O Natal é uma das épocas mais esperadas do ano, principalmente para o comércio. Além do simbolismo, é também uma temporada importante para a economia do Distrito Federal, impulsionando também a geração de empregos temporários e circulação de renda. De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), o período deve registrar 7,7% de aumento nas vendas este ano, em relação a 2023. Um exemplo claro dessa movimentação é o trabalho dos papais-noéis em shoppings e comércios locais, que conseguem faturar até R$ 30 mil durante a época festiva.
Pedro Marcos Vilas Boas, 59, é um desses trabalhadores sazonais. Morador de Ponte Alta Norte, no Gama, ele foi para a reserva como subtenente da Polícia Militar do DF (PMDF) e, após 30 anos raspando a barba diariamente devido à profissão, mudou de visual. Isso chamou a atenção de uma vizinha, que o indicou para o trabalho de Papai Noel. "Ela perguntou se eu tinha interesse e me passou o contato de uma empresa que contratava pessoas para esse serviço. Fiz uma entrevista, gostaram da minha barba e quiseram me contratar. Mas só no ano seguinte, comecei como Papai Noel", conta Vilas Boas.
Apesar da nova experiência, ele hesitou no início, pois era acostumado ao ambiente de segurança pública e preocupado em não ter o perfil para lidar com crianças. "Achei que não conseguiria, pensava que era meio bruto para esse tipo de função, mas deu tudo certo, e estou há 12 anos fazendo isso", destaca.
Atualmente, Vilas Boas trabalha cerca de 50 a 60 dias como Papai Noel, divididos em dois turnos e, segundo ele, recebe entre R$ 20 mil e R$ 30 mil pelo serviço. Entre os pedidos das crianças, um especialmente o marcou: "Uma menina disse: 'Eu não quero brinquedo, só queria que minha mãe sarasse, porque ela está doente no hospital'. Aquilo me tocou profundamente", lembra.
Para ele, a renda extra é significativa, especialmente no período de fim de ano, com despesas adicionais. "Normalmente, no fim e começo de ano, você gasta mais, seja em viagens, IPVA, IPTU, essas coisas. Essa renda extra sempre ajuda", afirma.
De acordo com o presidente do (Sindivarejista-DF), Sebastião Abritta, a profissão de Papai Noel é essencial para o comércio, pois a "magia do Natal" atrai consumidores e aquece o mercado, sendo uma das principais datas em termos de vendas e lucros. "Para essa profissão, a pessoa precisa gostar muito do que faz e estar disposta a passar de seis a oito horas dentro de um shopping (ou de uma loja)", diz. Abritta estima que um Papai Noel ganha entre R$ 10 mil e R$ 15 mil por 45 dias de trabalho, o que equivale a cerca de R$ 150 a R$ 200 por dia.
Abritta conta que os lojistas estão preparados para receber os consumidores, com estoque reforçado e vitrines arrumadas dentro da temática. "Desde adultos até crianças, todos compram presentes. Por isso, os shoppings e lojistas investem no Papai Noel, nas festas familiares, nas visitas do 'Bom Velhinho'. Ele é o símbolo do comércio e da confraternização de fim de ano", pontua Abritta.
A mestre em economia Petra Duque aponta que a época sazonal sempre impulsiona a economia local, devido à injeção do décimo-terceiro salário, que estimula a população a gastar mais na data e faz a economia girar. "Além disso, de forma cultural, muitas pessoas esperam chegar o natal para poder presentear, o que faz sempre vender mais", estima a especialista.
Fraternidade
Com 15 anos de atuação como Papai Noel, o servidor público Edclay Figueiredo, 48, morador de Luziânia, vê a data como um momento especial. "O Natal é tudo de bom. É quando vivemos os sonhos de muitas crianças; mesmo que nem sempre possamos entregar presentes físicos, passamos a verdadeira mensagem do Natal: amor e fraternidade", ressalta.
Edclay relata que a maioria dos pedidos das crianças envolve brinquedos como bonecas e bolas, mas algumas histórias o marcaram. "Um garoto me pediu uma Bíblia certa vez, e fiz questão de comprar o presente. Outras crianças pediram para que os pais não se separassem ou para que um câncer fosse curado, desejos que me emocionaram profundamente", conta.
Para ele, o trabalho como Papai Noel não é apenas uma questão de renda extra. "Faço isso porque gosto. Meu cachê varia de R 8 mil a R$ 100 mil, dependendo do tamanho do shopping", explica. No entanto, ele menciona algumas dificuldades, como o calor das roupas e o tempo prolongado sentado. "Algumas pessoas ainda têm atitudes intolerantes por motivos religiosos", desabafa.
O ator Jessé Alves, 42, morador de Ceilândia, divide o tempo como Papai Noel em aparições em shoppings, eventos e até visitas a domicílio, contratado para alegrar as famílias na noite de Natal. A trajetória começou em 2018, quando foi convidado por uma companhia de teatro.
"Desde então, trabalho em todos os natais", conta ele, que deixou o emprego de gerente de supermercado e a carreira no marketing digital para se dedicar ao teatro e ao papel de Papai Noel. "Se trabalhar de segunda a segunda, consigo faturar em torno de 30 mil reais, mas é uma jornada intensa", comenta. Para ele, a experiência vai além do ganho financeiro. "Quando estou caracterizado, me transformo. As crianças fazem pedidos diversos, desde brinquedos até desejos de saúde", revela.
Tradição familiar
Há cerca de duas décadas atuando como Papai Noel, Abílio da Cruz Pinto, 81, morador do Valparaíso de Goiás, começou a carreira após trabalhar na roça e como eletricista. Realizando um antigo desejo, aceitou o convite de um amigo para se vestir de Papai Noel em seu comércio. Ele prefere não divulgar o valor dos rendimentos, mas diz que a renda que ganha no shopping, e fazendo aparições em casas de família na noite de Natal, é o suficiente para proporcionar boas viagens e momentos com a família.
O trabalho de Papai Noel se tornou uma tradição familiar para Abílio. A esposa, Gelcina de Paiva, 68, atuou como Mamãe Noel, e outros cinco netos e uma das filhas do casal também aproveitam a renda extra. "É um dinheiro que ajuda bastante, pois vem fora do orçamento. Mas faço isso por amor. Quando o Natal termina, fico esperando o próximo, porque essa época faz parte da minha história", conclui.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
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