A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) realizou uma investigação para desmantelar uma organização criminosa especializada no furto de cabos de transmissão de dados, de telefonia e de energia elétrica. A operação batizada de Power Cut, ocorrida nesta quinta-feira, cumpriu de 21 mandados de prisão preventiva e 48 de busca e apreensão, além de apreensão e sequestro de bens, incluindo o bloqueio de R$ 5,78 milhões nas contas dos investigados. Os suspeitos também são investigados por praticar lavagem de dinheiro. A ação foi coordenada pela Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri). Até o fechamento desta edição, 13 suspeitos estavam presos.
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Além dos ladrões, a operação mirou os receptadores, considerados peças fundamentais no esquema desses crimes. Entre os alvos principais da operação estão Vilmar de Lima Oliveira e Fabrício Rodrigues de Carvalho, apontados como os líderes e conhecidos da polícia. Eles estão foragidos. "Parte desses indivíduos é da mesma família. Um deles é o genro do outro, e ambos têm histórico policial", afirmou o delegado da Corpatri, Tiago Carvalho. A Polícia Civil também pede apoio da população para denunciar os criminosos, caso haja alguma informação que auxilie na captura dos suspeitos foragidos.
A organização criminosa utilizava estabelecimentos de reciclagem e ferros-velhos do DF para realizar a lavagem de dinheiro e comercializar o cobre subtraído dos cabos de energia. "Esses receptadores são verdadeiros empresários que utilizavam esses estabelecimentos para adquirir e revender o cobre furtado", ressaltou o delegado da Corpatri. Segundo Tiago, entre os 21 mandados de prisão, cinco são para os receptadores, identificados como empresários do ramo de sucatas, que facilitavam a receptação e venda do cobre furtado, processando o material para dificultar sua rastreabilidade.
O esquema era organizado em núcleos, segundo Carvalho. "Um desses setores era formado por indivíduos que recrutavam outras pessoas para executar os furtos. Temos áudios que demonstram como essas pessoas se juntavam com o propósito específico de cortar cabos", explicou. Ele ainda detalhou que alguns integrantes da organização não participavam diretamente do furto, mas atuavam coordenando as equipes envolvidas.
Outro núcleo importante era o dos receptadores, que transformavam o cobre furtado em matéria-prima comercial. "Esses indivíduos também eram responsáveis por queimar os fios de cobre antes de vendê-lo. O processo de queima é essencial para dificultar a identificação do proprietário original do cabeamento dificultando o rastreamento", explicou Carvalho. Durante a operação, foram apreendidos muitos quilos de cobre, que serão submetidos à perícia para determinação do valor exato do material apreendido.
O delegado conta ainda que o cobre é uma matéria-prima reaproveitável, por isso é furtado. "Além disso o material tem um valor alto mesmo no mercado clandestino. Ele acaba se tornando um objeto de subtracão pelos criminosos", destacou. Para Carvalho, supostamente, eles revendiam o produto para grandes metalúrgicas. No entanto, não há confirmação.
Esforço conjunto
Para o secretário de Segurança Pública (SSP-DF) Sandro Avelar, a união entre órgãos de segurança e a participação ativa da sociedade são fundamentais. "Esse esforço conjunto nos permitiu realizar uma operação de tamanha importância para a segurança do DF. Segurança pública é dever do Estado, mas é responsabilidade de todos", declarou. O chefe da pasta ainda ressaltou que a autoridades vão capturar em breve os suspeitos foragidos. "Aqueles que se sentiram aptos a fugir das mãos da Polícia Civil, nesse primeiro momento, é melhor se entregarem, porque vocês serão presos", afirmou.
Segundo o delegado-geral da PCDF, José Werick de Carvalho, a Operação Power Cut marca um avanço na luta contra crimes patrimoniais e a complexa rede de receptação e lavagem de capitais. A Polícia Civil ainda reforça o compromisso com a segurança pública e pede à população que contribua com informações sobre os envolvidos da investigação, cujo objetivo imediato é capturar os foragidos e prevenir novos crimes desse tipo.
