Há dois anos, Brasília parava. O noticiário nacional voltava seus olhares para a capital federal, não para celebrar o Natal que marcava, para muitos, o primeiro ano após o difícil período da pandemia de covid-19, mas para informar sobre um frustrado atentado terrorista nas proximidades do Aeroporto Internacional de Brasília. Três homens, integrantes do movimento golpista acampado em frente ao Quartel-General do Exército, tentaram explodir um caminhão-tanque com 63 mil litros de querosene. Todos os envolvidos no plano já estão em processo de reintegração à liberdade, apesar de viverem com restrições.
O objetivo do trio, formado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), era instaurar um estado de sítio. Eles também planejaram a explosão de bombas em pontos estratégicos da capital federal às vésperas do Natal. O artefato próximo ao aeroporto chegou a ser armado, mas falhou no momento da ativação. Caso o plano tivesse sido executado, teria sido um dos maiores atentados terroristas da história do Brasil. Após a tentativa frustrada, a Polícia Militar foi acionada e conseguiu desativar o explosivo, e George Washington de Oliveira Sousa, apontado como o mentor da ação, foi preso pela Polícia Civil horas depois, em uma operação conduzida pela 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul). No imóvel alugado por ele, as autoridades encontraram um arsenal com explosivos e munições.
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George foi condenado a nove anos e oito meses de prisão, além de 55 dias-multa. Desde maio, cumpre pena em regime semiaberto com trabalho externo. Ele também foi incluído na lista da Vara de Execuções Penais (VEP) para o benefício da saída temporária de Natal, entre os dias 22 e 27 de dezembro. Para obter o benefício, ele leu livros na prisão e recebeu visitas regulares na Penitenciária da Papuda. Apesar da concessão do "saidão", George ainda precisa retornar à prisão para pernoitar diariamente.
Alan Diego dos Santos Rodrigues, outro envolvido no caso e réu confesso por ter colocado a bomba no caminhão-tanque, foi condenado a cinco anos e quatro meses de reclusão. Desde julho, cumpre pena em regime aberto na cidade de Comodoro (MT), onde não pode dormir fora de casa. Apesar disso, seu paradeiro atual é incerto. As últimas informações indicam que ele está desempregado, realizando "bicos" na região.
O terceiro participante da trama é o blogueiro Wellington Macedo de Souza, que esteve foragido após o atentado e o envolvimento em uma tentativa de invasão ao prédio da Polícia Federal. Preso em setembro do ano passado no Paraguai, pela Interpol, e entregue às autoridades brasileiras, Wellington foi condenado a seis anos de prisão. Desde o início deste mês, cumpre pena em regime semiaberto, mas não teve direito à saída temporária devido a um mandado de prisão ainda ativo, expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Desde maio, parte do inquérito tramita no STF, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes. À época, Moraes identificou conexões entre o caso e supostos crimes contra o Estado Democrático de Direito, em linha com outros inquéritos em andamento na Corte. Recentemente, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresentou uma manifestação apontando possíveis irregularidades no cumprimento da pena de Alan Diego, solicitando esclarecimentos à VEP de Comodoro.
Em resposta, o ministro determinou que a VEP forneça, em até cinco dias, informações detalhadas sobre as alegações levantadas pela PGR. Além disso, ordenou à 8ª Vara Criminal de Brasília que envie, no mesmo prazo, a íntegra dos arquivos audiovisuais do processo que resultou na condenação dos três envolvidos.
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Segurança pública
O episódio evidenciou a vulnerabilidade da segurança na capital federal. Para o professor de direito especialista em segurança pública Júlio Hott, Brasília é frequentemente palco de manifestações de grande escala, como a que ocorreu nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e a tentativa de explosão no aeroporto. Ele destacou que, apesar da criação de uma divisão de antiterrorismo na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), ainda há espaço para melhorias.
"Esse avanço é importante, mas insuficiente. A segurança pública no Distrito Federal sofre com a divisão entre as polícias Civil e Militar, que ainda não compartilham um sistema unificado de registros. Em São Paulo, por exemplo, a Polícia Civil já possui um sistema integrado. Aqui, dados relevantes continuam fragmentados", avalia.
"A Polícia Militar realiza diversos atendimentos que não se tornam ocorrências criminais, mas que poderiam alimentar uma base de dados integrada. Essa falta de articulação compromete a eficácia da segurança pública", completou, à reportagem.