Com o objetivo de debater a importância da aprendizagem e da profissionalização para os trabalhadores do mercado brasileiro, o Correio Braziliense e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) realizaram, nesta quarta-feira (4/12), o CB Fórum: Emprego, renda e cidadania: a educação como ferramenta de oportunidade. O evento reuniu especialistas e autoridades em dois painéis temáticos, com os temas: "Economia em expansão: o mercado de trabalho e as demandas da sociedade" e "Próximos passos: o futuro na profissionalização".
Na abertura, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, destacou a importância de preparar a força de trabalho para atuar nas áreas mais dinâmicas da economia mundial. "Estamos diante de uma transformação global guiada por tecnologias emergentes e da digitalização de praticamente todos os setores econômicos. A revolução tecnológica 4.0 chegou para ficar e precisamos nos preparar", afirmou a ministra.
Para o presidente da Fecomércio, José Aparecido da Costa Freire, é preciso investir na educação não apenas como ferramentas de oportunidades. "Estamos falando de algo muito mais profundo do que salas de aula convencionais e diplomas. É abrir portas para o futuro, permitindo que cada jovem possa transformar seu potencial em competência, suas ideias em ações concretas e seus sonhos em realizações profissionais", descreveu, apontando que esse desequilíbrio de mão de obra em relação às vagas de emprego é um obstáculo, mas também uma oportunidade.
José Aparecido destacou ações que a Fecomércio-DF e o Senac-DF têm realizado, como a parceria com a L'Oréal Produtos Profissionais. "Com isso, lançamos o programa Geração Pro, que está capacitando os jovens vulneráveis entre 16 e 35 anos para o mercado de beleza", relatou. "A inauguração desse polo foi feita no começo de outubro, no Shopping Conjunto Nacional, e é um marco nesse sentido. Lá, 45 alunos já estão se preparando para se tornarem cabeleireiros altamente qualificados", reforçou.
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Investimentos em TI
O setor de tecnologia da informação terá um déficit estimado de 530 mil profissionais até 2025. O governo federal, por meio do MCTI, tem investido em programas de capacitação de profissionais, principalmente nas áreas relacionadas à inovação. Por meio do programa Mais Ciência na Escola, o governo vai investir R$ 200 bilhões para beneficiar duas mil escolas com duas mil bolsas para professores e 20 mil bolsas para estudantes da educação básica.
Visando a formação de programadores de baixa complexidade, serão investidos ainda R$ 54 milhões. Serão disponibilizadas 10 mil vagas entre 2025 e 2026. "Serão estudantes do último ano do Ensino Médio, meninos e meninas. Eles terão aulas teóricas por três meses e mais três meses de prática já no setor do comércio e indústria", explicou a ministra Luciana Santos.
O programa "Hacker do bem" recebeu investimento de R$ 34 milhões e capacitou 35 mil profissionais para atuarem na área de segurança cibernética. De acordo com a ministra, está sendo criado um hub nacional de cybersegurança, fortalecendo o ecossistema tecnológico. Enquanto isso, o governo está investindo R$ 273 milhões no programa Residência em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) para formar alunos de graduação e de nível médio em áreas como computação em nuvem, big data, segurança cibernética, internet das coisas, manufatura avançada, robótica e inteligência artificial. Além disso, serão investidos R$ 100 milhões na residência em Hardware para capacitar estudantes de engenharia na projeção de chips.
Políticas educacionais
"A integração entre educação e mercado de trabalho deve ser construída por meio de uma pactuação entre o poder público, o setor produtivo e a escola", disse o diretor de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Henrique Paim. Ele destacou que as políticas educacionais precisam ir além da visão dos gestores públicos, incorporando as demandas do setor produtivo e conectando essas necessidades aos interesses e realidades dos estudantes. "A escola precisa incorporar no currículo do ensino médio as competências e habilidades que atendam às necessidades do mercado de trabalho. Isso é fundamental para formar cidadãos que não apenas pensem criticamente, mas que também estejam preparados para produzir e garantir sua sobrevivência com dignidade", pontuou.
