Nascida em Taguatinga, Karolyne Guimarães morou em uma casa de tábua alugada até a mãe ganhar do ex-governador Joaquim Roriz uma casa em Samambaia. Pouco mais de 20 anos depois, ela se formou em direito e conquistou o feito de ser a primeira mulher a ser administradora da região administrativa.
Hoje candidata à presidência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional Distrito Federal, a brasiliense relembrou sua história, contou os desafios para se tornar advogada e como foi o início da carreira em entrevista conduzida pelas jornalistas Ana Maria Campos e Adriana Bernardes, no Podcast do Correio.
"Até brinco com isso. Se eu for presidente de Ordem, serei a única que comeu terra, lama, poeira e bebi água de chafariz. Vivi minha infância em Samambaia, mas sempre ligada a Taguatinga, porque eu estudava lá", descreveu Karol, como gosta de ser chamada.
Aos 30 anos, a candidata à presidência da OAB credita às experiências como vendedora de brigadeiro, peças de carro e manicure a formação da maturidade para o cargo de administradora regional, que exerceu por dois anos.
"Eu conhecia a cidade na palma da mão, porque minha mãe pagava transporte escolar, e ele rodava por todas as ruas. Então, quando me tornei administradora, eu já conhecia tudo por lá", relatou. "Mais velha, eu trabalhava 10 horas por dia e, à noite, ia à faculdade. Pegava aproximadamente 6 ônibus por dia. Eu era um gravetinho, né?", pontuou Karol.
Por ser mulher e estar à frente de uma das maiores regiões administrativas, a advogada sofria preconceito constantemente. "Tinha homens na cidade que falavam que colocaram uma menina para administrar Taguatinga, faltavam cuspir na minha cara. Vivi situações muito sérias. Até as mulheres não aceitam que outras cheguem a cargos de poder. Houve situações em que fui para tratar sobre o estádio da cidade e a reforma dele e algumas pessoas falavam com o meu assessor, que estava do meu lado, e não comigo", relembrou.
Misoginia
Mãe de dois filhos, Clara e Davi, Karol contou como é dividir a vida profissional e a rotina materna — "uma tarefa muito difícil", ela sublinha. "Temos que cumprir prazo, ir em audiências, não temos uma licença-maternidade propriamente dita, a gente tem uma suspensão de atos processuais", descreveu.
"No meu caso, que advogo junto com o meu marido, foi até uma situação interessante. Pedi a suspensão de atos processuais e teve juiz que não concedeu, porque teria outro advogado no processo, o meu esposo", reforçou.
Ela relembrou que, em muitas ocasiões, colocou o filho na mesa, ou dormindo nos braços enquanto trabalhava. "Logo depois que ganhei meu filho, em 2021, tive que fazer audiências e diligências em Minas Gerais, num processo criminal, e realmente foi algo muito difícil. Cheguei lá e, no Fórum Lafayette, por exemplo, não tinha lugar para trocar ou amamentar minha criança. Para nós, mulheres advogadas, isso é muito difícil, e estar na política é mais ainda", observou.
Na avaliação de Karol, as advogadas criminalistas sofrem mais que os advogados da mesma área de atuação. Por ter iniciado uma carreira ainda muito nova, aos 22 anos, pôde sentir essa diferença na pele. "Na minha primeira audiência criminal, tráfico de drogas e associação criminosa, eu era advogada, tinha experiência na faculdade e no meu trabalho. Eu me deparei com um juiz que me mandou calar a boca. Aquilo para mim foi terrível", comentou.
Karolyne relata que outro caso ocorreu no ano passado, durante um tribunal do júri. "Um juiz me mandou calar a boca e me ameaçou de expulsar do júri. Então, depois de quase 15 anos advogando, ainda existem essas violações. Tem alguma coisa errada, isso que está acontecendo não está certo, não tem lógica", desabafou a candidata à presidência pela chapa A OAB que eu preciso.
"Passei por muitas dificuldades na minha vida, mas vi muitas coisas boas acontecerem, e várias pessoas me apoiarem. Minha tia Nadine é um exemplo; sempre investiu em mim, é a segunda mãe que eu tenho."
*Estagiário sob a supervisão de Ana Maria Campos e Patrick Selvatti
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