Os pontos positivos da internet e a necessidade de seu uso de maneira equilibrada foram assuntos explorados pelo neurologista Ricardo Afonso Teixeira durante o programa CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília, desta quinta-feira. Às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte, o especialista comentou sobre o “brain rot”, termo escolhido pelo Dicionário de Oxford como palavra do ano.
Ele também alerta sobre os impactos que essas tecnologias podem ter no desenvolvimento de crianças que crescem expostas à modernidade. O neurologista explica que habilidades psicossociais dessa criança e a linguagem que está em formação, concorrem com o resto da vida e que o cérebro precisa dar muita energia para conseguir decodificar aquela sequência de conteúdos muitos rápidos, como no TikTok, por exemplo. Apesar disso, ele acredita que essa nova geração possa estar mais adaptada a isso do que os que cresceram sem essa tecnologia.
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“Eu acredito que essa decodificação pode ser mais rápida nessa geração que começou desde criança. Uma pessoa que começa a aprender um instrumento aos 5 anos de idade pode ter um desempenho diferente de alguém que começa aos 20 anos de idade, por exemplo. Não tenho um estudo forte mostrando essa diferença, mas acredito que existe. E essas pessoas dessa geração, talvez, fiquem menos vulneráveis do que se fossem crianças de uma geração anterior, que não teve isso desde pequeno”, afirma o neurologista.
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Ele afirma, ainda, que o uso moderado das redes sociais e da internet pode trazer benefícios ao bem-estar em diferentes faixas etárias. Ele usa como exemplo os efeitos nos idosos, em que a tecnologia pode facilitar a socialização e manter o cérebro ativo, impedindo doenças degenerativas. Independente da faixa etária, a recomendação do neurologista é de que haja equilíbrio do uso da internet com fatores como sono, alimentação, atividade física e socialização para garantir que esse impacto no psicológico dos usuários seja positivo.
Brain rot
Apesar do alarde feito sobre o assunto, o doutor explica que há um exagero quanto à afirmação de que a internet, os games e as redes sociais estariam “deteriorando” os nossos cérebros. Para ele, o que realmente ocorre é que esses produtos todos deixam o cérebro, de certa forma, cansado, e que investigações mostram que o desempenho cognitivo fica diferente quando você exagera na dose, uma vez que são muitas informações para decodificar de uma forma constante.
Para o neurologista, as pessoas conseguem reconhecer, às vezes, quando exageram nesse consumo, sendo assim popularizado o termo em inglês, que significa “cérebro podre”. O termo, que descreve a degeneração causada pelo uso excessivo de tecnologias, especialmente das redes sociais, foi reconhecido pelo Dicionário de Oxford com o título de palavra do ano, algo que Teixeira considera significante.
“Isso não é do nada, eu acho. Existe uma consciência das pessoas que, muitas vezes, elas passam dos limites que poderiam. Tem uma rebordose, muitas vezes, quando a pessoa que fica muito tempo no celular mexendo o dedinho, procurando uma próxima notícia, cai nessa armadilha dos algoritmos”, destaca.
* Estagiário sob supervisão de Márcia Machado