Exposição de negócios

Expo Favela Brasília promove o empreendedorismo de comunidades periféricas

Abordagens de mobilidade urbana, acesso a novas tecnologias e agentes de transformação casados com sustentabilidade deram parte do tom das discussões em palestras e workshops

A artesã Rosilene Castro, professora aposentada de TI, aos 56 anos, logo na entrada para o hall da segunda edição da Expo Favela Innovation Brasília demonstrava a força da proposta do evento organizado pela Central Única das Favelas (Cufa). "Sou negra, periférica e deficiente visual, com baixa visão. No Distrito Federal, a periferia e a favela acabam vistas como pertencentes às cidades satélites", avaliou a integrante do coletivo Mercado Su, de Taguatinga Sul. Ela foi um dos talentos que circulou no Sesi Lab, local que recebeu os dois dias do evento, que começou no sábado e terminou ontem.

Na Expo Favela, Rosilene Castro se orgulhava de promover reciclagem por meio de suas peças. É o caso das folhas decorativas criadas a partir da prensa de sacos de cimento. As cores usadas nos adereços vendidos acusavam origem: "tenho amigas que costuram com tecidos africanos trazidos de diferentes países; nisso, me dão os retalhos".

Ao promover pontes entre criadores e empreendedores da periferia com empresários conscientes, o evento no Sesi Lab buscou atrair 5 mil visitantes em dois dias de programação. Abordagens de mobilidade urbana, acesso a novas tecnologias e agentes de transformação casados com sustentabilidade deram parte do tom das discussões em palestras e workshops.

"Nossa perspectiva, com base nos dados do Censo, que mostram o aumento do número de moradores de favelas, e nos números da pesquisa Data Favela, que revelam que as favelas produzem e consomem cerca de R$ 180 bilhões por ano, é criar cada vez mais oportunidades, dar visibilidade e fomentar a economia local. Nosso objetivo é fazer com que os recursos gerados retornem para dentro das favelas. Queremos que grandes empresas e empresários enxerguem esses territórios não apenas como mão de obra barata, mas como potenciais espaços de inovação e empreendedorismo", observou o presidente da Cufa DF, Bruno Kesseler.

Shows musicais também marcaram o evento. Ontem, a apresentação da vencedora do concurso Brasília Independente 2024, Laady B, encerrou o evento. "Perdi o show do Benzadeus (no sábado), mas vim no domingo. Estou circulando na feira para levar indicações para meu irmão que está no ramo de confecções na Ceilândia. Gostei de ver uns produtos de origem natural e as xilogravuras", observou a estudante de pedagogia Julia Moreira, 24 anos, moradora do Riacho Fundo.

Ela estava acompanhada pela servidora pública Valéria da Silva, 33, que aproveitou a vinda de Goiânia para conferir a feira. "Nas fotografias dispostas na entrada, a gente vê que a periferia tem sua importância. De lá, vem uma variedade de criações e pessoas talentosas que se encaixam em tudo, com gostos e saberes que fogem do padrão", comentou Valéria.

Do brechó Nasty, em Samambaia, Matheus Bacelar, 26 anos, estava empolgado com a oportunidade de mostrar os produtos da loja na Expo Favela Innovation Brasília. "As experiências com a rua me levaram à observação da street wear: a moda de usar o que se gosta e o que nos deixa bonito. No brechó, temos cuidados com estética e com as estratégias de venda. O embrulho dos produtos remete a folhetos de mercado, garimpamos coisas que reafirmam a favela, mostram de onde vêm e se apropriam de uma expressão que, no passado, já foi pejorativa. Temos todo um trabalho de pesquisa", assegura Matheus, que trabalha ao lado do representante de comunicação Caio Almeida.

Brindes vintage e acabamentos de peça pop reforçam a expressão da Nasty, pelo que conta o empreendedor. Exemplos de criatividade não param: vão de linha de produtos criados com lençóis e toalhas de mesa estilizados, passando por ações inclusivas para costureiras, até parcerias com ONGs.

O artista plástico Bruno Matos levou suas xilogravuras à Expo Favela. "É um espaço com muitas trocas democráticas. Interagi bem com o público e aprendi a melhorar na negociação. Nos workshops, vi como me vestir, como falar com os clientes e como vender. Dá vontade de persistir", comentou Bruno. Entre as criações que ele apresentou, junto com a técnica da xilogravura, que aprendeu com o renomado Luiz Gallina, no Ateliê 8 do Instituto de Artes da UnB, o artista aproveitou para difundir os folhetos de literatura de cordel feitos em parceria com Maísa Arantes.

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