CRÔNICA DA CIDADE

Sergio Leo: Aceitem minha democracia aí, pô!

"Querem tolher nossa liberdade, meritíssimo! Sou vítima da censura, do autoritarismo, de quem quer calar nossa opinião! Não deixam nossas ideias se confrontarem pacificamente, depois reclamam quando a turma explode! Já faz um tempo, a gente bateu nela, sim, taokey? Mas ela pediu, meritíssimo! Extremista é ela! Estava armando contra mim!"

— Querem tolher nossa liberdade, meritíssimo! Sou vítima da censura, do autoritarismo, de quem quer calar nossa opinião! Não deixam nossas ideias se confrontarem pacificamente, depois reclamam quando a turma explode! Já faz um tempo, a gente bateu nela, sim, taokey? Mas ela pediu, meritíssimo! Extremista é ela! Estava armando contra mim!

— ...

— Veja você, meritíssimo, é verdade, minha turma entrou na casa dela, quebrou vidraça, derrubou coisa, rasgou o quadro do Di Cavalcanti (aliás, bem mal pintado, tudo deformado, uma afronta ao bom gosto da família brasileira, dos homens de bem), arrebentou cadeira... Mas sabe como é, o pessoal se entusiasma, aí pinta um clima, qualquer um perde a estribeira, não é mesmo? E a liberdade individual, onde fica? Tem de ver isso aí!

— ...

— Tudo bem, não precisavam ter usado a mesa de escritório como banheiro e sujado aquilo ali. Tem de dar um desconto, era gente cristã, patriota, de família. Quando viram a injustiça contra mim, fraude mesmo, exageraram. Quem nunca?

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— Ela era minha, meritíssimo! Como podia escolher outro? Subversão, senhor juiz. E eu já disse uma vez — aliás, várias vezes: subversivo, só apanhando!

— ...

— Sim, eu enviei vídeos aos amigos pedindo para ficarem acampados por perto; falei que eles tinham de sair à rua para mostrar que me apoiavam, contra o arbítrio, a perseguição, pô. Tenho uns amigos militares, sabe? Disciplina. Ordem e progresso. Deus, pátria, família; até insinuei que eles podiam intervir no lance, mas hoje em dia esse mundo está ficando muito chato, militar não pode nem sair do quartel para ajudar os amigos e lá vem mimimi. Os patriotas do acampamento até cobraram, mas, nem. Já não se faz militar como antigamente, pô.

— ...

— A questão é que ela estava nas mãos de gente imprestável, que falsifica coisas, senhor juiz. Resolveu botar outro para ocupar o lugar que me era de direito! Aí, só matando, prendendo, arrebentando! Aí eu digo: essa turma dos "direitos humanos" tinha de ser mandada para a ponta da praia...

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— Opa, desculpa aê, meritíssimo, me animei aqui, tá okey? Mas eu bem avisei a ela: não vem me acusando de atacar mulher, não! Não tem historinha de se vitimizar! É o tempo todo tentando fazer maldade, querendo me tirar de combate, me desgraçar! Aí tem de entrar na porr..., ops, desculpa aê, senhor meritíssimo.

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— Okey, seu juiz, vamos voltar aqui ao assunto, vamos ficar nas quatro linhas aê. A questão é a seguinte, seu juiz, tem de ver aí essa ideologia de gênero, essa ditadura que nem na Venezuela: se eu não posso nem falar e agitar o pessoal pra tirar a liberdade dela, como é que fica a MINHA liberdade? Aí vira comunismo, pô.

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