O clima era de comoção e saudade no velório e enterro de Eduardo Costa Macedo, de 15 anos, realizado ontem, no Cemitério Campo da Esperança no Gama. Cerca de 200 pessoas, entre amigos, familiares e conhecidos, compareceram para dar o último adeus ao jovem, que morreu eletrocutado ao encostar em um poste de luz no Centro Olímpico de Santa Maria. Vestidos com camisetas em homenagem ao adolescente, os presentes demonstraram tristeza e revolta, enquanto pediam justiça e cobravam por maior segurança nos espaços públicos.
Eduardo foi enterrado com as chuteiras usadas no dia em que sofreu a descarga elétrica que tirou a vida dele. Em uma cerimônia marcada pela união, quem compareceu se apoiava mutuamente em meio à dor. A mãe de Eduardo, Lene Cavalcanti, 46, foi a primeira a se aproximar do caixão. Aos prantos e de mãos trêmulas, a mulher lançou um último olhar ao filho. "A mamãe te ama. Eu virei todos os dias ficar com você. Não tem nada que alivie esse sentimento. Meu filho vai deixar muita saudade. Eu estou chorando hoje, mas vou lutar até o fim por justiça. Eduardo era um jovem cheio de sonhos e, infelizmente, essa fatalidade aconteceu", disse.
O momento marcou o auge da despedida ao adolescente. Aqueles próximos observavam os caixão ser depositado na terra, para então ser coberto por coroa de flores, selando de vez o trágico fim do jovem. Após as despedidas, balões brancos foram soltos ao céu como um último gesto de homenagem.
Horizonte da Dor
Desolado, o irmão da vítima estava perplexo com o ocorrido. Sentado próximo à capela, ele encarava o horizonte de lápides e flores de outros túmulos, enquanto a imensidão do cemitério parecia refletir a vastidão da dor que o consumia. Seus olhos, agora vazios, buscavam em vão uma explicação ao absurdo da perda. A cada passo em direção ao túmulo, a angústia se aprofundava, como uma ferida aberta a cada lembrança.
Luís Gustavo, 21, tentava assimilar a tragédia, encontrando conforto no namorado e na prima, os quais sentados juntos dele tentavam consolá-lo. "Ainda estou tentando assimilar tudo. Fica um sentimento de vazio muito grande. Meu irmão não vai mais voltar. É difícil aceitar isso. Resta fazer com que ele seja lembrado como o sinônimo de amor e alegria", disse.
Amizade interrompida
Entre os presentes, Marcos Magalhães, 18, não conseguia esconder a tristeza. Ele estava na partida de futebol na qual Eduardo morreu. Com os olhos vermelhos e inchados após chorar a morte do companheiro, ele ainda tinha vívido na memória o momento do acidente. "Era um irmão pra mim. Crescemos juntos. Toda vez que entrávamos em campo, dizia que éramos uma família. Vê-lo partir na minha frente foi inacreditável", afirmou.
O jovem relembrou o instante do choque. A princípio todos no local pensaram se tratar de um breve susto. No entanto, à medida em que a situação piorava, quem estava no local ficou cada vez mais aflito, tentando reunir esforços para salvar o garoto. "Minha ficha não caiu na hora. Pensei que ele ia acordar logo depois. Mas, quando o vi espumando pela boca, entrei em desespero e liguei a todos os familiares dele. Não conseguir aguentar direito a situação. Tudo aconteceu na minha frente", concluiu.
Estrela apagada
Além de familiares e amigos, também compareceram à cerimônia todos os 70 membros do time de futebol Estrela Vermelha, da igreja Ministério Internacional Eis-Me Aqui, do qual o menino participava havia dois anos. Todos compartilhavam o sentimento pelo companheiro de campo e falaram sobre o sonho que ele tinha de ser um grande jogador de futebol.
De acordo com o pastor e técnico do grupo, Gilson Ribeiro, 52 anos, Eduardo era um ótimo aluno e fará muita falta ao time. "Também sou pai. Estou sentindo falta dele. O treino nunca mais foi o mesmo sem ele e nem será. Era aquele menino motivador e que animava todo mundo, um exemplo de adolescente a ser seguido", contou.
O caso
O acidente aconteceu no último domingo, quando Eduardo jogava futebol com amigos no Centro Olímpico de Santa Maria. Durante a partida, a bola saiu de campo, e o jovem foi buscá-la. Ao retornar, ele encostou em um poste de luz e sofreu uma descarga elétrica.
O adolescente chegou a ser socorrido por uma equipe do Samu. Após tentativas de reanimação, ele foi levado ao Hospital Santa Marta, em Taguatinga, mas não resistiu a uma parada cardíaca e morreu no sábado.
A Polícia Civil investiga o ocorrido, e a Secretaria de Esporte e Lazer informou que notificou a empresa responsável para realizar um levantamento completo das condições dos postes em todas as unidades do Distrito Federal.
Em nota, a Secretaria de Esporte e Lazer informou que o poste não apresentava problemas aparentes Conforme a pasta, a empresa responsável foi notificada para verificar todos os equipamentos nos outros 12 COP do DF. O órgão garantiu que está prestando assistência à família do adolescente e reforçou o compromisso de revitalizar os espaços sob sua gestão.
O caso é investigado pela 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria), que aguarda o laudo pericial para determinar as causas do acidente e identificar possíveis responsáveis.
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