José Eraldo Dutra Bezerra, 36 anos, um dos presos pelo ataque a um caminhão que resultou na morte de um vigilante no posto Nova Colina, em Taguatinga, já havia sido detido 20 dias antes do crime. Na ocasião, ele foi flagrado por policiais militares com uma arma de fogo 9mm em um bar de Taguatinga e denunciado por ameaçar uma mulher.
Apesar de ter sido preso em flagrante, José Eraldo foi liberado após passar por audiência de custódia. Agora, ele é acusado de participar do latrocínio (roubo seguido de morte) do segurança Ronivon Dias Lima, assassinado durante o ataque no posto.
O flagrante ocorreu em 21 de novembro, após a PM receber uma denúncia de uma possível ameaça em um bar da QSC 19. A informação dava conta de que José Eraldo estaria intimidando a mulher em decorrência de uma dívida do marido dela. Além da arma, José Eraldo estava em posse de dois carregadores e 19 munições.
José foi levado à delegacia, indiciado por porte ilegal de arma de fogo e, dois dias depois, passou por audiência de custódia. Na ata, a qual o Correio teve acesso, o juiz responsável considerou que houve indícios suficientes de autoria, mas que a manutenção da prisão seria, no entanto, “excessiva”.
Com base na justificativa, concedeu a liberdade ao acusado e determinou algumas medidas, como a proibição de contato com a vítima, proibição de frequentar o bar, obrigação de manter o endereço atualizado e proibição de sair do DF por mais de 30 dias sem comunicar à Justiça.
O ataque
José Eraldo voltou a ser preso em 10 de dezembro por envolvimento no ataque ao caminhão no posto Nova Colina. Na madrugada de terça-feira, ele e mais três pessoas: Sidney Cardosa Passos, 35, Francisco de Assis Bispo de Jesus, 40 (contratado para destruir um dos carros usados na ação) e Cleomar Marcos da Silva, 41 (motorista do caminhão) atacaram um caminhão que transportava eletrônicos e 480kg de skunk, em Taguatinga.
O Correio revelou em primeira mão que os envolvidos são integrantes da facção brasiliense Comboio do Cão. Depoimentos prestados pelos acusados na Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri) apontam inconsistências e inverdades com as provas coletadas pelos investigadores. Cleomar, motorista do caminhão, foi acionado por uma transportadora para levar uma carga de televisores de Manaus (AM) até o município da Serra (ES).
Em 8 de janeiro, no trajeto, Cleomar ligou para a transportadora alegando ter sido vítima de um assalto. Mas a história era falsa, segundo revelaram as investigações. Por questões de segurança, a empresa contratou uma equipe de apoio para mantê-la de prontidão e evitar problemas com a carga.
Enquanto estava em Tocantins acompanhado pelos representantes de segurança da respectiva transportadora, Cleomar despertou a atenção dos funcionários ao ser flagrado conversando com dois homens, Sidney e José Eraldo.
À polícia, Sidney disse que é primo de Cleomar e foi até Tocantins com José Eraldo para prestar assistência a Cleomar. Na suposta ligação, o motorista contou a Sidney sobre a tentativa de assalto e que os criminosos teriam o obrigado a usar drogas.
Sidney alegou ter passado os dados pessoais e uma foto para o representante de segurança, como forma de garantir o estado de saúde de Cleomar. Na versão contada aos policiais, José Eraldo negou envolvimento com os fatos, confirmou ter ido com Sidney até Tocantins para ajudar Cleomar, mas que, depois, os dois dormiram em um hotel localizado em Uruaçu (GO) do dia 9 para o dia 10 (data do crime). Relatou que acordaram pouco depois das 6h e seguiram para Pirenópolis (GO) para encontrar a esposa.
Segundo José Eraldo, no caminho para Pirenópolis, ele e Sidney foram abordados na via por militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e conduzidos à Corpatri. Para a polícia, não há dúvidas do envolvimento dos dois.
Plano frustrado
Fontes de segurança ligadas ao caso contaram ao Correio que a facção, mesmo ciente da escolta armada, não recuou e se posicionou no posto para a chegada da carga. O plano inicial era apenas desabastecer o caminhão e recolocar as drogas em quatro carros, incluindo uma van.
Quando a carreta chegou ao posto Nova Colina, criminosos já estavam no aguardo e deram continuidade à ação, sem se importar com a presença dos vigilantes. Na madrugada de 10 de dezembro, por volta das 4h, enquanto os seguranças dormiam no carro, o bando caminhou a pé até a carreta, mas a movimentação foi percebida e, neste momento, eles abriram fogo contra os trabalhadores e fugiram sem levar nada.
Ao longo de terça, as forças de segurança se mobilizaram para a localização dos autores. Além da prisão do motorista, o HB20 usado pelo grupo foi encontrado carbonizado, em um terreno baldio, no Sol Nascente. Posteriormente, a Zafira foi achado, conduzido por Francisco de Assis, próximo ao Jóquei Clube, na região da Estrutural, pelos militares do Bope.