Saúde

Febre maculosa será monitorada no Distrito Federal

Universidade Católica de Brasília (UCB) apresentou plano de trabalho que detalha como será desenvolvido o estudo sobre o fluxo de capivaras no DF e a presença da bactéria causadora da doença. Já foram confirmados cinco casos

A Universidade Católica de Brasília (UCB) apresentou, em 31 de outubro, o plano de trabalho que detalha como será desenvolvido o estudo sobre o fluxo de capivaras no Distrito Federal e a presença da bactéria da febre maculosa. O projeto, que é coordenado pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e conta com a participação da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), vai ajudar a decidir a melhor estratégia de manejo das capivaras em diferentes áreas da capital. O estudo tem custo total de R$ 1,5 milhão e será desenvolvido em três anos, a partir do ano que vem. 

Coordenadora do projeto, Morgana Bruno, da UCB, detalhou ao Correio o plano de trabalho. Segundo ela, serão seis eixos diferentes —  monitoramento, soroprevalência, análise genética de populações de capivaras, manejo, educação ambiental e comunicação. As equipes terão biólogos, veterinários e zoólogos acompanhando as capivaras em três áreas: Lago Paranoá, Parque de Águas Claras e Parque Ecológico Três Meninas.

"A soroprevalência será feita não somente em capivaras, mas em cachorros e cavalos. A gente vai coletar o sangue dos animais em uma época e, novamente, em outro período, para verificar se houve contato com a bactéria da febre maculosa e, caso sim, ter ideia da potência da infecção. Isso foi exigido no edital", sinalizou. A coordenadora explicou que, no âmbito da genética das populações, será possível descobrir se há capivaras vindo de outros lugares."Nós estamos ao lado do Goiás, que tem crise da doença. Descobrindo essas informações, haverá a possibilidade de tentar impedir o contato entre os animais e isolar possíveis áreas infectadas", disse. Os carrapatos também serão coletados e estudados para verificar a presença da bactéria. 

A coordenadora informou que há trâmites de documentação a serem feitos, por isso a previsão é de que o projeto seja iniciado, na prática, no início de 2025. Conforme os resultados das pesquisas forem descobertos, o Governo do Distrito Federal (GDF) poderá utilizar os indicativos para definir o que deverá ser trabalhado. "Há previsão de que, durante a execução do projeto, haja treinamento, palestras e oficinas para gestores e servidores do GDF. Foi formada uma comissão com funcionários do Ibram e da SES-DF, que acompanharão os estudos. O trabalho será integrado, com tudo sendo discutido entre as partes", apontou.

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Esse será o segundo estudo com capivaras e carrapatos no DF. Informações divulgadas na última pesquisa, em 2021, não deram conta de uma superpopulação de capivaras na orla do Lago Paranoá. O número de pontos com a presença dos animais variou, mas demonstrou que a ocupação está, na maioria dos meses, restrita a cerca de 25% dos pontos do lago. Além disso, as análises mostraram fraca relação entre a abundância de carrapatos e o local frequentado pelas capivaras na orla do Lago Paranoá.

Nas análises moleculares em amostras de carrapatos coletadas ao longo da orla, não foram detectadas bactérias transmissoras da febre maculosa brasileira (Rickettsia rickettsii), considerada a forma mais grave da doença. Entretanto, foi identificada uma bactéria não patogênica, da espécie Rickettsia bellii.

Recorrência

Até o momento, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) confirmou cinco casos de febre maculosa em 2024, sendo dois deles com infecção adquirida no DF. Dos 78 casos suspeitos, 45 foram descartados e 28 seguem em investigação. Em 2023, foram notificados 142 casos suspeitos da infecção no DF, porém todos foram descartados.

A febre maculosa, transmitida pela picada do carrapato-estrela, é uma doença infecciosa, febril aguda e de gravidade variável. Ela pode apresentar desde as formas clínicas leves e atípicas até formas graves, com elevada taxa de letalidade. Após 14 dias do período de incubação, o indivíduo tem sintomas como febre alta, dor de cabeça, dor no corpo, náuseas, vômitos e dores abdominais, conforme detalhou André Bon, infectologista do Hospital Brasília, da rede Dasa no DF. Do segundo ao quinto dia de doença, podem surgir manchas pelo corpo, pequenos pontinhos vermelhos, que se tornam discretamente elevados e confluentes.

"O paciente com suspeita de febre maculosa precisa iniciar o tratamento com antimicrobiano específico para a doença e fazer o teste diagnóstico para confirmação. O tratamento precisa ser feito logo no início, porque a febre maculosa é potencialmente grave, podendo evoluir para óbito", alerta o médico.

 

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Por dentro da febre maculosa

Sintomas:

  • Febre
  • Dor de cabeça intensa
  • Dor muscular constante
  • Náuseas e vômitos
  • Diarreia e dor abdominal
  • Lesões e feridas na pele (indicando o local da picada do carrapato)
  • Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés
  • Gangrena nos dedos e orelhas
  • Paralisia dos membros que se inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões, causando parada respiratória.

O que fazer em caso de suspeita

Nos casos em que uma pessoa alegar ter sido picada por carrapato sem apresentar sintomas, não recomenda-se o tratamento profilático. A orientação é observar o eventual aparecimento de sintomas dentro de um período de até 14 dias após o contato com o carrapato. Caso os sintomas apareçam, deve-se procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima e informar sobre a exposição ao parasita.

Prevenção

Aos frequentadores de parques e trilheiros, recomenda-se o uso de camisas com mangas longas, calçados fechados e calça comprida com a parte inferior dentro das meias, todos de cor clara para facilitar a visualização dos carrapatos. Após a utilização, todas as peças devem ser colocadas em água fervente para eliminar possíveis parasitas.

Evite o acesso a áreas de infestação de carrapatos (não sentar, não deitar e não entrar nas vegetações das margens de cursos d´água).

Evite passeios com animais domésticos em locais sabidamente infestados de carrapatos, para reduzir o risco de dispersão dos parasitas nas residências.

Uma vez fixado ao hospedeiro, um carrapato infectado leva em torno de quatro a seis horas para transmitir riquétsia. Assim, quanto mais rápido ocorrer sua retirada do corpo, menor será o risco de contrair a doença. O hábito de vistoriar o corpo a cada hora é indicado.

A retirada dos carrapatos deve ser realizada com o auxílio de uma pinça, com pequenas torções para a direita e esquerda a fim de promover a retida de todo o animal.

É contraindicado utilizar calor (fósforos, por exemplo) para retirar os parasitas, assim como métodos que possam perfurá-los, comprimi-los ou esmagá-los, evitando-se a eliminação de secreções e excreções que possam conter patógenos.

A população e serviços de saúde deverão enviar carrapatos que estavam aderidos ao corpo a um dos Núcleos Regionais de Vigilância Ambiental em Saúde ou à sede da Diretoria de Vigilância Ambiental em Saúde para identificação dos espécimes. Recomenda-se o acondicionado da amostra em recipientes contendo álcool isopropílico, sempre que possível.

Em caso de dificuldades na retirada ou frente à ocorrência de sintomas, especialmente febre, procurar o serviço de saúde mais próximo informando a exposição ao carrapato.

Fonte: SES/DF