Os impactos da inteligência artificial no mercado de trabalho atual e para as profissões futuras foram discutidos com Carlos Jacobino, presidente do Sindicato das Indústrias da Informação do Distrito Federal (Sinfor-DF). Às jornalistas Sibele Negromonte e Jaqueline Fonseca, no programa CB.Poder — parceria entre o Correio e a TV Brasília —, de ontem, o convidado também falou sobre o evento Brasília TI, que começa hoje e vai até quinta-feira.
Qual o desafio de lidar com a inteligência artificial?
Estamos vivendo uma revolução, e ela pode ser vista no dia a dia e nas mudanças na vida das pessoas. Tivemos, em pouco mais de um ano, mais de um bilhão de pessoas no mundo se conectando ao ChatGPT, que foi uma grande revolução. Atualmente, todo mundo conhece o ChatGPT, seja um adolescente que o utiliza para ajudar nos trabalhos da escola — inclusive, há muita polêmica em relação a isso — seja um profissional, como um jornalista, que recorre à ferramenta para ganhar produtividade — e também há polêmicas em relação a isso.
O que temos de inteligência artificial em nosso cotidiano que o senhor pode destacar?
Temos várias aplicações. Por exemplo, no campo da saúde, com a melhora dos diagnósticos nessa área. Há casos de sucesso em que a IA processa imagens para ajudar no diagnóstico baseado em exames como radiografias, tomografias, entre outros. A acurácia na avaliação e na antecipação de doenças tem sido, em muitos casos, superior à de especialistas humanos. A inteligência artificial é excelente para executar atividades específicas, mas ela ainda não tem a capacidade igual à do ser humano, de fazer várias coisas ao mesmo tempo.
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O senhor disse que a IA ainda não substitui a criatividade humana, mas a partir do momento em que ela realiza algumas atividades pelos humanos, isso não limita um pouco a nossa criatividade?
Temos mais de um caminho a avaliar. O primeiro deles é o seguinte: na maior parte das vezes, o ser humano, esse ente criativo, está com boa parte do seu tempo sendo gasto em atividades rotineiras e repetitivas, o que não ajuda em nada na criatividade. Por exemplo: se eu puder transferir para uma máquina a carga de tempo que um professor gasta corrigindo provas, ele poderá elaborar um plano de aula melhor, criar uma aula que seja mais cativante para os alunos. A IA, atualmente, serve como uma ferramenta para aumentar a produtividade e para trazer novas competências. Isso é uma ferramenta que apoia a criatividade e não tolhe a criatividade das pessoas.
A inteligência artificial vai tirar o emprego das pessoas?
Não acho que a IA vai substituir empregados. Acredito que os profissionais serão substituídos por aqueles outros profissionais que dominam a inteligência artificial. Porque, hoje, a grande dificuldade na utilização dessas ferramentas para ganho de produtividade não está em saber que existe a IA, mas em saber como escrever o prompt, que é a linguagem técnica utilizada para descrever o comando que será dado para a IA.
Como o mercado, não só de trabalho, mas educacional, precisa se adaptar para esse processo que é tão rápido?
É um grande desafio, mas, como qualquer mudança que acontece, o currículo educacional também precisa ser adequado. No estado do Piauí, inseriram a inteligência artificial na grade dos estudantes do ensino médio como matéria obrigatória, para que os alunos possam estudar e entender as bases da inteligência artificial, a parte matemática, estatística multivariada, machine learning — que, em inglês, significa aprendizado de máquina — IA generativa, entender como é e como funciona, além de como essas ferramentas podem ser utilizadas. Isso não está na grade técnico-profissionalizante, mas na grade comum.
Começa amanhã o evento Brasília TI. Pode falar um pouco sobre ele?
O foco desse evento é a vanguarda da tecnologia em várias áreas e temáticas. Este ano, estamos com uma temática muito forte de sustentabilidade e inteligência artificial aplicada a várias áreas. Dentro do evento, vamos ter a inteligência artificial e os seus impactos sendo discutidos, por exemplo, na relação do trabalho; haverá ministros do TST, vários juízes e especialistas, tanto de tecnologia quanto de direito do trabalho, discutindo essa temática. Teremos uma palestra magna com Melissa Webster, que é uma das co-criadoras do ChatGPT. Serão três dias de evento no Ulisses Guimarães, iniciando amanhã e terminando na quinta-feira, com o nosso tradicional Prêmio Sinfor de Tecnologia, um prêmio nacional que está na 13ª edição.
Veja o programa na íntegra
*Estagiário sob a supervisão de Eduardo Pinho