Sandro Avelar destacou a importância do trabalho realizado e reforçou que, além dos furtos, os crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa agravaram a situação. "É importante que a sociedade compreenda que o tempo da investigação demanda um amadurecimento, para que, o momento da operação, seja feito de forma consistente. Essas pessoas estão sendo indiciadas por crimes muito graves. Organização criminosa e lavagem de dinheiro são crimes que demandam realmente uma forte repressão do Estado", afirmou.
Impacto
O delegado José Werick de Carvalho enfatizou o impacto que esses crimes têm sobre a vida da população. "A subtração de cabos de energia afeta atividades essenciais e a infraestrutura pública. Estamos alcançando os responsáveis por fomentar esse mercado ilícito, e a mensagem é clara: aqui em Brasília, o custo do crime é caro, e nós vamos chegar até os responsáveis", disse. Ele destacou também a importância do apoio da sociedade e das empresas na denúncia de atividades suspeitas.
Segundo o delegado Tiago Carvalho, a operação é o resultado de uma investigação que começou há cerca de um ano, quando os policiais identificaram uma série de crimes contra o patrimônio ligados ao furto de cabos, prática que impactou o fornecimento de energia em várias regiões do Distrito Federal, como Asa Norte, Guará e, até mesmo, prejudicou o metrô do DF. Esses crimes afetaram diretamente o funcionamento de hospitais, escolas e sistemas de transporte, além de deixarem residências e empresas vulneráveis. "Infelizmente, o fenômeno do furto de cabos afeta todo o Distrito Federal. Embora se trate de crimes de furto, o impacto pode ser grande, inclusive, com o risco de desligamento de UTIs e outros serviços essenciais", explicou o delegado.
Vítima
O engenheiro civil Hugo Borges Silva, 31 anos, é um dos que teve prejuízos com furto de cabos de energia. Ele trabalha com construção de rodoviárias, escolas, creches e relatou ao Correio que, inúmeras vezes, criminosos furtaram a fiação das edificações. "Constantemente esses furtos ocorrem, principalmente na fase final da obra, na véspera de entrega, às vezes algum feriado. O pessoal corta os cabos e rouba, mesmo com vigilância na obra, esse pessoal acha um jeito de dar uma burlada. Diversas vezes, atrasamos a entrega da obra por conta disso", relatou.
O engenheiro civil conta que somente na obra realizada para uma creche de Santa Maria o prejuízo foi de R$ 15 mil e que ele sempre tem que arcar com os furtos. "Infelizmente, temos que assumir e comprar novos cabos, nunca conseguimos que nossos contratantes arcassem com esse custo. É uma perda enorme de material, tempo e mão de obra", declarou.
Ocorrências
Neoenergia
2024 (janeiro a setembro): 195 ocorrências de furto de cabos na rede subterrânea
2023: 305 ocorrências
2022: 326 ocorrências
Prejuízo
2024 (janeiro a setembro): R$ 875 mil
2023: R$ 2,7 milhões
2022: R$ 1,7 milhão
CEB
2024 (janeiro a agosto): 479 casos
2023: 783 casos
Prejuízos
2024: R$ 1,2 milhão
2023: R$ 1,9 milhão
Metrô
12 de agosto de 2024: uma falha de sinalização causada pela tentativa de furto de cabos na região de Onoyama fez com que o metrô tivesse a velocidade reduzida a 20 km por hora. Com isso, o intervalo entre os trens foi dobrado no trecho Ceilândia, passando de 7min30 para 15min. A tentativa de furto ocorreu durante a madrugada. A equipe recuperou os cabos e conseguiu restabelecer o sistema de energia para iniciar a operação do metrô. Contudo, houve danos à rede de fibra óptica, cuja manutenção é mais complexa.
4 de maio de 2024: o metrô chegou a ficar parado por uma hora após um curto-circuito provocado por um fio jogado no trilho durante uma tentativa de furto de cabos. As equipes de manutenção conseguiram restabelecer a circulação em sua normalidade.
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