Festividades de fim de ano, 13º salário, promoções tentadoras em lojas e publicidades sedutoras e convincentes podem gerar, entre diversas pessoas, um "combo" de estímulo ao consumo exacerbado e, consequentemente, um indesejado endividamento. O final do ano é a época dos presentes, da aquisição de roupas e calçados novos, do retoque na beleza, e da criação de boletos para os próximos meses, compromissos dos quais não dá para fugir ou postergar. Além das despesas de casa (luz, telefone, água), essas as contas periódicas costumam assombrar as famílias, somadas a outras, como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e, para quem tem filhos, materiais escolares. Nessas horas, quem conta com um planejamento orçamentário doméstico consegue ver saídas ao aperto econômico.
Tidos entre os "vilões" causadores das dívidas de fim de ano, os presentes de Natal respondem por um aumento de 14,8% no valor médio dos gastos dos consumidores em dezembro, conforme previsão do Instituto Fecomércio-DF prevê. Um estudo da entidade indicou que, nesses período, os compradores gastaram, em 2023, R$ 345,26, e para este ano, na mesma época, serão R$ 396,67, em média, com a mesma finalidade. Uma particularidade: o público masculino se mostrou mais mão aberta, pretendendo desembolsar em torno de R$ 419,79 em presentes, enquanto as mulheres, mais precavidas, investirão R$ 375,79. Entre os itens mais procurados estão vestuário, brinquedos, calçados, cosméticos e perfumes.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
Planejamento
O Correio conversou com um educador financeiro e um economista que deram dicas sobre como não iniciar 2025 com as finanças no vermelho.
O planejador de finanças Jadson Xavier listou as principais despesas dos consumidores no final de ano: tratamentos estéticos (dentes, harmonização facial e cirurgias plásticas), presentes, doações e renovação de matrículas em cursos, escolas ou faculdades. E para os que têm contratados serviços de empregadas domésticas, motoristas, cuidadores, precisam, ainda, pagar o 13º salário.
O melhor caminho para não se endividar nesse período, segundo Xavier, é o planejamento. "Sem ele, a pessoa muitas vezes não terá uma renda suficiente para pagar todas essas despesas e acabará buscando um empréstimo ou um consignado, como ocorre muito com os servidores públicos. Vale lembrar que os meses de janeiro e fevereiro são os que registram maiores índices de contratação de consignados", disse.
Segundo o planejador, evitar parcelamentos e negociar um bom desconto podem ser opções melhores para o pagamento, especialmente no que diz respeito às despesas com encargos governamentais (IPVA e IPTU), que oferecem redução no valor, caso sejam quitados em parcela única.
Ele explicou como é possível fazer um planejamento financeiro rápido e sem custos. O primeiro passo é anotar todas as despesas do ano, separar as que são fixas e as que são variáveis por mês de pagamento. Assim, a pessoa não irá esquecer dos impostos e taxas do começo do ano. Deve-se, segundo ele, listar todas as receitas do ano de acordo com o mês de recebimento de cada uma delas.
"Após o conhecimento das contas, a pessoa deve definir as suas metas para o ano seguinte. Por exemplo: poupar para um projeto específico, pagar dívidas, fazer uma viagem. Dessa forma, cada um pode, por meio da disciplina financeira, organizar quanto tempo precisará e o prazo que levará para alcançar esses objetivos", destacou. Outro ponto fundamental é criar uma reserva financeira, de modo que se tenha uma certa quantia necessária para pagar dívidas, por um determinado período, caso haja imprevistos.
A servidora pública Ana Alice Souza, 47 anos, costuma planejar o uso do 13º salário. A gratificação anual serve para pagar as contas do IPTU, IPVA e materiais escolares. "Todo mês reservo 10% do que ganho, para utilizar numa emergência e utilizo uma planilha, onde controlo todas as despesas e investimentos", acrescentou. Ana Alice ressaltou que prioriza os gastos com saúde e educação e que repassa esses hábitos financeiros às filhas.
Advertência
O economista Ciro de Avelar analisou o cenário econômico de 2025 e fez alertas. De acordo com ele, a economia em 2024 se deteriorou muito, principalmente no último trimestre, em decorrência de uma falta de interesse do governo em ter um equilíbrio fiscal ajustado e eficiência nas contas públicas.
"Esse cenário desgastou muito os indicadores econômicos fazendo com que a inflação, para o final deste ano, já esteja prevista em aproximadamente 5%. A taxa de juros, na última reunião do Copom, que teve um aumento de 1%, fez com que a confiança do mercado financeiro ou dos agentes econômicos como um todo, tanto domésticos quanto internacionais, se deteriorasse", avaliou.
O resultado é que o país voltará a ter taxas de juros cada vez maiores, segundo explicou. A consequência, na opinião de Avelar, é que, de modo geral, haverá mais dificuldade em se obter empréstimos, encarecimento das despesas para as famílias e endividamento. "Tudo isso vai fazer com que o brasileiro perca poder de compra em 2025. A sugestão que a gente dá é que a pessoa entre no ano que vem com as contas, as despesas fixas e de sobrevivência anotadas, e tenha todo o próximo ano muito ajustado, para que não sofra um aumento do endividamento e nem se endivide sem necessidade", aconselhou.