Investigação

Capitão dos Bombeiros esperava ex-mulher dormir para estuprar a filha

Vítima relatou à polícia que o primeiro abuso ocorreu dentro de um quartel do Corpo de Bombeiros. Os demais abusos ocorreram na casa da família, enquanto ela assistia televisão na sala

Bombeiro da reserva foi preso preventivamente nesta terça-feira, em Águas Claras -  (crédito: Reprodução/Redes sociais)
Bombeiro da reserva foi preso preventivamente nesta terça-feira, em Águas Claras - (crédito: Reprodução/Redes sociais)

O capitão da reserva do Corpo de Bombeiros, de 59 anos, é investigado por uma série de abusos sexuais cometidos contra a própria filha, atualmente com 29 anos. Segundo a vítima, os crimes ocorriam dentro da casa da família, principalmente enquanto ela assistia televisão na sala. O bombeiro se aproveitava do sono ou da ausência da então companheira para cometer o estupro.

O caso é investigado pela 24ª Delegacia de Polícia (Setor O). A vítima procurou à polícia em abril de 2023. Em depoimentos obtidos pelo Correio, a vítima relatou que os abusos começaram quando ela tinha 6 anos e se estenderam até os 15. Os estupros teriam cessado em 2011, após o divórcio dos pais, quando o bombeiro deixou a casa.

À polícia, a vítima citou que o primeiro abuso ocorreu dentro do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CEFAP), quando o pai levou a filha para dormir no local. Os demais atos ocorreram na casa da família. A jovem também relatou aos investigadores episódios de agressões, como tapas, socos, empurrões e puxões de cabelo. 

Em um dos episódios de abuso, a mãe da jovem acordou na madrugada e flagrou o bombeiro na cama da filha, tirando a roupa dela. Ela perguntou sobre o que estava acontecendo e o homem disse que estava retirando a etiqueta da calcinha da filha, pois estava a incomodando. Com medo da reação do pai, a menina acenou a cabeça, concordando com a história. 

Após a separação do casal, o bombeiro passou a morar em Águas Claras. Mesmo distante, o capitão continuou com as investidas contra a filha: enviava mensagens pedindo para ela mandar fotos nuas. Até os 27 anos, a jovem guardou para si os abusos sofridos e evitou contar à mãe por medo.

Descoberta

A jovem teve dois filhos, que conviveram boa parte da infância ao lado do avô. Em abril de 2023, em uma conversa com a filha mais velha, de 10 anos, a menina confessou que o avô pedia para ver as partes íntimas dela e para roçar os genitais dele nela.  

A menina narrou, então, os fatos à avó e usou a seguinte frase: “Ele fazia comigo igual namorado faz com namorada”. A avó levou a neta até à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam 2) para o registro da ocorrência e lembrou de um episódio suspeito. No depoimento, a idosa contou que a criança passou a rejeitar, inclusive, as aulas de ballet e pediu para que outra pessoa — exceto o avô — a levasse. 

Os policiais da Deam 2 iniciaram as investigações e representaram pela prisão preventiva do autor à época. O Ministério Público foi favorável à prisão, mas a Justiça impôs apenas medidas cautelares, como o distanciamento das vítimas. 

Investigação

Em 20 de novembro, outra denúncia, novamente feita pela avó das crianças fez a polícia intensificar o monitoramento. A mulher contou que, agora, o neto de apenas 9 anos reclamou do avô. Segundo o menino, as investidas ocorriam desde que ele tinha 5 anos.

A idosa disse que a mãe, ao dar banho no filho, viu que o menino não parava de chorar. Ao colocá-lo na cama, deu um beijo na orelha e o garoto respondeu: “Não gosto dessas brincadeiras.” Estranhando a situação, a mãe da criança o questionou e o filho disse que avô  “colocava a boca na minha íntima (em alusão às partes íntimas). 

Para a avó, o menino perguntou: “Sabe o que aconteceu (com minha irmã)? Meu avô também brincava com minha (parte) íntima, só que eu não gostava porque me machucava”. Novamente, os familiares foram à delegacia e registraram outro boletim de ocorrência. 

Ao Correio, o delegado-chefe da 24ª DP, Fábio Farias, explicou que, com base no relato da avó, foi instaurado um inquérito para as investigações. Os elementos colhidos, segundo ele, foram suficientes para o indiciamento e o deferimento do mandado de prisão preventiva pelo Judiciário.

“Colhemos, além das oitivas de familiares das vítimas, o depoimento especial das crianças, onde ficou claro o cometimento do crime de estupro de vulnerável por várias vezes de ambas as crianças.”

A delegada-adjunta da Deam 2, Mariana Almeida, ressalta a importância da denúncia rápida ao observar qualquer comportamento ou alegação suspeita da vítima. “Quando se tem essa suspeita, é bom evitar fazer perguntas para as crianças, pois isso pode fazê-la a criar repulsa e até constrangê-la. Deve-se levar o menor à delegacia, pois lá ela passará por um protocolo especial de depoimento”, enfatiza.

O mandado de prisão foi cumprido na manhã desta terça-feira, em um condomínio residencial de Águas Claras. O acusado pode pegar entre 8 e 15 anos de prisão por cada abuso sexual cometido.

A reportagem tentou contato com o advogado do capitão, mas, até o momento, não obteve resposta. O espaço está aberto a manifestações.

Darcianne Diogo
Pablo Giovanni
postado em 17/12/2024 22:51
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