DESPEDIDA

Ailema Bianchetti : pioneira das artes e da educação

Artista plástica, gravadora e referência da arte-educação, Ailema Bianchetti morreu ontem, aos 98 anos, em decorrência de uma pneumonia

Pioneira da arte-educação em Brasília, gravadora e referência para toda uma geração de artistas, Ailema Bianchetti morreu ontem, aos 98 anos, em decorrência de uma pneumonia. Nascida em Lavras do Sul, no Rio Grande do Sul, em 1926, ela veio para Brasília em 1962 com o marido, Glênio Bianchetti, que aceitou convite de Darcy Ribeiro para dar aulas no curso de artes plásticas da então recém-fundada Universidade de Brasília (UnB).

Com Glênio, Ailema participou do Clube da Gravura de Porto Alegre, nos anos 1950, do qual faziam parte nomes como Glauco Rodrigues, Carlos Scliar, Vasco Prado e Danúbio Gonçalves. Em Brasília, com Maria do Socorro Coutinho, fundou o Cresça, uma escola de arte-educação que ajudou a formar gerações de artistas e professores. "A história da cidade começa também com a Ailema. Ela criou metodologias próprias e formou uma geração de arte-educadores, uma primeira geração", conta a crítica e curadora Renata Azambuja, que frequentou a casa de Ailema e Glênio durante toda a infância. "Naquele momento, arte-educador não era a mesma coisa que é hoje, não existia bacharelado, só a licenciatura, então, as pessoas eram formadas para serem professores, mas, ao mesmo tempo, artistas. O papel da Ailema não era só formar educadores, mas artistas que pensam a questão do ensino, da prática e da teoria, tudo junto. Ela agregou muita gente", recorda Renata.

Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press - 11/12/2014. Crédito: Ana Rayssa/Esp.CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Peças de arte da exposição do artista Glenio Bianchetti. Ailema de Bianchetti, viúva do artista plástico.

Para a crítica e professora Marília Panitz, o Cresça foi um divisor de águas na história da arte brasiliense. "O Cresça veio com a força toda, era um projeto de uma escola livre de arte dentro do espírito da educação expressionista", explica Marília, que começou a trabalhar na escola em 1980, como estagiária, e se tornou professora, lecionando até a venda da instituição para um grupo de educação, em 1990. Muitos nomes emblemáticos das artes na cidade passaram pela escola, incluindo Hugo Rodas, que teve no Cresça o primeiro emprego com carteira assinada no Brasil. "Ailema, para mim, é grande, uma pessoa rara, que tive o enorme prazer de conhecer muito jovem e aprender a trabalhar com ela. A gente desenvolveu laços afetivos muito fortes e uma cumplicidade", diz.

Utopia

Renata Azambuja destaca ainda a importância de Ailema na catalogação da obra de Glênio. Durante toda a vida, a gravadora ajudou a organizou o espólio intelectual e material do marido. "Poucas pessoas da geração dela têm tudo tão organizado. Ela, de uma certa forma, também foi produtora do Glênio, sempre teve um papel muito ativo de várias formas. E era uma voz sempre presente em todos os eventos. Até agora, mesmo em cadeira de rodas, estava participando, ia para cima e para baixo. E era uma pessoa que tinha opinião", observa.

Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press - 11/12/2014. Crédito: Ana Rayssa/Esp.CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Peças de arte da exposição do artista Glenio Bianchetti. Ailema de Bianchetti, viúva do artista plástico.

A escritora Ana Maria Lopes, que esteve com a família na manhã de ontem, lembrou que Ailema teve uma vida intensa. "Apesar de a gente saber que foi numa paz muito grande e viveu uma vida riquíssima intensa, viveu um grande amor com o Glênio, mas nunca à sombra, sempre produtiva", diz. O crítico de cinema Sérgio Moriconi também era uma espécie de agregado da família Bianchetti. Filho de uma professora de artes, ele define Ailema como uma das mentes pioneiras que topou a utopia de construir a cena artística da capital, na década de 1960. 

"Quando penso neles (Ailema e Glênio), é um pouco uma Brasília que conheci e vivi, muito próxima daquela utopia do projeto inicial de pessoas superinteressantes. É isso que ela representa para mim. Fazia parte desses pioneiros que vieram com um sonho utópico. Isso é o que mais dói quando vejo pessoas como ela desaparecerem, é como se fosse uma parte da cidade que acabou", lamenta.

Gustavo Moreno/CB/D.A Press - 14/05/2014. Crédito: Gustavo Moreno/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. A viúva Ailema Bianchetti, no acervo do pintor Glênio Bianchetti.

Ailema Bianchetti deixa seis filhos, 16 netos e seis bisnetos. Não haverá velório e apenas a família vai participar da cerimônia de cremação do corpo. Uma missa deve ser realizada durante a próxima semana, mas ainda não há data nem local definidos. 

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Zuleika de Souza/CB/D.A Press - Ailema veio para Brasília em 1962 com o marido, Glênio Bianchetti
Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press - 11/12/2014. Crédito: Ana Rayssa/Esp.CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Peças de arte da exposição do artista Glenio Bianchetti. Ailema de Bianchetti, viúva do artista plástico.
Gustavo Moreno/CB/D.A Press - 14/05/2014. Crédito: Gustavo Moreno/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. A viúva Ailema Bianchetti, no acervo do pintor Glênio Bianchetti.

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