UM PRESENTE, POR FAVOR

Os desejos natalinos de quem vive no Lar do Velhinhos Maria Madalena

A entidade, no Núcleo Bandeirante, realiza campanha para presentear os moradores em situação de vulnerabilidade. Doações de itens básicos podem ser feitas o ano todo

Dona Maria José quer estar na moda no Natal -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Dona Maria José quer estar na moda no Natal - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Natal é uma oportunidade de olhar ao redor e perceber que pequenos gestos podem transformar vidas, especialmente daqueles que, muitas vezes, sentem-se esquecidos: os idosos que vivem em abrigos. É a oportunidade de realizar desejos simples, como o de Evangelina Alves, que quer um sapato número 36, "bonito". A idosa de 82 anos nasceu em uma fazenda no interior do Ceará e, aos 21, mudou-se para Brasília após o falecimento de seus pais, com o objetivo de cuidar do irmão que estava debilitado. Ela conta que nunca casou ou teve filhos e hoje vive no Lar dos Velhinhos Maria Madalena, que promove anualmente a campanha "Adote um Idoso", com o objetivo de alegrar o Natal dos moradores da instituição. 

"A ideia é fazer com que os idosos se sintam lembrados ao receberem os presentes. Perguntamos o que eles gostariam de ganhar e elaboramos uma lista com duas ou três opções para cada um e divulgamos para quem deseja apadrinhar. Após a escolha, o presente deve ser entregue até uma data específica, para que possamos distribuí-los durante a nossa ceia de Natal, em 25 de dezembro", explica Lilian Carvalho, coordenadora de captação de recursos do asilo.

Bem arrumados e cheirosos

O jornalista aposentado Antônio Carlos Maluf, 83 anos, contou ao Correio que já ganhou um presente de Natal este ano: seu sexto neto nasceu há duas semanas. Isso não impede de desejar, ainda, uma camiseta polo tamanho G "para andar mais arrumado". Maluf é de origem mineira e se mudou para Brasília aos 74 após perder sua visão. "Vim para cá para ficar mais perto da minha filha, que mora aqui, e da minha ex-mulher, que, apesar de ex, continua sendo minha amiga", comenta.  

  • Dona Maria José quer estar na moda no Natal
    Dona Maria José quer estar na moda no Natal Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Dona Evangelina, 82 anos, deseja ganhar um sapato número 36
    Dona Evangelina, 82 anos, deseja ganhar um sapato número 36 "bonito" Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Dona Maria da Conceição quer ficar cheirosa
    Dona Maria da Conceição quer ficar cheirosa Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • O pedido de Seu Antônio Maluf é uma camisa polo G
    O pedido de Seu Antônio Maluf é uma camisa polo G Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Seu Vicente Aguiar quer ser presenteado com perfume
    Seu Vicente Aguiar quer ser presenteado com perfume Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Um vestido longo e sem estampas é o que a idosa Maria José Ferreira, 82, deseja ganhar. Nascida no interior de Minas Gerais, Zezé como é conhecida, mudou-se para o Distrito Federal por causa do seu marido, que veio para a capital procurar emprego. Ela trabalhou a vida inteira como costureira e diz ter nascido com um dom. "Desde criança que eu corto e costuro, lembro de costurar minhas bonecas de pano e, aos 12 anos, ganhei a primeira tesoura do meu pai. Foi uma alegria" relembra. A idosa teve filhos com seu marido, mas afirma que não mantém contato com nenhum deles.

Vicente Aguiar e Maria Conceição, carinhosamente chamada de Atarcilia pelos colegas, desejam ganhar perfumes neste Natal. Embora não tenham especificado a fragrância, deixaram claro que gostariam de algo bem cheiroso. Vicente também é natural do interior do Ceará e veio para a capital trabalhar como pedreiro. Maria Conceição, por sua vez, nasceu no Distrito Federal, no Gama, e conta que recebe visitas dos seus filhos, às vezes. "O Natal é um pouco corrido para eles, então, não é sempre que nos vemos nesse feriado, mas eles costumam me visitar", destaca. 

A campanha terá início nesta semana e, para participar, é necessário entrar em contato com o lar pelo número (61) 98539-5962 e escolher o idoso que deseja apadrinhar. Os presentes devem ser entregues até 18 de dezembro. Além da ação, o grande bazar de fim de ano será em 6 e 7 de dezembro na instituição, com itens disponíveis a partir de R$ 1. A entrada no bazar será organizada por ordem de chegada.

Campanhas mensais

O Lar dos Velhinhos é uma das instituições sem fins lucrativos mais antigas do Distrito Federal. Fundado em 1980 por Jorge Cauhy Júnior em parceria com a comunidade espírita do Centro Espírita Sebastião, o local, atualmente, abriga 92 idosos e conta com quase 200 colaboradores, incluindo cuidadores, técnicos de enfermagem, equipe de limpeza, manutenção e cozinha. A instituição é mantida por meio de um convênio com a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), que assegura a transferência de recursos financeiros. No entanto, esses recursos são insuficientes para cobrir todas as despesas, o que torna essencial a realização de campanhas e doações para complementar o orçamento e garantir o bem-estar dos moradores.

"Nosso termo de convênio cobre apenas parte das despesas, por isso realizamos campanhas mensais para suprir as necessidades do estoque. Essas campanhas incluem arrecadação de fraldas geriátricas, medicamentos, leite, arroz, feijão e outros alimentos", explica a coordenadora Lilian Carvalho. Ela ressalta que as maiores necessidades da instituição são as fraldas e os alimentos. Na entrada do abrigo, há  um espaço chamado Cantinho de Doação, onde qualquer pessoa pode deixar contribuições, todos os dias da semana, em qualquer horário. "Também aceitamos roupas, móveis, itens de decoração e utensílios domésticos, que são utilizados em bazares, como o grande bazar de fim de ano, para ajudar na arrecadação de recursos para a instituição", acrescenta.

O local oferece uma rotina estruturada para os idosos, com atividades que promovem distração e bem-estar. "Servimos seis refeições diárias para os residentes. À tarde, recebemos visitas, organizamos passeios e participamos de eventos no Centro de Convivência do Idoso. Essas atividades são essenciais para estimular a interação social, algo que eles valorizam muito", explica Lilian.

A coordenadora destaca que muitos idosos sentem falta de visitas e convivência. "Contamos com a ajuda de diversos grupos voluntários, o que faz uma grande diferença. Embora alguns familiares visitem, a maioria dos nossos residentes está aqui devido a situações de vulnerabilidade ou violência, que resultaram no rompimento dos laços familiares. Outros têm famílias que vivem longe ou não mantêm contato. Cada história é única, e muitos acabam encontrando aqui um novo círculo de convivência e cuidado", relata Lilian.

 

postado em 24/11/2024 06:06 / atualizado em 24/11/2024 09:33
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