Cerrado

Exposição na Biblioteca Nacional une arte e ciência em prol do Cerrado

Formado em biologia, com mestrado em ecologia de mamíferos, o artista Carlos Alvarez leva a fauna e flora do bioma para suas ilustrações, muitas delas em tamanho real

A Biblioteca Nacional de Brasília recebe até 13 de dezembro, uma exposição sobre a beleza do Cerrado e a importância de sua preservação. Idealizada pelo artista Carlos Alvarez, a mostra aborda a fauna e a flora do bioma com ilustrações feitas com giz pastel. O evento é gratuito e está disponível ao público das 8h às 22h em dias de semana e das 8h às 14h aos sábados e domingos. 

Considerado a savana com a maior biodiversidade do planeta, o Cerrado enfrenta perigos. O bioma tem sofrido com a redução de sua área durante as últimas décadas, seja pela conversão do uso do solo pelo agronegócio ou pela expansão urbana. Essa conscientização sobre a preservação do ecossistema motivou Alvarez a produzir a exposição.

"Acho que a democratização da arte e da cultura sempre é um aspecto importante em qualquer evento desse tipo. Levar para um espaço nobre como a Biblioteca Nacional a nossa mensagem é também extremamente relevante, até porque quem visita o espaço muitas vezes não espera deparar com uma exposição. No que se refere às obras que estarão expostas, gosto do fato de muitas delas apresentarem animais em tamanho real e serem ilustrações extremamente realistas", diz o artista responsável pela exposição. 

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Ilustrações

Realizada com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF), a exposição é composta por ilustrações autorais do acervo de Alvarez, produzidas através da técnica a giz pastel, que é trabalhosa e de difícil manuseio, mas dá um colorido bonito com tons parecidos com as cores dos animais do Cerrado, de acordo com o próprio artista. As obras, algumas em tamanho real, retratam de forma realista a rica fauna cerratense.

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -
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Desde o mês de junho, a Exposição Cerrado Vivo percorreu 10 escolas públicas do Distrito Federal, passando por zonas rurais e urbanas de Sobradinho, Sobradinho II, Fercal e Planaltina. Nas unidades de ensino também foram realizadas contação de histórias e disponibilizados jogos da memória e quebra-cabeças com imagens das ilustrações que compõem a exposição.

Alvarez acredita que esse trabalho com os mais jovens é de extrema importância. "A criança é o cidadão do futuro", exclama. Além disso, ele espera que essa informação possa ser levada aos pais, ajudando a conscientizá-los sobre o papel do Cerrado na conservação ambiental. O artista espera que o evento na Biblioteca Nacional receba cerca de mil pessoas durante os 10 dias em que estará à disposição do público.

Artista

Nascido no Rio de Janeiro, Carlos Alvarez mora em Brasília há 20 anos. É pessoa com deficiência física e desde a infância demonstrava notável habilidade artística e a preferência por um tema comum a muitas crianças: os animais. Formado em biologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com mestrado em ecologia de mamíferos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele traz sua especialidade para dentro de suas ilustrações. 

Integrando arte e ciência, suas ilustrações de animais possuem movimento e precisão anatômica, algumas representadas em tamanho real. Sua especialidade é o desenho a giz pastel, técnica pouco utilizada no Brasil. Aquarela, lápis de cor, grafite e nanquim também compõem o repertório do artista. 

"Eu sou ilustrador já há bastante tempo e, de 2004 para cá, tive contato com o Cerrado, que eu não conhecia até então. A exposição foi meio que uma maneira de juntar as duas coisas, pois vi que o Cerrado é uma fonte de inspiração inesgotável para um artista, principalmente de fauna e flora, e com formação em biologia como eu", explica o ilustrador. 

Conservação

A coordenadora do curso de ciências biológicas da Universidade Católica de Brasília, Morgana Bruno, explica que o Cerrado é uma das regiões de maior biodiversidade do mundo. Além do planalto central, sua preservação também é importante para outras regiões, que se beneficiam de seu ecossistema e dos rios que nascem no bioma.

"A complexidade de paisagens do Cerrado também propicia uma diversa fauna, que representa cerca de 5% da fauna mundial e cerca de 1/3 da fauna brasileira. Apesar da evidente importância, tem sido considerada como uma das 27 áreas críticas de biodiversidade do planeta. A proteção do Cerrado envolve também a proteção das fontes hídricas que partem daqui para abastecer as principais bacias hidrográficas do Brasil. É no Cerrado que estão oito das doze regiões hidrográficas brasileiras e onde são abastecidas seis das oito grandes bacias hidrográficas do Brasil", afirma Morgana. 

Doutora em ecologia, ela aponta que por ser uma vegetação pouco densa e não espinhosa, que ocorre vastamente em áreas planas (planalto), com boa precipitação e muitas fontes hídricas (nascentes e rios), possui na agropecuária uma das principais forças motrizes da dinâmica de uso e ocupação de áreas nativas. Outros fatores críticos que ela cita são a ocupação urbana e a queima antrópica, que também colocam o Cerrado em risco.

*Estagiário sob supervisão de Márcia Machado 

 


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