"Brasília é o paraíso dos arquitetos, um exemplo vivo de um plano urbanístico revolucionário." A afirmação é do arquiteto Antônio José de Oliveira, criador da maquete do Plano Piloto de Brasília, que está exposta no Espaço Lúcio Costa, na Praça dos Três Poderes, desde 1988. Ele foi o convidado do Podcast do Correio da última sexta-feira.
O modelo em miniatura serviu para celebrar o título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade concedido pela Unesco à capital federal, em 1987.Durante a conversa com as jornalistas Nahima Maciel e Sibele Negromonte, Oliveira relembrou os desafios da produção, que levou um ano para ser concluída. A obra, com cerca de 170 m² divididos em 98 painéis, foi encomendada pelo então governador do Distrito Federal, José Aparecido. Ela foi inicialmente apresentada no Palácio do Buriti, onde recebeu a aprovação de Oscar Niemeyer. Porém, sua inauguração oficial se deu, posteriormente, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, retornando novamente a Brasília, sua casa para sempre.
O arquiteto contou que o processo de produção foi artesanal e que envolveu uma equipe de 30 pessoas. "Hoje, as maquetes físicas são raras. A tecnologia permite criar modelos virtuais e interativos", comentou. Ele acrescentou que o projeto chegou a ser exposto no Salão Negro do Congresso Nacional até ganhar um lugar definitivo no Espaço Lúcio Costa. "É uma obra grande e detalhada", lembrou o autor, que lamenta a situação de seu trabalho atualmente: "Está deteriorada, com cores apagadas e iluminação precária. Os prédios, antes brancos, estão cinza, e a iluminação é péssima. É triste ver isso", explicou.
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Patrimônio
Na semana passada, Oliveira participou como palestrante do "Encontro Empreendedor da Economia Criativa no Patrimônio Cultural", na Biblioteca Nacional de Brasília. O evento foi parte da programação da exposição Museu Imaginário, que comemora os 40 anos do Museu de Arte de Brasília (MAB) e está aberto até 20 de janeiro.
Durante sua fala, ele abordou a importância das maquetes na preservação da memória urbanística, destacando o papel educacional desses modelos na compreensão de cidades como Brasília, especialmente nas aulas de geografia. "É essencial que as crianças aprendam sobre o lugar onde vivem. Fazer maquetes da casa, do bairro e, mais tarde, da cidade, ajuda a entender o espaço ao redor, especialmente para quem não conhece a arquitetura", afirmou. Ele citou ainda métodos como o Montessori, que incentivam a criatividade e a construção de modelos em aulas escolares.
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Paixão e desafios
No podcast, o arquiteto revelou seu fascínio por Brasília, destacando a singularidade da cidade projetada por Lúcio Costa. Apesar de nunca ter morado na capital, ele admite que pensou em se mudar para Brasília: "É uma cidade maravilhosa, cheia de vida cultural e com um cenário único. Ela deu certo, prova disso é a quantidade de pessoas que vieram morar aqui", pontua.
Oliveira também refletiu sobre o crescimento urbano da capital ao longo dos anos. Segundo ele, a capital federal superou as expectativas iniciais de desenvolvimento. "Ela cresceu muito mais do que o previsto. Não se imaginava que surgiriam tantas cidades-satélites", explicou. Ainda assim, acredita que o plano original de Lúcio Costa resistiu ao tempo e permanece intacto em sua essência, apesar dos problemas urbanos.
Uma das curiosidades levantadas por ele foi a Vila Planalto, local que inicialmente não aparecia no mapa. "Era a cidade dos trabalhadores, dos operários. Havia até planos para transferi-la para Samambaia", contou. A vila, no entanto, resistiu, preservando suas casas de madeira e seu charme peculiar. Ele destacou, ainda, que a área se tornou um ponto de efervescência cultural, com bons restaurantes e uma comunidade vibrante, mas que, por muito tempo, permaneceu à margem do mapa oficial de Brasília. O arquiteto, porém, lamentou a decadência de espaços como o Conjunto Nacional e o Conic, que foram polos culturais e, atualmente, enfrentam abandono.
*Estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti
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