O segundo painel do CB Fórum: Emprego, renda e cidadania, educação como ferramenta de oportunidade, intitulado "Próximos passos: o futuro na profissionalização", contou com a presença de Magno Lavigne, secretário de Qualificação, Emprego e Renda do Ministério do Trabalho e Emprego; Camila Ikuta, assessora técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese); e Jorge Fernandes, professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB). O evento foi realizado, nesta quarta-feira (4/12), pelo Correio Braziliense e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem comercial (Senac).
Lavigne falou sobre como a escolaridade e a afinidade com a inteligência artificial serão fatores que aumentarão as chances de empregabilidade das pessoas. "É preciso compreender mais profundamente as linguagens desse mundo para ter uma empregabilidade maior", observou. "Deveremos ter um profissional que tenha compreensão não só daquele mundo que ele participa, não só daquela profissão, para que ele tenha uma capacidade de mudar, às vezes, o foco daquele momento do trabalho. Porque, se ficar desempregado de uma área, terá outra área, terá outras possibilidades", reforçou.
Em relação às ferramentas que estão disponíveis no mercado de trabalho, o secretário pediu que as pessoas façam uma reflexão sobre o que acreditam ser o mais importante. "Por exemplo, existe tecnologia no mundo para não ter frentistas no posto de gasolina. Mas o Brasil fez a escolha de manter esse profissional. Isso porque o emprego de 100 mil pessoas é mais importante para o país do que retirar esses cidadãos do mercado de trabalho", pontuou.
Caso a tecnologia e as novidades que esse ramo traz não sejam utilizadas para a resolução de problemas, serão criados nichos menores de pessoas com mais condições, enquanto as outras não terão acesso a nada. "É isso que queremos como país e sociedade? Esse é um grande dilema que vamos ter daqui em diante", observou.
Ensino técnico
Camila Ikuta, do Dieese, levantou a importância de se focar no futuro para conseguir a qualificação profissional. Ela afirmou que novas tecnologias e áreas que podem apresentar crescimento são os caminhos para ajudar parte da população a conseguir sucesso no mercado de trabalho. Camila explica que essas ações são importantes para enfrentar o baixo índice de mão de obra qualificada, uma vez que apenas 15% da população ideal brasileira fez um curso de qualificação profissional ou de ensino técnico.
Entre essas novas áreas estão, por exemplo, a economia de cuidado, tendo em vista o envelhecimento populacional que a sociedade brasileira enfrenta. A assessora também menciona os empregos voltados para a área ambiental, social e de governança, pensando em energias limpas, renováveis, que também são uma preocupação muito forte do Brasil.
Ela diz acreditar que a alta busca pela requalificação também se dê pela insatisfação de algumas pessoas com a área na qual se formaram. "Outro ponto importante é que não há tanto 'match' entre a formação e a ocupação. Então, muitas pessoas que se formam, seja na qualificação ou no curso técnico, acabam não conseguindo se empregar na área. Isso é um problema também muito comum que a gente enfrenta", afirmou.
Camila comentou que uma solução para a área é aumentar o diálogo social entre o governo, na forma das políticas públicas, o setor empresarial e as representações de trabalhadores, o que poderia combater a falta de mão de obra qualificada. Ela acrescentou que as políticas têm que ser inclusivas nas novas áreas do cenário do futuro do trabalho. "A gente tem, por exemplo, poucas mulheres na área de ciências, engenharia, matemática, tecnologia, e a gente precisa incluir, fornecer meios de incentivar as mulheres, os jovens, a permanecerem nessas áreas."
Preparação para IA
O professor do departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Fernandes declarou que, nos últimos anos, os professores têm vivido um grande dilema sobre o uso da inteligência artificial no ambiente acadêmico. Ele explicou como é complexo enfrentar o desafio de trazer tecnologia e conhecimento para os docentes, para que eles possam trazer esse conteúdo para dentro da escola. "Precisamos reduzir a desigualdade no sistema educacional. Porém, se introduzirmos de forma despreparada (a IA), podemos aprofundar esse processo", enfatizou.
Jorge Fernandes destacou que a inteligência artificial é uma tecnologia e um instrumento de poder que adquiriu uma facilidade muito grande de uso em atividades rotineiras e profissionais. "As IAs ampliam muito a capacidade das pessoas de realizar algumas coisas, mas têm os seus riscos. Por exemplo, a questão do senso crítico de entender que ela é apenas um modelo estatístico", ressaltou o painelista.
O professor comentou que a tecnologia tem um potencial muito grande de transformar a sociedade. "Essa ferramenta tem um grande poder, mas gera, de forma mais ampla, o aprofundamento da desigualdade social. Esse aprofundamento com a inteligência artificial chega a níveis muito elevados e, por isso, precisamos enfrentar a questão de como utilizar e trazer as tecnologias para nosso meio", afirmou.
*Estagiários sob a supervisão de Eduardo Pinho