Saúde

Distrito Federal registra menos diagnósticos de Aids em 10 anos

Medicamentos oferecidos gratuitamente pelo SUS para prevenção e tratamento diminuem a infecção pelo HIV e garantem a qualidade de vida de pacientes, evitando a evolução para a doença. Entre 2013 e 2023, houve redução de 44,9% nas mortes

 Vicky Tavares é coordenadora da ONG Vida Positiva, que acolhe pessoas que contraíram o vírus HIV -  (crédito:  Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
Vicky Tavares é coordenadora da ONG Vida Positiva, que acolhe pessoas que contraíram o vírus HIV - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Por Bruna Puxis e Fernanda Cavalcante*

Este ano, no Dia Mundial de Luta Contra a Aids, celebrado em 1º de dezembro, o Distrito Federal comemora os avanços científicos que promoveram esperança para os infectados com o vírus HIV. De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre 2013 e 2023, o número de casos de morte no DF diminuiu em 44,9%, redução que pode ser relacionada à introdução da Profilaxia Pré-Exposição (PrEp), de forma gratuita, pelo Sistema Único de Saúde (SUS) — uma estratégia que consiste na administração de medicamentos contínuos a pessoas que se sentem mais suscetíveis a uma infecção. Entre 2018, quando o fármaco passou a ser disponibilizado, e 2022, meia década de presença nos postos, os novos casos de infecção na capital passaram de 735 para 674, o que representa 8,3% a menos e uma vitória no combate à doença.  

A faixa etária mais afetada na capital é de 20 a 29 anos, representando cerca de 32,9% dos casos. A testagem e o tratamento precoce são essenciais para melhorar a qualidade de vida dos infectados. As estratégias de prevenção evoluíram de maneira significativa nos últimos anos e objetivam atender a diferentes públicos, especialmente as populações mais vulneráveis. 

"A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) tem sido uma das ferramentas mais eficazes na redução das taxas de infecção por HIV, especialmente entre populações-chave e prioritárias. Ela oferece uma proteção significativa contra a transmissão do vírus, quando utilizada corretamente, complementando outras estratégias essenciais, como o uso de preservativos e testagens regulares", informou a infectologista Evelie Vale, professora do curso de medicina do Ceub. 

 29/11/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades.  Dezembro Vermelho: mês de luta contra a Aids, HIV e outras ISTs.
29/11/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Cidades. Dezembro Vermelho: mês de luta contra a Aids, HIV e outras ISTs. (foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Além da PrEp, há a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP), que deve ser utilizada após qualquer situação em que exista risco de contágio, tais como violência sexual, relação sexual desprotegida ou, ainda, acidente ocupacional. Por ser uma urgência médica, deve ser iniciada o mais rápido possível — preferencialmente nas primeiras duas horas após a exposição e no máximo em até 72 horas. A duração da PEP é de 28 dias e a pessoa deve ser acompanhada pela equipe de saúde.

A PrEP, a PEP e os medicamentos estratégicos para pacientes com HIV são disponibilizados gratuitamente à população pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal que, em parceria com o Ministério da Saúde, desenvolve o programa de HIV/Aids.

Dezembro vermelho

Uma pessoa com HIV não necessariamente tem Aids, mas, sem tratamento, a infecção pode evoluir para o quadro, segundo Manuel Palácios, médico infectologista do Hospital Anchieta. O tratamento com terapia antirretroviral — que hoje não impõe ao paciente um coquetel com vários medicamentos — previne a progressão da doença e melhora a qualidade de vida dos pacientes. "O diagnóstico precoce e o tratamento contínuo com antirretrovirais permitem que pessoas vivendo com HIV mantenham uma vida longa, saudável e sem evolução para a Aids", ressalta.

Apesar dos avanços significativos no tratamento e na prevenção da doença, o estigma e o preconceito continuam a ser barreiras significativas para aqueles que convivem com o vírus. Muitas pessoas diagnosticadas ainda enfrentam discriminação não apenas em suas comunidades, mas também em ambientes de trabalho e até mesmo dentro de suas próprias famílias.

Desde 2017, o mês de dezembro conta com a cor vermelha para representar a campanha instituída pela Lei nº 13.504/2017, que representa uma mobilização nacional na luta contra o HIV, a Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). A iniciativa inclui atividades, como a iluminação de prédios públicos em vermelho, palestras educativas e eventos de conscientização. 

A iniciativa nasceu de uma proposta da ONG Vida Positiva feita a deputada federal Erika Kokay (PT-DF). Fundado em 1º de dezembro de 2006, o instituto se dedica à defesa dos direitos de pessoas que vivem com HIV/Aids, focando na superação do preconceito e da discriminação. Atualmente, 27 crianças e jovens são atendidos em sua casa de apoio e quase 300 famílias são assistidas com cestas básicas e roupas. Recentemente, a entidade inaugurou a Sala de Apoio e Orientação Sociofamiliar, oferecendo serviços como psicologia e assistência jurídica.

A fundadora e coordenadora da entidade, Vicky Tavares, 72 anos, destaca a importância de combater o preconceito e a falta de informação sobre a doença. "A decisão de fundar o instituto partiu da perda de um grande amigo que era soropositivo. Aqui é um espaço dedicado à promoção do bem-estar emocional e à valorização da vida. Visto que muitas pessoas enfrentam o preconceito que envolve o afastamento até mesmo de pessoas próximas", declara. "Buscamos não apenas apoiar aqueles que estão passando por momentos difíceis, mas também promover uma cultura de empatia e compreensão. É fundamental que possamos falar abertamente sobre nossas emoções e experiências, sem medo de julgamentos", completa.

*Estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti

 


Diferentes estratégias

É importante reforçar que a PrEP e a PEP fazem parte das estratégias de prevenção combinada do HIV. Dentro do conjunto de ferramentas da prevenção desta e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), inserem-se também:

» A testagem para o HIV oferecida nas unidades de saúde da rede pública;

» O uso regular de preservativos (que são distribuídos gratuitamente);

» O diagnóstico oportuno e o tratamento adequado de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs);

» A redução de danos e o gerenciamento de vulnerabilidades;

» A supressão da replicação viral pelo tratamento antirretroviral;

» As imunizações contra hepatites virais.

Correio Braziliense
postado em 30/11/2024 09:00
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