A esportista brasiliense Samantha Saraiva Santos, de 26 anos, tardou algum tempo para escutar a ovação da torcida a seu favor em grandes competições internacionais. A demora não se deu apenas pelo tempo que levou para superar torneios classificatórios, seletivas de equipe e outros desafios que enfrentou. Foi também porque ela sofre de perda auditiva alta, mas não severa. O problema foi diagnosticado, em 2002, por médicos que examinaram a agora goleira da Seleção Brasileira de Futsal Feminino de Surdos. A dificuldade foi encarada e vencida, segundo ela, graças a dois fatores. Um, o amor pelos esportes. O outro, o apoio e resiliência da mãe — Noemea Santos Saraiva, 60, aposentada da área comercial — e do pai — José Saraiva de Andrade, 58, e desde seus 25 na ativa como garçom do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).
"A nossa luta sempre foi por nossos filhos, e valeu a pena", disse Saraiva, referindo-se, também ao seu caçula, Samuel, 24. O rapaz, cursa fisioterapia na Universidade de Brasília (UnB) e, com a irmã, completa o quarteto familiar que mora no Riacho Fundo e que, não raro, celebra medalhas que a moça tem conquistado mundo afora.
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Nascido no interior do Piauí — em José de Freitas, que deixou, acompanhado de Noemea, aos 18 anos — o pai de Samantha é responsável por prover com água e café fresquinhos visitantes e servidores do TJDFT, desde 1991. Antes de vir para o "Quadradinho", ele passou pela capital de seu estado natal — Teresina —, por São Luís (MA) e pela "cidade maravilhosa" (RJ), e ganhou seu sustento em atividades que realizou em vidraçaria, hotel de luxo e restaurante. Desafios ao casal não faltaram, especialmente com a primogênita.
Surpresas
"Foi uma gravidez de risco. Minha pressão subiu muito, e Samantha teve que nascer com oito meses. Ela era muito tranquila, mas, aos 3 anos, notamos que não falava, apenas dava gritinhos. Achei estranho e a levei na fonoaudióloga. Depois de um ano de tratamento, descobrimos que tinha perda auditiva alta, mas não severa", lembrou a aposentada.
Com o diagnóstico, a menina iniciou acompanhamento no Centro Educacional da Audição e Linguagem (Ceal) Ludovico Pavani, da Secretaria de Saúde do DF. Lá conseguiu aparelhos auditivos. "Ela frequentou uma escolinha com professoras especializadas que ajudaram muito no desenvolvimento. Com o aparelho auditivo, começou a falar muito bem, mesmo com algumas dificuldades em certas palavras. Sempre foi uma menina muito inteligente e dedicada", disse Noemea. A mãe piauiense ressaltou que: "Meu marido e eu nunca medimos esforços para que tivessem o melhor". Assim, no comércio, ela lutava pelo sustento familiar. E Saraiva, com simpatia, conquistava os clientes de um restaurante em que foi garçom, logo que chegou à capital federal. Seu carisma ajudou.
O estabelecimento era frequentado por servidores do TJDFT. Calhou que o tribunal necessitava de alguém com seu perfil. Inicialmente, ficou 16 anos na unidade do órgão em Ceilândia. Posteriormente, foi transferido para a sede no Plano Piloto, onde está, atualmente. E, sem esconder sua satisfação pelo lugar ao qual dedicou boa parte de sua vida, garantiu que "sempre valeu demais!"
Amor pelo esporte
A dedicação do pai ajudou a forjar o maneira de ser de Samantha. Além disso, seu Saraiva e o irmão Samuel a ajudaram a descobrir o amor pelo esporte ainda criança. Mesmo sendo a única menina jogando futebol com os garotos de sua escola, e na rua, conseguiu mostrar-se talentosa.
Quando ingressou no ensino fundamental, descobriu uma escolinha feminina de surdos, na Federação Brasiliense Desportiva dos Surdos, e passou a treinar futsal regularmente, atividade que se tornou parte essencial de sua vida.
Atualmente, formada em Educação Física e em Letras-Libras, ela divide seu tempo entre aulas na rede pública e treinos como atleta de alto rendimento. Recentemente, foi convocada para disputar as Surdolimpíadas de 2025, em Tóquio, pelo time de handebol, esporte que também ama.
Atuando como goleira, conquistou títulos o ouro no Pan-Americano de Futsal deste ano, em Canoas (RS), pela equipe da Confederação Brasileira de Desportos de Surdos e o bronze nas Surdolimpíadas de 2021, no handebol, em Caxias do Sul (RS). "Meu sonho era representar o Brasil no futsal. Realizei isso ao me tornar bicampeã pan-americana. É algo que jamais esquecerei", afirmou.
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Além do futsal e do handebol, Samantha também brilha no vôlei de praia, acumulando troféus e medalhas. Hoje, Samantha é professora efetiva de Educação Física da Secretaria de Educação e uma inspiração para seus alunos. "Mostro minhas medalhas e troféus para os estudantes e eles se sentem motivados. Alguns até me disseram que começaram a treinar por minha causa. Isso me dá força para continuar", disse.
Samantha enfatizou a importância do apoio dos pais no desenvolvimento de sua vida profissional e pessoal: "Meus pais são meus heróis. Nunca desistiram de dar o melhor para mim e para o meu irmão. Tudo o que conquistei até hoje é graças ao apoio deles".
Portador de grande eficiência
Botafoguense apaixonado, o atleta com síndrome de Down, Pedro Henrique Lucena Bomfim, 21 anos, faz parte da equipe de atletismo da Apae-DF — que atende a pessoas com necessidades especiais. Recentemente, o rapaz brilhou no Open Internacional de Atletismo, conquistando medalhas de ouro e batendo recordes nos 100 e 200 metros rasos. Ele e seus colegas também bateram o recorde brasileiro nos revezamentos 4x100 e 4x400 metros.
Aos 4 anos, Bomfim — que mora com a família em Vicente Pires —iniciou sua jornada esportiva com futebol. Depois, migrou para o atletismo, esporte em que se destacou. Apesar das dificuldades causadas pela hipotonia muscular, condição que afeta sua fala, ele sempre se comunicou de forma única e eficiente, demonstrando sua força e capacidade.
Enfatizando que seu filho sempre foi interessado por esportes, Gerson do Bomfim, pai do jovem contou que o garoto sempre diz: "Vou ser campeão e todo mundo vai gritar Pedro, Pedro, Pedro".
Sua trajetória é apoiada pela dedicação e incentivo de Mara Lucena Carneiro, mãe, e Anna Clara Lucena Carneiro, irmã, que sempre acreditaram do potencial do menino.
"O esporte é uma ferramenta fundamental para a inclusão. Pedro é um campeão da vida e merece todo nosso apoio e respeito", destaca o pai. A família acredita que, mais do que as medalhas, o que realmente importa é a felicidade do garoto, que segue se destacando com a alegria de quem encontrou seu verdadeiro caminho.