Uma cadeira virada ao lado do corpo, caixas de ansiolíticos espalhadas no chão, um charuto e uma bíblia. Assim Samara Regina da Costa, 21 anos, foi encontrada no quintal de sua casa, localizada na QNM 09 de Ceilândia, em 16 de dezembro. A tese de suicídio, alegada pela amiga de infância e vizinha, Thalissa dos Santos Araújo, 21, caiu por terra no decorrer das investigações.
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Thalissa e o companheiro, Tiago Alves Cajá, 23, são suspeitos de terem assassinado Samara para se apropriar do imóvel da vítima, dividido entre ela e o casal que, há um mês, alugava uma casa nos fundos do terreno. Na manhã desta sexta-feira (27/12), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por meio da 15ª Delegacia de Polícia, cumpriu os dois mandados de prisão temporária e um mandado de busca e apreensão na operação Bad Couple.
A prisão tem o prazo de 30 dias, podendo ser prorrogada por igual período ou ser convertida em preventiva. Os investigados, que devem passar por audiência de custódia nesse sábado (28), foram indiciados pelos crimes de homicídio duplamente qualificado pelo motivo torpe e pela asfixia, além de fraude processual. Somadas, as penas podem alcançar os 34 anos de prisão.
O crime
Em 15 de dezembro, o casal atraiu a vítima para a casa deles, alugada nos fundos do lote, com o pretexto de lancharem. No local, doparam a vítima com remédios e a enforcaram, tentando, em seguida, simular um possível suicídio. Segundo as investigações, a dupla queria se apossar do terreno, visto que Samara — por ter perdido mãe e avó, não ter filhos e nem contato com o pai — era a única proprietária do imóvel. Devido às perdas, ela entrou em depressão e tornou-se usuária de drogas.
Por volta das 12h do dia 16, Thalissa ligou para o corpo de bombeiros e para a polícia, informando que a amiga havia tirado a própria vida. "As equipes estranharam o cenário do ocorrido. A corda estava amarrada a uma grade da janela e uma cadeira estava jogada ao lado do corpo. Devido a pouca altura da grade, seria pouco provável que ela (Samara) conseguisse se suicidar daquela forma", explicou o delegado da 15ª DP, João Ataliba Neto.
No dia 19, chegou à polícia uma denúncia anônima relatando que o caso trata-se de assassinato e que o casal armou a situação para se apropriar do lote, considerando que Samara era sozinha. No dia seguinte (20), Thalissa e Tiago entraram em luta corporal e ele foi preso na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) II por violência doméstica e ameaça. No flagrante, a mulher afirmou ter sido agredida pelo companheiro após ameaçar contar para a polícia que ele havia matado Samara com um golpe de mata leão e simulado o suicídio da amiga.
Questionada sobre a dinâmica do crime, Thalissa caiu em várias contradições, dando diferentes depoimentos sobre seu envolvimento no caso. Em um deles, disse que Tiago havia lhe agredido e que Samara ameaçou denunciá-lo, motivo pelo qual ele teria a matado. Em outro momento, revelou já ter brigado com a amiga de infância por ela ter tido um caso com o pai da sua filha.
A prisão
Durante a apuração, foram recebidas mais denúncias anônimas informando que, após o crime, o casal, que também era usuário de drogas, contou sobre o assassinato para algumas pessoas. No interrogatório desta manhã, a suspeita voltou a afirmar que a vítima foi morta por seu companheiro, no entanto, confessou ter ajudado a arrastar o corpo e a simular o suicídio. Testemunhas que compareceram à delegacia reforçaram, porém, que Thalissa também participou do crime.
Tiago Alves Cajá, que já estava preso no Centro de Detenção Provisória (CDP), teve seu mandado de prisão temporária cumprido no local. Thalissa estava na casa da avó quando foi presa. "Ela não ofereceu qualquer resistência no momento da prisão, sequer questionou o porquê de estar sendo presa", disse o delegado Ataliba Neto.
O laudo cadavérico de Samara revelou que ela morreu por asfixia secundária a enforcamento, produzido por meio físico-químico. Não foram encontradas outras lesões traumáticas sugestivas à agressão, fato que coloca em xeque o relato de que ela teria sido vítima de um mata-leão. "Creio que tentaram matá-la com remédios. Como ela não morreu, eles a enforcaram e forjaram a cena do suicídio", acrescenta o delegado.
A investigação aguarda ainda o laudo de local, que deve comprovar que a cena do suicídio não condiz com a realidade. Tiago e Thalissa já têm antecedentes criminais. Ele, por delitos cometidos na adolescência; ela, por violência doméstica contra a avó e furto.