Religião

Paróquia Sagrada Família, uma nave no horizonte de Brasília

Construída em 2017, o templo religioso, no Park Way, recebeu diversos prêmios internacionais de arquitetura, tornando-se mais um importante elemento do modernismo predominante na capital

Por: Bruna Pauxis

Na Quadra 27 do Park Way, bem ao lado do Viaduto do Catetinho, uma construção em forma de nave chama a atenção. A Paróquia Sagrada Família, entregue à comunidade há dois anos, tem atraído a atenção de muitos arquitetos nacionais e internacionais e acumula prêmios no mundo inteiro (veja abaixo). A construção minimalista, monocromática e moderna  foi considerada uma das 12 igrejas mais espetaculares do mundo pelo site Architecturaldigest. Com essas credenciais, o templo tem potencial para tornar-se um cartão-postal da cidade, mesmo localizado distante do Plano Piloto. 

"Quando cheguei aqui, só tinha uma casinha de madeirite, coberta de palha. Cabiam no máximo umas quarenta pessoas", conta o Padre Américo Betta, que chegou à comunidade no início dos anos 2000. Antes disso, em 1998, as pessoas reuniam-se embaixo de uma tenda de plástico, improvisada. Logo nos primeiros anos de atuação, o religioso idealizou a construção de uma estrutura provisória de concreto que, segundo ele, abrigaria a comunidade em crescimento. "A ideia nasceu da necessidade do povo", diz.

E com os paroquianos, foi aberto um edital para que arquitetos mandassem projetos. Américo conta que, de imediato, um deles chamou sua atenção. "Eu disse 'vai ser esse aqui', porque, se o padre não gosta, é difícil", brinca o padre, que se encantou pelo minimalismo daquela ideia de construção.

O projeto era o da professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília (UnB) Luciana Saboia com os arquitetos e urbanistas Eder Alencar e André Velloso que, à época, em 2011, eram recém-formados. "Quando o projeto foi escolhido, a gente estava começando o escritório. Então, é um processo que acompanha nossa vida profissional", afirma André.

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 19/11/2024 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Arquitetura da Paróquia Sagrada Família na quadra 27 do Park Way.

Para Eder, que até hoje agradece o convite da professora, feito há mais de uma década, projetar o espaço foi uma forma singular de iniciar sua carreira. "É uma oportunidade única para um arquiteto. Porque é um tema muito interessante, que você consegue explorar questões conceituais e de como traduzir esse espaço em materialidade. A gente aprende muito com cada obra", conta.

O projeto, mesmo após anos de sua idealização, segue inovando o cenário arquitetônico da cidade. Embora dentro de Brasília, que conta com diversas construções modernas e inovadoras, a paróquia surpreende, certamente, o imaginário comum do que é um espaço religioso. "No início, a gente ouviu muito que não tinha cara de igreja", conta Luciana, que diz ter usado como uma de suas referências a Capelania Militar do Oratório do Soldado, projetada pelo arquiteto Milton Ramos e inaugurada em 1974, com a ideia do espaço em forma de círculo. "Se a gente olhar a implantação, aqui tem uma via local que liga às outras quadras. A gente tinha essa ideia de atravessamento, por isso, de ser uma nave circular. Não tem uma relação frente e fundo, mas ela tem uma relação de transversalidade e de centralidade ao mesmo tempo", explica a arquiteta.

Luciana, Eder e André, com o aval do pároco, buscaram, desde o início, significar o nome da Paróquia "Sagrada Família", de forma a romper com os ideais tradicionais de igrejas góticas e barrocas, que têm, muitas vezes, uma planta em formato de cruz e uma relação hierárquica muito distante entre o sacerdote e os fiéis. "A gente queria que a assembleia ficasse próxima do padre e da celebração, nessa relação de acolhimento da sagrada família", ressalta Saboia.

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Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - Os arquitetos André Velloso (E), Luciana Saboia, Eder Alencar e Mariana Castro com o Pe. Américo Betta ao centro: idealizadores do projeto

O uso de vidros nas paredes teve como objetivo não perder a linda vista do planalto. "Quando chegamos aqui para ver o lote pela primeira vez, não tinha o viaduto, a gente podia ver mais o horizonte. É uma coisa que está muito presente no nosso olhar para a sociedade e para a arquitetura", afirma.

Construída em 2017, a paróquia, mesmo não totalmente finalizada, promove eventos religiosos, culturais e artísticos para a comunidade, que acompanhou de perto a transformação do que antes era uma casinha de madeirite até uma das importantes construções arquitetônicas da capital. No local, são realizados casamentos, eucaristias, festas juninas e uma semana de arte. O templo conta, hoje, com mais de 500 paroquianos, que se dedicam ao espaço como sua segunda casa. Da sua história, a paróquia carrega, além de pessoas, uma pequena horta e várias árvores frutíferas, plantadas e cuidadas com carinho pelo Padre Américo ao longo de suas duas décadas ali.

A iluminação que contorna o teto claro transmite a sensação de tranquilidade e pureza, que, protegidas pelo isolamento acústico do ambiente, transportam o visitante para longe do ruído dos carros que passam no Viaduto Catetinho. Ao olhar para os lados, é possível ver pelas janelas de vidros apenas o verde das árvores e o horizonte. A "nave", como é apelidada a paróquia por seu formato espacial, faz jus ao seu nome, ao levar quem está ali dentro para seu próprio lugar de paz.

Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -
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Premiações:

Mies Crown Hall Americas Prize for Emerging Practice (MCHAP) 2024: Outstanding Project —Chicago, Estados Unidos;

Mies Crown Hall Americas Prize (MCHAP) 2024: Projeto Nominado — Chicago, Estados Unidos;

Fondazione Frate Sole - VIII Premio Internazionale di Architettura Sacra 2024 : 2º Lugar — Pavia, Itália;

Revista Projeto 1º Prêmio Projeto de Arquitetura 2024: 1 º Lugar na Categoria Outras Tipologias — São Paulo, Brasil;

Archdaily Building of the Year 2024: 1º Lugar pelo Voto do Público na Categoria Arquitetura Religiosa – Portal Internacional com sede em Santiago, Chile;

Architizer A+Awards 2023: 1º Lugar pelo Voto do Público na Categoria Cultural - Edifícios Religiosos e Memoriais – Portal Internacional com sede em Nova York, Estados Unidos;

Archello Awards 2023: 1º Lugar na Categoria Edifícios Públicos - Edifícios Religiosos pelo Voto do Público – Portal Internacional com sede em Amsterdam, Países Baixos;

Archello Awards 2023: 1º Lugar na Categoria Edifícios Públicos – Edifícios Religiosos pelo Voto do Júri na Categoria Edifícios Públicos - Edifícios Religiosos – Portal Internacional com sede em Amsterdam, Países Baixos;

Colegio de Arquitectos del Equador — XXIII Bienal Panamericana de Arquitectura de Quito 2023: Finalista na Categoria Equipamentos – Quito, Equador;

Instituto de Arquitetos do Brasil — Mostra Nova Arquitetura de Brasília Prêmio Nauro Esteves: 3º Lugar na Categoria Projeto – Brasília, Brasil.

 

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