Imagine reencontrar os colegas de ensino médio anos após a formatura. Para alguns, pode soar desconfortável ou estranho, e há quem fuja de qualquer recordação desse período. Para um grupo de ex-alunos do Colégio Marista, porém, o reencontro é a oportunidade de matar a saudade e voltar no tempo, afinal, os estudantes pertenceram à turma de 1984. "Outra época, não é? Em 40 anos, tantas coisas mudam", conta Katia Maia.
A comunicadora, hoje com 56 anos, explica que conseguir retomar o contato com os colegas mais distantes só foi possível graças à internet. "Algumas pessoas ficaram responsáveis por localizar o pessoal cujo número de telefone havíamos perdido. Fomos juntando todos em um grupo no WhatsApp e, durante oito meses, nos organizamos para esse encontro", disse. A reunião ocorreu na manhã de ontem, no Maristão, na 615 Sul.
O funcionário público Marcelo Conforto, 58, é integrante da comissão organizadora e frisa que a maior motivação para o reencontro era saber como evoluiu a vida de cada um, compartilhar famílias e realizações, além de lembrar dos colegas que partiram.
"Foi uma sensação maravilhosa. Nos sentimos como quase sexagenários voltando à adolescência", comenta Marcelo, aos risos. Na última noite, os amigos saíram juntos para a balada, onde aproveitaram os flashbacks dos anos 1980. Hoje, a despedida será com um churrasco.
Entre abraços emocionados no pátio da escola, os amigos recordaram momentos que viveram na adolescência. "Cantamos juntos uma música que nosso professor cantava para nós quando estávamos no terceiro ano. Era algo assim: 'Eu vou... eu vou... jantar o vestiba, eu vou. Se nessa prova, me afundar, deixa pra lá, quá rá quá quá, passo para outra...'", conta Kalina Benedetti Henshall, 57, funcionária pública na Austrália, onde mora há 18 anos.
"Refletimos que essa música, que pode parecer boba a princípio, é na verdade um grande conselho sobre a vida ser feita de desafios. Não podemos encará-los como finais ou como uma definição de quem somos, perdendo ou ganhando. As dificuldades são pontuais e a vida segue", explica Kalina.
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Encontros
Estiveram presentes 140 ex-alunos e 15 professores. Alguns estudantes da turma fizeram viagens longas para comparecer ao encontro, visto que uma parte veio de 19 estados brasileiros e até de outros países, como Estados Unidos, Bolívia e Austrália.
Na ocasião dos 20 anos de formatura, em 2004, os amigos também se reuniram. "Fomos a primeira turma do Marista que realizou esse reencontro", revela Marcelo. "Naquela época, conseguir encontrar todo mundo foi bem mais difícil, mas deu certo", recorda Katia.
A promessa foi de que o próxima reunião ocorreria em 10 anos, porém, "com a correria do dia a dia, só foi possível agora", pontua a jornalista. O objetivo, agora, é que os reencontros sejam mais frequentes.
"A ideia é tentarmos nos encontrar de cinco em cinco anos. Ainda conversaremos sobre isso, mas com certeza outro encontro já é certo. O nosso combinado é reencontrar até o último suspiro", enfatiza Kalina. "O que vivemos juntos está grudado na nossa memória e é inesquecível para o coração. Somos uma família que gosta de estar junta", acrescenta.
Escolhas
Questionada se as escolhas da juventudade permaneceram nos anos seguintes, Kalina garante: "Eu e meus colegas conseguimos o que planejávamos quando finalizamos o Maristão, estarmos em paz com as escolhas pessoais e profissionais que fizemos. Para muitos, inclusive, para mim, o caminho não foi linear, mas foi aquele que deu certo. E sem fim, pois seguimos caminhando".
Katia, hoje com dois filhos adultos e ainda na área da comunicação, sente-se realizada. "Cheguei aonde queria estar. Agora, meu próximo desejo é me aposentar", revela. Também com um filho e casado, Marcelo conta que, apesar dos "desvios que a vida dá", está muito feliz.
"Creio que o maior segredo, aquele que repetimos a todos os jovens, é que ainda que você tenha um sonho e não consiga realizá-lo, 40 anos depois, quando olhar para trás, perceberá que a sua trajetória, independemente da estrada que trilhou, sempre será muito bonita. Pessoalmente, sou muito feliz com tudo que tenho na minha vida e esse tipo de realização é maior do que o melhor sonho que tive na minha adolescência", resume.
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