Segundo Paim, o Brasil teve um "despertar tardio" para a importância da educação como alicerce do desenvolvimento, perdendo oportunidades estratégicas em momentos de expansão econômica, como a industrialização e a modernização agrícola. Ele argumentou que a ausência de políticas educacionais de longo prazo e alinhadas às necessidades do mercado compromete o potencial econômico e social do país.
O diretor apontou três desafios centrais que precisam ser enfrentados para alinhar a educação às exigências do mercado contemporâneo. O primeiro é melhorar a proficiência e a permanência escolar, pois muitos jovens não conseguem concluir a educação básica. Para ele, esse problema reflete tanto as desigualdades sociais quanto a falta de gestão eficaz no sistema educacional. "É essencial que a gestão seja voltada para a aprendizagem e o acompanhamento dos estudantes, garantindo inclusão e progresso educacional", afirmou.
O segundo desafio é a expansão da educação profissional, que, embora tenha registrado avanços, ainda está longe dos padrões de países desenvolvidos. Ele mencionou que as matrículas no ensino técnico aumentaram de 5% para quase 15% em 15 anos, mas enfatizou que isso ainda é insuficiente. "É fundamental ampliar a oferta de cursos técnicos e profissionalizantes, conectando-os ao mundo do trabalho e às vocações regionais. Muitos jovens desejam ingressar na formação profissional, mas a escola tradicional não oferece essa possibilidade", destacou.
O terceiro desafio envolve o alinhamento dos currículos escolares às novas demandas do mercado, que exigem competências como alfabetização digital, pensamento crítico, colaboração e criatividade. Ele ressaltou que essas habilidades são indispensáveis em um cenário cada vez mais tecnológico e interconectado. "A questão da transformação digital é fundamental. O jovem precisa estar preparado para todos esses pontos desde o Ensino Fundamental. O grande desafio da humanidade é exatamente esse", enfatizou.
Desemprego entre jovens
De acordo com o diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-DF), Vitor Corrêa, o órgão tem realizado programas de educação profissional para garantir oportunidade no mercado de trabalho, principalmente para os jovens. Segundo ele, o nível de desemprego em Brasília é de 15% e, entre os jovens, o índice gira em torno de 35%. "Esses projetos são importantes porque estamos gerando uma produtividade para os jovens, para que eles não caiam naquele nem estuda e nem trabalha", disse.
Entre as iniciativas realizadas pelo Senac, Vitor Corrêa destacou o programa jovem aprendiz da instituição. Segundo o diretor regional, ao fim do curso, 85% dos alunos têm empregabilidade garantida. Ele ainda ressaltou outro projeto semelhante, que é o técnico no ensino médio. "Realizamos a formação técnica simultânea ao estudante que faz o ensino médio. Sabemos que o ensino técnico é muito importante no Brasil. Por isso, essa iniciativa gera uma renda de mais de 32%, e uma chance de empregabilidade 15% maior para os inscritos", pontuou.
Especialista em políticas de emprego e mercado de trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Aguinaldo Maciente, falou sobre a importância da formação educacional para a empregabilidade. Segundo ele, a educação é a base para a obtenção de um bom emprego. "Precisamos fortalecer ainda o sistema de treinamento de jovens e adultos e os mecanismos de proteção social. Temos um sistema contributivo onde quem trabalha sustenta a aposentadoria de quem não trabalha mais e um dia isso não vai se sustentar", destacou Aguinaldo Maciente. "O Brasil está em uma conjuntura favorável pós-pandemia, onde o mercado de trabalho se recuperou. O mundo passou por um processo de desorganização da produção e do trabalho. No Brasil, já houve uma recuperação que coloca o mercado de trabalho mais próximo aos picos de emprego e participação", afirmou.
*Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti