A temporada de chuvas no Distrito Federal traz para muitos a preocupação coma dengue. De acordo com dados da Secretaria de Saúde (SES-DF), entre 10 de novembro e terça-feira, foram notificados 1.640 casos prováveis da doença. Além disso, pelo último boletim epidemiológico divulgado pela pasta, referente ao período entre 3 e 30 de novembro, as regiões com maior quantidade de ocorrências para cada 100mil habitantes são: Varjão (151,99),Paranoá (143,93), Ceilândia (132,17)e Sol Nascente/Pôr do Sol (123,92).
Walter Ramalho, professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB), afirmou que, com o início das precipitações pluviométricas, há um aumento no surgimento de mosquitos, como o Aedes aegypti, que proliferam arboviroses (enfermidades transmitidas por insetos). "Vamos precisar ter muita atenção em relação à perspectiva desse agravo das arboviroses nesse ciclo de chuva, que está praticamente no início", alertou.
O educador da UnB justificou a advertência dizendo que: "A gente tem visto que janeiro e fevereiro são meses de grande preocupação, quando se fala do risco dessas doenças". E, devido a esse histórico, acrescentou: "Penso que podemos ter (com a dengue) uma situação preocupante (em 2025)". Ele ainda recordou que a situação dessa moléstia na região, durante o período de seca, não estava "tranquila", sinalizando, segundo ele, "um estado de alerta".
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Risco
Breno Adaid — especialista em dados quantitativos e estatística, além de professor da UnB e do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) — analisou os boletins epidemiológicos da Secretaria de Saúde. De acordo com ele, na série histórica da última epidemia de dengue, em diversos pontos da capital, os casos de doentes começaram a subir no início de dezembro de 2023 mantendo-se a curva ascendente pelo bimestre seguinte.
"Se os dados subirem novamente, podemos esperar uma alta expressiva (de doentes com dengue) para o ano que vem (2025)", observou. Atualmente, de acordo com Adaid, estamos seguindo o mesmo "ritmo" anterior, ainda que com uma leve tendência à queda. "Acredito que devemos avaliar o comportamento da curva de casos com muito cuidado, uma estabilidade do número atual representa uma expectativa de tranquilidade", comentou.
O professor disse que esse momento é bem importante para saber o que podemos esperar para 2025. "Como os casos de dengue costumam estar ligados à temporada de chuva, teremos crescimento dessas ocorrências, no DF, seguramente", afirmou. "Mas, se a curva (de infectados) começar a subir agora, o aumento será bem maior, correndo o risco de vivermos uma nova epidemia", avaliou Breno Adaid.
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Prevenção
O Correio foi até o Varjão, onde mora a aposentada Manuela Moisés, 73 anos. Ela disse que contraiu a doença em 2021, descrevendo como os sintomas começaram de forma repentina. "Um dia, preparando o jantar, senti um calafrio e percebi que estava com febre", contou, afirmando que não precisou ser internada. "Os médicos me orientaram a tomar medicação e a me hidratar adequadamente em casa", relatou.
A aposentada se disse totalmente a favor da colaboração comunitária para eliminar criadouros do mosquito. Por outo lado, lamentou a dificuldade de controle do Aedes aegypti em quintais vizinhos: "Não temos como corrigir o que está acontecendo na casa dos outros". Apesar disso, ela garantiu que, em sua propriedade, continua a se prevenir, eliminando água acumulada em pneus, garrafas, latas e outros recipientes, além de manter as caixas d'água bem fechadas e limpas.
Daiana Ferreira, 46, também mora na região. Ela disse à reportagem que teve dengue e se preocupa com a possibilidade de uma nova infecção. "Tenho medo de pegar de novo, pois parece que, a cada vez, vem pior", considerou. De acordo com a doméstica, o aumento das chuvas e a falta de cuidados adequados para eliminar água parada têm contribuído para a disseminação do mosquito. "Certas ruas, aqui, estão terríveis. A população precisa ter mais consciência sobre onde se deve colocar o lixo", reclamou.
Ações
Em nota enviada ao Correio, a SES-DF disse que trabalha continuamente nas ações de combate ao mosquito da dengue, realizando serviços que incluem: visitas casa a casa, com o objetivo de eliminar focos do vetor; manejo ambiental; ações de mobilização e educação social; bloqueio de casos com uso de inseticidas; tratamentos de focos com uso de larvicidas; e uso de armadilhas de monitoramento de infestação.
A Secretaria de Saúde informou que, atualmente, conta com 512 agentes de vigilância ambiental em saúde e 30 carros fumacê. Eles visitam uma média de 5 mil imóveis diariamente. Além disso, neste ano, 150 agentes de vigilância ambiental (Avas) e 115 agentes comunitários de saúde (ACSs) foram nomeados e foi sancionada a lei que autoriza a nomeação de mais 800 agentes de saúde. "Eles desempenharão um papel fundamental na rede pública, ao realizar busca ativa de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e ações de combate a doenças", pontuou a nota, ressaltando que as nomeações dos 400 ACSs e 400 Avas devem ocorrer em dezembro.
Casos/ 100 mil habitantes
Dados referentes ao período entre 3 e 30/11
Fonte: SES-DF
Varjão - 151,99
Paranoá - 143,93
Ceilândia - 132,17
Sol Nascente/Pôr do Sol - 123,92
Lago Norte - 90,35
Itapoã - 68,38
São Sebastião - 63,56
Samambaia - 54,78
Brazlândia - 54,30
Estrutural - 53,38
Gama - 45,11
Santa Maria - 44,50
Colaborou Carlos Silva
*Estagiária sob a supervisão de Manuel Martínez
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