longa divertido, engraçado e poético debatendo lições e virtudes para as gerações mais jovens", explica o diretor, que afirma ter feito, "se não o primeiro filme de super-herói urbano do país, é um dos primeiros filmes de super-herói urbano de Brasília e do Brasil".

O cineasta exalta a possibilidade de colocar a cinematografia brasiliense em contato com a população da cidade. "O cinema, como janela de expressão de arte, é muito mais impactante quando a gente vê na grande tela o nosso povo", reflete. "A gente consegue dialogar com filmes da França, dos Estados Unidos e do Japão, mas é muito mais potente quando temos a nossa pele, nosso sotaque e o nosso povo sendo visto na plataforma mais poderosa da arte", acrescenta. Faustón crê que a Mostra Brasília explora uma potência que existe na capital. "A nossa cidade tem com o que contribuir com a cultura do Brasil e do mundo", completa.

Cotidiano

Na quinta, é a vez de A Câmara, de Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão, ser exibido nas telonas do Cine Brasília. Diretamente do parlamento brasileiro, a produção acompanha deputadas em embates e performances políticas enquanto temas como direitos reprodutivos, educação, estado laico, racismo e polarização política vêm à tona.

"A ideia era mostrar o cotidiano das deputadas federais na Câmara e as dificuldades que enfrentam na atividade política institucional", explica Cristiane. "É um filme que, em si, não conta uma história, pelo menos, não no sentido mais tradicional do documentário, mas constrói uma espécie de mosaico sobre a experiência de diferentes personagens, todas elas deputadas federais, em um universo político em constante disputa", aponta Tiago.

Para o cineasta, o filme pode levar os espectadores a diferentes leituras e entendimentos. "A Câmara tem nossa mão e nossa cara, mas ele tem um aspecto aberto em sua construção narrativa", complementa.

On the road

Último dos longas a ser exibido, Tesouro Natterer, do diretor Renato Barbieri, é um documentário sobre o naturalista Johann Natterer, membro da Expedição Austríaca que acompanhou a então arquiduquesa Leopoldina na vinda ao Brasil, em 1817. Durante 18 anos, ele coletou mais de 50 mil objetos, compondo o maior acervo etnográfico sobre povos indígenas brasileiros.

No estilo on the road, o documentário, filmado em ordem cronológica, refaz o caminho que Natterer percorreu. O biógrafo do austríaco, Kurt Schmutzer, acompanhou a equipe no percurso.

Hoje, o acervo está preservado em dois dos principais museus de Viena, na Áustria. "Ninguém imagina que a maior coleção etnográfica do Brasil esteja lá", pontua o cineasta. O filme, por sua vez, aponta para a possibilidade de repatriação de parte das peças do acervo: "Ele merece ser exibido no aqui, porque essas peças nunca mais voltaram", lamenta.

Responsável pelo primeiro filme do DF oficialmente credenciado para concorrer ao Oscar, e grande vencedor do festival É tudo verdade, Barbieri enxerga a importância de fazer parte da Mostra Brasília. "Ela se tornou um espaço difícil de entrar. Não é uma disputa fácil, filmes muito bons ficam de fora devido à alta qualidade das produções de Brasília. É uma honra para nós", comemora.

Curtas

Nos próximos dias, a mostra exibe também os curtas Caravana da coragem, de Pedro B. Garcia; A sua imagem na minha caixa de correio, de Silvino Mendonça; Manequim, de Danilo Borges e Diego Borges; ONA, de Clara Maria e M4vi Afroindie; Xarpi, de Rafael Lobo; Via Sacra, de João Campos; Kwat e Jaí — Os bebês heróis do Xingu, de Clarice Cardell; e Cemitério verde, de Maurício Chades.

 

 

 

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Assista

Nada, de Adriano Guimarães

Amanhã, às 18h

Manual do herói, de

Fáuston da Silva

Quarta, às 18h

A Câmara, de Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão

Quinta, às 18h

Tesouro Natterer,

de Renato Barbieri

Sexta, às 18h

Local: Sala 1 do Cine Brasília e nas RAs do Gama (Cia Lábios da Lua), Planaltina (Complexo Cultural de Planaltina)

e Taguatinga.

(Faculdade Estácio - Pistão Sul)

Todos os filmes serão exibidos com legendagem descritiva e audiodescrição ao vivo.

Entrada gratuita.